Eu prefiro treinadores táticos, com mais repertório, ligados às tendências em todos os quadrantes do Planeta Bola e, sobretudo, capazes de flertar com o ineditismo.
Comandantes que tenham o poder de transformar água em vinho com uma simples substituição. Personagens que, com trabalho exaustivo, reduzam a influência do acaso no futebol. Figuras que se imponham pela capacidade momentânea e não apenas pelo currículo vencedor.
Carlo Ancelotti tem sido o oposto de tudo o que escrevemos até agora! Exageros à parte, o treinador é adepto do ‘menos é mais’. Trabalha com mecânicas simples, diretas, quase pragmáticas. Futebol feijão com arroz.
Na história da Seleção, quase sempre deu certo. Há 20 anos, porém, iniciamos a derrocada. Estamos pagando o preço (também) por negligenciar a parte tática. Acreditamos que a “alegrias nas pernas” seguiria decidindo ao nosso favor.
Consequência? Nas últimas duas Copas fomos eliminados por Bélgica e Croácia. Nos amistosos recentes, derrotas “com justiça” para Marrocos e Senegal. Não temos mais craques em abundância e também não evoluímos fora de campo a ponto de reduzirmos a dependência deles.
O futebol ancorado no jogador e não no coletivo é voo de galinha. Está sendo assim com o próprio treinador no Real Madrid. O time demonstrou sinais de estagnação na temporada, conquistando apenas a Taça do Rei em 2023.
O chocolate para o City de Guardiola começou a ser escrito fora de campo. No Bayer, no Napoli e no Everton, a galinha de Carlitos sequer ousou tirar os pés do chão. O passado recente ilustra que o sucesso do comandante tem ligação direta com a qualidade do elenco.
Se de fato o italiano passar a vestir verde e amarelo, tenho convicção que a CBF o trará por fatores extracampo. Nisso, ele está entre os maiores da história. Inegavelmente, um ‘monstro’ como conhecedor de futebol. Ninguém é Campeão nas 5 principais ligas do Mundo à toa ou Tetra da Champions por aborto da natureza.
Outro fator que justificaria sua presença no outrora ‘País do Futebol’ seria o impacto que causaria no vestiário. Alguém capaz de colocar Neymar no banco se fosse preciso. Imaginam algum treinador brasileiro com essa autonomia atualmente?
Não existe nenhum comandante nacional à altura do desafio, ao menos em junho de 2023. Seleção brasileira é como vestir a camisa 10. Não basta querer, é preciso merecer. E os nomes que trabalham no Brasil e foram cogitados até agora, francamente!
Voltando…
Com Ancelotti, seríamos capazes de rechear o meio-campo para tirar os espaços de Modric e Kovacic? Teríamos variação para 3 zagueiros para espelhar a Holanda e aumentar as oportunidades do 1×1 que nos seria favorável? Trocaríamos nosso ponta de lado para surpreender a França?
O título da Argentina ano passado passou diretamente por Leonel Scaloni também pelas providências citadas acima. Não foi apenas por Messi. Com Ancelotti, provavelmente seria.
Nos nossos 5 títulos mundiais, nenhum treinador teve mais de 2 anos de trabalho antes do caneco. Quando mantivemos Telê em 82-86 e Tite em 14-18, por sua vez, não logramos êxito. Portanto, esperar até 2024 talvez não seja o maior dos problemas. Embora a pressão pros lados da CBF deva aumentar consideravelmente após a derrota para o time de Sadio Mané.
O grande perigo é depositar em Ancelotti expectativas que ele não poderá corresponder. Se ele vier, não jogaremos como City de Guardiola, como a Espanha de 2010, tampouco como o Brasil de 70.
Pelo contrário, estaremos bem mais próximos da seleção de Ramon Menezes. E infinitamente mais longes do sonho do Hexa.
É o coletivo que potencializa o individual…
Tomara que a CBF tenha clareza disso!
Alguém sabe se o Tite segue desempregado???