Os mais observadores flagraram uma Cruz de Lorena igual a de Gravataí na mesa do agora ex-ministro da Cultura, Roberto Alvim, demitido pelo presidente Jair Bolsonaro após citar trechos de discurso do ministro da Propaganda do governo de Adolf Hitler, Joseph Goebbels, um dos principais líderes do regime nazista e entusiasta do Holocausto, ao lançar o controverso Prêmio Nacional das Artes.
Mas, é um ‘símbolo nazista’ a obra confeccionada pelo artista plástico Hermes José Vega Costa, o Ferreiro Veja, em cerca de 120 quilos de ferro, e instalada na avenida Centenário no dia 12 de abril de 2019, para comemorar os 256 anos de Gravataí?
Não.
Como mostra pesquisa de Otávio Augusto, para o Metròpoles, “o amuleto religioso é símbolo da Paixão de Cristo, de honra e fé. A cruz é originalmente heráldica, ou seja, ligada a brasões de armas ou escudos. A Cruz de Lorena simbolizava que os Duques de Lorena, na França, eram duplamente cristãos: por serem príncipes de um Estado cristão e como os conquistadores de Jerusalém. O símbolo também é usado na maçonaria, como uma representação cristã da resistência e da honra da fé”.
O pesquisador observa que, “no Twitter, Alvim se identifica como cristão, com a seguinte frase: “Deus vult”, que significa Deus quer, em Latim. A frase foi o grito de guerra quando o papa Urbano II declarou a Primeira Cruzada no Concílio de Clermont, em 1095. À época, a Igreja Ortodoxa pediu ajuda ao ocidente para interromper a expansão islâmica do Império Seljúcida na Anatólia, frase que seria repetida por toda a Europa”.
Em uma descrição mais ‘metafísica’, “no século XIII, um rei mouro obrigou um sacerdote prisioneiro a celebrar uma missa. O sacerdote, no momento de celebração da missa, não conseguiu falar e respondendo às inquietações do rei, explicou que não conseguia falar porque lhe faltava a santa cruz. Diante da situação, dois anjos desceram do céu trazendo a cruz de quatro braços. Com o suposto milagre, o rei mouro converteu-se ao cristianismo”.
Em Gravataí, a Cruz de Lorena simboliza a ‘Cruz Missioneira’, com o objetivo de resgatar e valorizar a presença dos índios guaranis, vindos dos Sete Povos das Missões, na formação do município, como explica uma revista ilustrada e um documentário, encomendados pela Prefeitura para contar a saga do povo guarani em seu deslocamento das Missões e a instalação na Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos.
Na inauguração da Cruz, o prefeito Marco Alba (MDB) explicou:
– Estamos resgatando e reafirmando um aspecto fundamental da origem da nossa cidade que é a presença do índio guarani, o índio missioneiro, na formação do povoado da Aldeia da Nossa Senhora dos Anjos, em 1763, e que em 1880 com a emancipação política e administrativa passaria a ser o município de Gravataí.
– Nosso Estado traz a marca do trabalho e fé do povo missioneiro, e Gravataí tem esse legado que é o mesmo que estabeleceu a matriz social do povo rio-grandense. A partir de agora, mais do que nunca, estamos irmanados com os Sete Povos das Missões.
Para conhecer a história de Gravataí, e a relação com os jesuítas, recomendo a série de reportagens produzida para o Seguinte: pelo jornalista Eduardo Torres, e publicada no ano passado. Posto os links abaixo do vídeo.
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