Não faço mais sonetos, falta motivação
Inicio um verso, logo paro, deixo de lado
Vou fazer outra coisa, sem musa, o fogão
Me chama, ponho estrofes no refogado
Que pena tal inércia, ausência de astúcia
O teclado assemelha esteira ergométrica
Abandonada, ideias flácidas, translúcida
Apatia, cadê a verve digital, epidérmica?
Lá fora praia cheia, avesso dum quitinete
desleio livros, plantas desregadas, ânimo
nulo, saudade dum poema feito a letraset
Vinte e oito faxinas e há pouco era abril
Tedio, preguiça, mutismo, é tudo sinônimo
Não escrevi, divaguei, e o soneto não saiu!
BUGIGANGAS, UMA DÚZIA
Num ano com 12 agostos,
agosto passou como qualquer outro mês.
O clima sem sol ou chuvoso é uma espécie de vacina:
onde não der praia nem parques, salvam-se milhares de vidas.
É muita live. Pra escapar de uma, só estando em outra.
Não vou negar que também tenho minha zona de conforto.
Mede 60 x 80, é macia, cor mostarda e chamo de poltrona.
Machistas só abrem a boca se for lugar de falo.
Os conteúdos andam tão chatos e mal escritos
na web que a melhor ajuda aos leitores seria um botão
"clique aqui para saber menos".
Os que lamentam que a Felicidade não bate
à sua porta deviam lembrar que ela, tão antiquada,
precisa orientação sobre interfones.
O problema da dupla Guedes e Bozonaro é que
um não economiza erros e o outro esbanja desacertos.
Todo país passa por fases. Só o Brasil atravessa fezes.
Horas mortas a madrugada sempre teve.
A novidade são as horas moribundas desde a manhã.
Convém não comparar política e câncer.
Alguns tipos de cânceres são benignos.
6 meses sem ir a restaurantes.
Saudades até das longas filas de espera, dos cardápios
feios e sujos, do couvert sem graça, do garçom trazer errado
o pedido, da comida chegar fria, dos ambientes barulhentos,
das contas com valor a mais. Cadê você, vacina?