RAFAEL MARTINELLI

Só a mulher salva o país da maldição da extrema direita

Associo-me ao jornalista Xico Sá, em seu artigo Só a mulher salva o país da maldição da extrema direita, publicado no ICL Notícias. Dependesse o Brasil e o planeta apenas da testosterona reaça e do rancor da macharada, só restaria o “apocalipse now”, como escreve.

Sigamos no texto.

Só as mulheres salvam. Só as mulheres salvam o Brasil e o mundo do fascismo da extrema direita. Repare nos dados da eleição de Lula em 2022, mire-se na macharada que impulsionou a candidatura de Donald Trump nos EUA, preste atenção no contingente feminino que livrou agorinha a Alemanha de um triunfo mortal da AfD — o partido da herança nazista.

Só a mulherada tenta adiar, teimosamente, o fim do mundo. Vide as estatísticas eleitorais, repare as fotografias das manifestações, abra a venta e sinta de onde vem o cheiro da coragem. A depender do voto macho, é apocalipse now,  queima todo o planeta nas chamas da crise climática.

A depender da macharada, é anistia para os piores porcos chauvinistas do Brasil, como um ex-presidente golpista que grava vídeo na praia babando ódio para mulheres que ele trata como “feias e incomíveis”.

Se não fossem as “vadias”, como essa gente fascista define as mulheres livres, estaríamos ferrados — mais ainda do que no atual cenário de desastres intercontinentais.

Dependesse o Brasil apenas da testosterona reaça e do ressentimento da macheza, propostas como o perdão aos golpistas passariam lisas nas ruas e nas casas parlamentares.

Foi contra esse delito que a atriz potiguar Alice Carvalho e a cantora carioca Anitta puxaram o coro “Sem Anistia”, no Carnaval de Salvador, no ritmo do trio elétrico do BaianaSystem, a maior manifestação política do país dentro da folia momesca.

Ali no mesmo chão da praça onde rolou o manifesto “Balacobaco” de Alice e Anitta, Maria Felipa de Oliveira, marisqueira e pescadora do século XIX, liderou centenas de negros e indígenas (tupinambás e tapuias) nas batalhas contra tropas portuguesas para conquistar, em 1823, a Independência da Bahia. Heroína nacional de responsa.

E assim um mar de histórias por todo o país. Mire-se no exemplo de Marietta Baderna (1828-1870), bailarina de origem italiana cujo emblemático sobrenome deu origem à palavra baderna, sinônimo de luta anarquist e agitação no Rio do século XIX.

Lembre-se de Bárbara de Alencar (1760-1832), primeira presa política do Brasil. Heroína do Crato que se aliou à Revolução pernambucana de 1817 e fez da cidade do Cariri uma República independente.

Pense em Patrícia Galvão, Pagu! Já aos 15 anos, nos anos 20, a jornalista e escritora paulista mostrou ao que veio. Escrevia textos comuno-anarquistas e andava na contramão das modinhas femininas.

Luz Del Fuego, presente. Eis a artista capixaba Dora Vivacqua, aquela da bandeira do naturismo – todo mundo nu!, bradava em todos os lugares — e zelou pela causa das vadias até a morte, em 1967.

Louvemos também Leila Diniz, que bagunçou a crônica de costumes no Rio dos 1960/70.

Toda mulher é assim meio Leila Diniz, como canta a Rita Lee, a artista da Pauliceia Desvairada. No que faço ligação direta com Rê Bordosa, imortal personagem de Angeli que saiu das páginas da “Chiclete com Banana”, na SP dos anos 1980, para entrar na história das libertárias da porraloquice.

E é justamente a nossa digníssima punk de SP que passa o bastão para Dercy Gonçalves, aqui homenageada pelo conjunto de uma obra de escrachos. Um poema sujo de saias. Fluminense da cidade de Santa Maria Madalena, morreu no Rio, em 2008, com 103 anos.

E chega na roda Aracy de Almeida. Palmas para a “Dama do Encantado” (1914-1988) que ela merece. Araca! Milhões de mangos para a cantora extraordinária.

Chega mais Hilda Hilst, outra moça nada nada comportada. Nasceu em Jaú (SP), em 1930, e morreu em Campinas, em 2004. Gênia da escrita. Na ficção, na poesia, na crônica e no teatro. Todo homem tem que pagar pau para ela, como se diz no City Bar campineiro.

E olhe lá o pioneirismo de Maria Firmina dos Reis (1822-1917), maranhense de São Luis, a primeira romancista negra do Brasil.

Seguimos com Sônia Guajajara, Marina Silva, Clarice Lispector, Eliana Alves Cruz, Mestra Cacique Pequena, Dilma Rouseff, Carolina Maria de Jesus, Tia Ciata, Clementina, Elza Soares, Sueli Carneiro, Marilene Felinto, Socorro Acioli, Jarid Arraes e a poesia pedra-sem-caminho da genial sergipana Maria Beatriz Nascimento (1942-1995).

Olhai o que brotou dela no campo: Margarida Maria Alves, a paraibana que comandou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, brutalmente assassinada pelos coronéis do latifúndio em 1983, aos 50 anos.

E viva Eunice, Clarice e Thereza, três mulheres do Brasil que viveram a tragédia de companheiros assassinados pela Ditadura. Eunice (Rubens Paiva), Clarice (Vladimir Herzog) e Thereza (Manoel Fiel Filho). Nunca calaram, mesmo sob os coturnos dos militares.

Por último, Maria da Penha, a mulher que virou lei. Vítima de um marido criminoso e atualmente sob a mira da extrema direita brasileira — diversos canais tentam recontar a sua trajetória como se a brava cearense fosse a culpada pela violência que sofreu. Típica covardia dos fascistas.

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