Como a maioria dos brasileiros, deixei para fazer o Imposto de Renda na última semana. Estressada com o atraso, passei o dia às voltas com a declaração, mas concluí e enviei o bendito. Noite fria, cansada, com fome! Bateu o desejo de comer algo reconfortante e fui preparar uma sopa, ou melhor, um caldo quente.
Aproveitei o tempo de cozimento para, enfim, acompanhar as postagens no meu facebook. Afinal, por horas a fio não havia dado nenhuma espiada. Tive que rir logo no início ao ler um recadinho: “Sopa não é comida! Faça chegar essa mensagem até a minha mãe!” . Ainda bem que não sou a mãe do rapaz que fez o pedido. Adoro sopas e caldos.
A nossa relação com a comida é uma doideira só! Por que se come? O que comemos? Sem dúvida, coisas atraentes e, junto com elas, certa dose de medo e culpa. Comemos demais, muito além do que nossos corpos precisam. Sentimos quando estamos com fome (às vezes até ouvimos), mas nem sempre percebemos os sinais de nossa saciedade. De tempos em tempos, alimentos que adoramos são transformados em vilões do colesterol, do diabetes, da celulite, do envelhecimento precoce e de toda sorte de malefícios que se possa imaginar. De repente, o vilão fica bonzinho porque a ciência mudou. Pode?
Nem sempre sabemos qual a origem dos produtos consumidos e, talvez, dessa ignorância nasça o medo. A culpa, essa tão religiosa companheira, nos consome a cada garfada de uma guloseima. Para as mulheres nem se fala! Você certamente já ouviu uma mulher dizer: ah! Comi demais, depois de se deliciar com uma boa comida e, mais ainda, depois de um pote de sorvete ou uma maravilhosa torta de chocolate (esse parceiro fiel dos momentos de ansiedade).
Para contribuir ainda mais com essa relação insana, onde a comida ora é mocinha, ora é bandida, as revistas de moda apresentam corpos “esculpidos”, junto com a ideia de que são assim só pela alimentação “saudável” e exercícios físicos (muitas vezes foi o bisturi que deu a forma!).
Se você tiver uma mísera dor na barriga e for ao médico magro (a maioria é!) a sentença é implacável “Você come demais”. Aí você sai do consultório com a convicção que deve fazer reeducação alimentar. Então, na segunda-feira , você começará mais uma dieta, dessas milhares e milagrosas disponíveis na internet. Balela! Com esse frio nos provocando os sentidos e aguçando as papilas gustativas quero mais é me deliciar com a boa comilança!