Com superlotação em UTIs e leitos covid e não covid e aumento de 400% nas internações hospitalares, o sábado começou com Gravataí, Cachoeirinha e todo o Rio Grande do Sul em bandeira preta, num lockdown gaudério, de bandeira preta acinzentada, com atividades não essenciais fechadas, mas, diferente de países europeus, com indústria a 75% e autorização para aulas, além de um ‘toque de recolher’ entre às 20h e 6h.
O prefeito Luiz Zaffalon foi mais restritivo, suspendendo as aulas na rede municipal até 7 de março. Já Miki Breier autorizou para ensino infantil e fundamental de 1º e 2º ano, como permite decreto do governador Eduardo Leite.
Um pouco de contexto e, ao fim, analiso.
Se em Cachoeirinha o fechamento do lotado Hospital de Campanha foi adiado por 30 dias, em Gravataí estão lotadas no Hospital de Campanha (HC) e no Dom João Becker (HDJB) e as 10 UTIs, 10 leitos de internação e 24 de enfermaria, além dos 24 do Pronto Atendimento para pacientes que deixam o tratamento intensivo e precisam cuidados hospitalares.
Para se ter uma ideia, há 18 pacientes aguardando leito em macas, cadeiras de todas, sentados no chão ou escorados nas paredes do HC. A mesma tragédia acontece, como antes da pandemia, nos leitos não covid. As 9 UTIs estão lotadas assim como os 14 leitos de emergência, onde 54 pacientes aguardando na fila.
– Infelizmente, o lockdown é necessário. Abrimos 24 leitos em 10 dias e já estão ocupados – alertou o prefeito Luiz Zaffalon em live, exemplificando com os 10 novos leitos abertos quarta, em parceria com a Santa Casa, e já lotados em 24h.
– As internações cresceram 400% em 10 dias. É o pior momento da pandemia – advertiu o secretário da Saúde Régis Fonseca, que espera que as hospitalizações diminuam com o lockdown como aconteceu em 2020 quando restrições à abertura de atividades diminuíram a circulação nas ruas.
Na live, que reproduzo ao fim do artigo, Zaffa informou o recebimento de 2.050 vacinas cuja segunda dose será aplicada em profissionais de saúde, idosos em asilos e, a partir de segunda, nas pessoas acima de 80 anos.
O prefeito também fez um apelo para a comunidade denunciar aglomerações e descumprimento do decreto da bandeira preta pelo 153 (Guarda Municipal) e 190 (Brigada Militar).
– Não temos como fiscalizar a cidade inteira, mas, acionados, atuaremos.
Alessandro Lindner, diretor técnico da Secretaria Municipal da Saúde, também participou da live. O médico explicou que a demora no atendimento no Hospital de Campanha acontece porque casos graves são priorizados.
– 85% dos infectados tem sintomas leves, mesmo que desconfortáveis. 15% evoluem para gravidade e 5% precisam internação. Então, só procurem as emergências em caso de necessidade – recomendou.
Os 29 postos de saúde atendem casos gripais e, para pacientes com outro tipo de sintomas, a orientação é procurar as UPAs da 76 da Av. Dorival de Oliveira e da ERS-020.
– Os profissionais de saúde estão exauridos após um ano de pandemia. Nunca vivemos algo como hoje. A onda está estourando em nossas cabeças – desabafou o médico.
Também na live a secretária da Educação Sônia Oliveira anunciou a suspensão das aulas presenciais até dia 7 na rede municipal. Nas escolas particulares segue a permissão, com a opção das famílias optarem pelo ensino remoto.
– Ficamos apenas dois dias em aulas presenciais, por isso decidimos suspender por uma semana, já que é o maior público e são crianças que precisam de pais ou responsáveis para chegar à escola, o que aumentar a circulação nas ruas. Particulares já funcionam desde outubro – explicou.
Analiso.
Zaffa faz tudo que pode. Miki também, ambos abrindo leitos e mantendo os hospitais de campanha abertos, custeados com recursos próprios na ordem de R$ 1 milhão mensal, e em 2021 sem socorro do governo federal, como tratei nos artigos Gravataí abre leitos na explosão da COVID; Zaffa e Miki ’botam os deles na reta’ e Furou a bolha da COVID: Orçamento da Saúde termina em setembro; 2021 não será um ano bom.
Reputo erra o prefeito de Cachoeirinha somente ao autorizar a volta às aulas presenciais para crianças. Não entendo a lógica da suspensão com 400% de internações a menos e a reabertura agora ao som de ambulâncias circulando por todo estado com gente aguardando na fila por hospitalização e morrendo.
Restou ao sindicato procurar a justiça e apelar para uma inevitável greve.
Engana-se quem acha que as escolas estão vazias.
Antes da bandeira preta, pelo menos metade dos alunos voltaram às aulas em Gravataí e Cachoeirinha. Nas escolas particulares também. Amigo tem filho no Dom Feliciano, colégio mais tradicional de Gravataí, e sua criança é a única da sala em ensino remoto.
Nas duas cidades são potencialmente 100 mil pessoas entre professores, alunos, comunidade escolar e familiares que moram na mesma casa.
É triste ver comércios fechados. Mas não há alternativa além de diminuir a circulação de pessoas para reduzir a velocidade do contágio. A prova de que o lockdown dá certo é que só chegamos ao ponto de hoje após regras terem sido flexibilizadas para Eleições, Natal, Ano Novo, Carnaval e praias.
E pode piorar, como reportei em Colapso e lockdown em Gravataí e Cachoeirinha: o apelo dos prefeitos; ’O desastre e o caos podem aumentar’.
– Precisamos sobreviver a este fim de semana – desabafa Antônio Weston, superintendente do Hospital Dom João Becker/Santa Casa.
É entre este sábado e domingo o pico do ‘Efeito Carnaval’.
Assustador, mas nesta sexta uma paciente de 38 anos, sem comorbidades, perdeu a vida em Gravataí. E há dois adolescentes intubados em estado grave em Cachoeirinha.
Ao fim o competentíssimo e querido Dr. Alessandro disse na live que estamos à beira do precipício. Acrescento: já estamos lá embaixo, olhando para cima.
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