Em entrevista ao Seguinte:, Rosane Bordignon avalia a eleição, confirma a proposta de parceria com Anabel e, sonhando em unir as oposições, anuncia candidaturas a deputada em 2018 e a prefeita em 2020
Rosane Bordignon acompanhou a apuração da eleição na garagem da casa no Parque dos Anjos onde há duas décadas vive com Daniel Bordignon. Quando a votação mostrava que, mesmo com a diferença mínima seria impossível impedir a reeleição de Marco Alba (PMDB), ela pegou pela mão o marido e ‘Grande Eleitor’ e foi até a sala, onde cabisbaixos amigos mais próximos e apoiadores da linha de frente da campanha corriam os dedos pelos celulares, ou trocavam silenciosos e marejados olhares. A professora bateu palma forte e mostrou que trazia da militância de 35 anos e uma dezena de campanhas ao lado de seu companheiro, a percepção de que o momento não era para derrotismo:
– Perdemos ganhando. Nada apaga da história que o eleitor escolheu Daniel (Bordignon) como prefeito de Gravataí em outubro, com 12 mil votos a mais que o segundo colocado. Eu, em uma candidatura de 25 dias e, para muitos, uma desconhecida, perdi por diferença de apenas 4 mil votos – argumenta Rosane, lembrando o que disse na noite daquele domingo, 12 de março de 2017.
Agora, sentada na mesma sala, bebendo uma Coca zero, uma semana após voltar da convenção do PDT em Brasília, onde foi escolhida integrante titular da direção maior do partido e lançada candidata a deputada estadual pelo presidente nacional Carlos Lupi, Rosane Bordignon antecipa, com exclusividade para o Seguinte:
– Sou candidata a prefeita em 2020.
Confira a entrevista onde a candidata que fez 44.195 votos no ‘veraneio das urnas’ faz um balanço da eleição e põe olhos no futuro.
Seguinte: – Como avalias o resultado das urnas?
Rosane Bordignon – Muito positivo. Foi uma campanha de apenas 25 dias. Fui eleita vereadora em outubro na primeira eleição em que disputei, mas para muitos eu era uma desconhecida, apesar de sempre ter acompanhado o Daniel e militado em cargos de direção no meu antigo partido. O PDT decidiu por unanimidade que eu seria candidata e encarei como uma tarefa política, sem deslumbres. Sabia das dificuldades de uma campanha para Prefeitura, como de qualquer campanha, o que vivencio desde 88, na primeira eleição do Daniel para vereador. Mesmo com o apoio dele, sabíamos que não seria fácil me tornar conhecida e convencer o eleitor de que eu era a melhor alternativa. Os adversários, além de já terem sido candidatos em outubro e em outras eleições, já estavam por mais de um ano com os nomes na rua, contando a pré-campanha. Ainda assim avalio que fiz uma votação maior do que esperava. Sempre acreditamos na vitória, inclusive com a votação que fizemos. Porque eu representava o projeto vencedor em 2 de outubro. Mas vivemos um momento difícil para a política. Chegava às visitas e as pessoas recebiam de cara fechada. Quando dizia que era esposa do Bordignon, não tinha quem não abrisse a porta, sorrindo. Por isso tínhamos tanta certeza da vitória em outubro, o povo queria o Daniel. Infelizmente, faltou tempo para que toda Gravataí soubesse identificar os projetos que estavam em disputa agora em março. As pesquisas mostravam que a eleição seria decidida por uma pequena margem e, talvez, o detalhe tenha sido a chuva.
Seguinte: – Por quê?
Rosane Bordignon – Boa parte do nosso eleitorado não tem carro, acho que parte da juventude que poderia fazer a diferença também não foi às urnas… Hoje todos sabem que basta pagar R$ 3 por não ir votar. Avalio também que muitos achavam que, como o Daniel ganhou em outubro, eu venceria agora. A abstenção foi decisiva. O número de eleitores que não foram às urnas poderia ter elegido um prefeito. De domingo até hoje, percebo um setor social apavorado. Muitos ainda não acreditam no resultado. Na Câmara, além de elogios que recebi de vereadores da oposição, como Carlos Fonseca (PSB), que disse na tribuna que eu tinha sido a grande vencedora, também ouvi de vereadores da base do governo que havia entre eles uma perspectiva de que ganharíamos a eleição. Mas, diferente de outros, temos história de militância, sabemos das dificuldades de uma eleição, onde se ganha e se perde, e reconhecemos o resultado das urnas, no voto, democraticamente. Em resumo, perdemos ganhando. Em outubro, vencemos com o Daniel. E agora em março faltaram apenas 4 mil votos, ou 2 mil caso esses eleitores optassem por nós ao invés do adversário, para que chegássemos à Prefeitura com uma chapa pura contra uma candidatura de 15 partidos, um exército de quase 400 CCs, muito dinheiro, a imprensa contra nós e o voto útil de parte da classe média alta, que não queria nosso projeto popular no poder. Contra tudo e contra todos, sinto-me completamente satisfeita.
Seguinte: – Eras o plano B para o caso de uma impugnação de Bordignon?
Rosane Bordignon – Isso não é verdade. Se o Bordignon não tivesse certeza de que poderia concorrer e assumir, nem teria disputado a eleição. Tínhamos total convicção. A surpresa é ele não ter sido prefeito. A juíza de Gravataí homologou, o TSE (tribunal superior eleitoral) também confirmou e o STJ (superior tribunal de justiça), num primeiro momento e antes da eleição, também liberou a candidatura. Não há um consenso nem no judiciário. Quando veio a decisão final, estávamos deixando a poeira baixar, mas já na noite seguinte o Pompeo (de Mattos, presidente estadual do partido) me ligou e disse que tinha conversado com o Cláudio (Ávila, presidente municipal), com o Peixe (Alex, vereador reeleito) e o Demétrio (Tafras, vereador eleito), e havia o desejo de todos de que eu fosse candidata. Não houve nenhuma imposição do Daniel, como muitos acreditam. Poucos lembram ao falar sobre isso que eu tinha sido a vereadora mais votada do partido. Depois o Jairo Jorge (ex-prefeito de Canoas e pré-candidato a governador pelo PDT) e a Miguelina (Vecchio, vice-presidente nacional) também vieram aqui em casa. Então marcamos uma reunião com os candidatos a vereador, dirigentes e, por unanimidade, meu nome foi confirmado. O sentimento é geral de que nesta nova eleição estávamos mais unidos, mais mobilizados. Todos fizeram o máximo que puderam.
Seguinte: – E o futuro?
Rosane Bordignon – O presidente Lupi, um cara de esquerda, que muito admiro, lançou meu nome, com o aval do Ciro (Gomes, pré-candidato à presidência da República), que veio a Gravataí nas duas eleições e ficou impressionado com a mobilização e o apoio ao nosso projeto. O Jairo Jorge foi além: disse que tenho que ser deputada estadual e candidata a prefeita em 2020. Eu aceitei o desafio.
Seguinte: – A soma dos votos da oposição impediria a reeleição de Marco Alba. Trabalharás por essa unidade para 2020?
Rosane Bordignon – Nós fomos o setor da oposição que mais tentou impedir essa divisão. O Daniel procurou a Anabel e propôs uma coligação, onde o nome para concorrer à Prefeitura sairia de uma pesquisa. Disse que, se o candidato fosse ele e houvesse qualquer questionamento na justiça, renunciaria e ela seria a candidata a prefeita. E se ele fosse eleito, a apoiaria para Prefeitura em 2020. Anabel não aceitou. Mas já há setores do PSB que querem conversar sobre 2020. Já estamos construindo uma oposição responsável, onde queremos manter a proximidade com o vereador Dimas (Costa, PSD) e com o ex-vice-prefeito Cristiano Kingeski (PT), que fizeram campanha com a gente. Queremos muito a unidade da oposição. Sou candidata a prefeita, mas tudo pode ser reavaliado. Porém, é preciso entender o que saiu das urnas, onde o eleitor colocou nosso projeto como a principal alternativa ao que está aí.
Seguinte: – O que projetas para teu mandato como vereadora?
Rosane Bordignon – Faremos em breve um seminário para projetar o mandato, já que reassumi quinta, depois da licença não remunerada que tirei para fazer campanha. Mas quero levar grandes temas para o debate. Temos que ir além do desentupimento do bueiro e mostrar a posição de cada um sobre temas que mudam a vida das pessoas, como a reforma da Previdência, por exemplo. Quero também dar atenção à causa animal.
Seguinte: Pelo resultado das urnas e a condição natural de candidata à Prefeitura em 2020, além de seres um alvo na Câmara, muitos olhos estarão virados para ti. Estás pronta para isso?
Rosane Bordignon – Sim, principalmente depois dessa campanha e suas baixarias. De certa forma, como primeira-dama, já fui alvo de calúnias e mentiras que viraram lendas na cidade. Tudo porque muitos já me viam como sucessora do Daniel, por eu ter militância política. Mas nós sempre tínhamos pudores, queríamos deixar espaço para outras lideranças, já que ele era o prefeito, depois deputado. Mas estou pronta. Não tenho medo, porque nada pode ser pior que essa eleição. Nunca tinha visto algo assim. Na noite do domingo, passaram de moto e apedrejaram nossa casa. Não credito isso ao candidato eleito, jamais. Mas foi uma eleição de muito pesada, de boataria, notícias falsas nas redes sociais, violência. Mas estou vacinada e acho que a população de Gravataí também.
Seguinte: – Como será a oposição da Rosane ao governo Marco Alba?
Rosane Bordignon – Responsável. Se o governo apresentar projetos importantes para a cidade, para as pessoas, voto a favor. Até defendo se for o caso. Sou contra oposição sistemática. Quem já governou ou sonha governar uma cidade tem que construir e não incendiar pontes. Nem eu, nem o Daniel fizemos política contra ninguém. Fazemos política como nossa parte para ajudar as pessoas. A eleição acaba, a vida continua. E, como dizia Getúlio, às vezes vencer é saber esperar.