CARLOS WAGNER

Tarifaço do Trump no Brasil encarecerá o famoso desjejum das famílias americanas

Na terça-feira (15), durante uma entrevista coletiva, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), 78 anos, foi perguntado sobre o motivo pelo qual tinha taxado em 50% (a partir de 1º de agosto) as importações do Brasil. Resumindo a resposta, ele disse: “Porque posso”. A resposta deixou uma “bola picando na área sem goleiro”, como se descrevia, nos tempos das barulhentas máquinas de escrever nas redações, uma situação que criava uma oportunidade para o repórter aprofundar um assunto. Vamos conversar sobre isso.

Caso se confirme o tarifaço do Trump, como a imprensa apelidou a taxação das importações dos produtos brasileiros pelos Estados Unidos, as famílias americanas vão sentir o seu efeito logo na primeira refeição do dia, o desjejum que foi tornado famoso ao redor do mundo pelos roteiristas de Hollywood. O desjejum dos americanos é uma vasta e variada refeição em que, entre ovos e bacon, se destacam o café, o suco de laranja e as frutas, entre elas a manga. Os agricultores brasileiros são os principais fornecedores destes três últimos produtos. Consequentemente, o café da manhã dos americanos ficará mais caro com o tarifaço. Além de café, do suco de laranja e das frutas, o Brasil exporta outros 40 itens para os Estados Unidos, incluindo aviões da Embraer. Especialistas em assuntos econômicos brasileiros e americanos têm advertido que o tarifaço do Trump elevará a inflação no país. Este e outros temas referentes ao comportamento do presidente americano vêm sendo tratado com grande abundância de informações pela imprensa ao redor do mundo. No Brasil, tem sido manchete na maioria dos noticiários. Há uma verdadeira overdose de informações. Mas há um detalhe que vem passando batido na cobertura da imprensa brasileira. De propósito, peguei de gancho para a nossa conversa a declaração “porque posso”. É preciso explicar melhor qual é a dimensão do poder do presidente dos Estados Unidos. Da forma como estamos publicando, passamos para o leitor a ideia de que ele acorda pela manhã e durante o café decide quem irá taxar. Existe alguma lei nos Estados Unidos que regulamente o assunto? Trump disse “porque posso” porque a legislação permite? Ou foi uma demonstração de poder? Considero esta explicação necessária, porque o presidente americano mistura nas suas declarações fatos e bravatas, com o objetivo de provocar polêmicas que garantam as manchetes dos jornais ao redor do mundo. Atualmente, existem três assuntos relacionados aos Estados Unidos que não saem do noticiário: a deportação de imigrantes ilegais, os tarifaços e a promessa feita por Trump durante a campanha eleitoral de acabar com as guerras entre Israel e o movimento terrorista Hamas, na Faixa de Gaza, e entre a Rússia e a Ucrânia. Sempre que um destes assuntos começa a perder força nas manchetes é substituído por outro. Ou seja, nós jornalistas temos que ter consciência de que Trump é um profissional da comunicação. Basta lembrar que entre 2004 e 2017 ele apresentou com sucesso o reality show O Aprendiz, na rede de TV NBC.

Oprocesso de aperfeiçoamento desta mensagem é permanente. Na sexta-feira (11), a ex-senadora Hillary Clinton (democrata), 77 anos, postou nas suas redes sociais uma mensagem criticando Trump pelo tarifaço imposto ao Brasil e, sem mencionar o nome, disse que ele era amigo de corruptos, referindo-se à defesa feita pelo presidente americano da anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 70 anos. Bolsonaro foi declarado inelegível até 2030 e é réu na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), com outras 33 pessoas, por ter sido o articulador de uma organização criminosa que tentou dar um golpe de estado que teve o seu auge em 8 de janeiro de 2023, quando bolsonaristas radicalizados e acampados na frente dos quartéis, em Brasília, quebraram tudo que encontram pela frente no Palácio do Planalto, no Congresso e no STF. Logo após a publicação da ex-senadora, Trump, em entrevista à imprensa, tratou Bolsonaro como um conhecido, ao contrário de declarações anteriores, quando o elogiou e o descreveu como um herói perseguido pela Justiça brasileira. Há um fato que repito sempre que aparece uma oportunidade. As novas tecnologias da comunicação mudaram tudo na maneira de fazer jornalismo. Nos dias atuais, as notícias chegam a todos os cantos do mundo simplesmente apertando um botão no teclado do computador ou do smartphone. Algumas décadas atrás, levavam semanas. Dentro deste novo contexto é necessário ter muito cuidado. Nunca devemos esquecer que Trump é o “mestre da mentira”, como foi definido pelo ex-presidente Joe Biden (democrata), 81 anos. Há uma aposta de que Trump deverá recuar no tarifaço. Tudo é possível. Mas devemos levar em conta que a repercussão nas manchetes dos jornais é enorme. E a tendência é aumentar ainda mais nos próximos dias porque Trump resolveu abrir uma investigação para apurar práticas que considera anticompetitivas por parte do governo brasileiro. Faz parte da investigação até o Pix, que estaria causando prejuízos econômicos para as empresas americanas de cartão de crédito e outras formas de pagamento. O Pix é extremamente popular entre os brasileiros. Portanto, o assunto tem potencial para ocupar as manchetes por muito tempo.

Para arrematar a nossa conversa. Qual será o destino do tarifaço do Trump no Brasil? Difícil dizer. O que é certo é que, seja qual for, o presidente americano continuará semeando confusão pelos quatro cantos do mundo. No próximo ano acontecerão as eleições no Brasil. A pergunta que temos que fazer é: Trump tem algum coelho na cartola que será tirado para bagunçar a disputa eleitoral em favor da extrema direita brasileira? Não tem como especular sobre o assunto. A única certeza que temos é que ele tentará influenciar a disputa eleitoral brasileira.

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