Há método, nem que seja por intuição, no ‘pega fogo cabaré’, protagonizado pela oposição, que não deixou sextar a política em Gravataí.
Quem não leu, clique nos artigos Anabel e Rosane para Prefeitura; a Bordignon solta o verbo, Em defesa de Dimas; Carlito contra-ataca, Cláudio Ávila responde Rosane Bordignon; os melhores amigos e piores inimigos e PSB também reage a entrevista de Rosane Bordignon.
Além da troca de grrrs pelo Seguinte:, posts nas redes sociais, mesmo sem citar nomes, mas praticamente desenhando o que personagens dizem uma das outras, evidenciaram a máxima de que “a esquerda só se une na cadeia” – mesmo que hoje, na Gravataí que deu sete a cada dez votos para o bolsonarismo, sejam canhotos mais próximos do centro da ferradura; e ninguém corra o risco de ser preso.
Postagens dos antagônicos irmãos Dimas Costa (PSD) e Dilamar Soares (PSD quase PDT), um candidato a prefeito e outro confidente da também candidata Anabel Lorenzi (PDT), pegaram pesado, como você lê nos perfis deles, sábado e domingo.
Como políticos e leitores não param de comentar comigo, e enviar WhatsApps sobre a polêmica, o que mostra que fofocas e intrigras são, e sempre serão, o sal da política, arrisco explicar o método de cada grupo.
Vamos lá. Rosane Bordignon (PDT) ataca mais Dimas do que o prefeito Marco Alba (MDB) para tirar o vereador “de trás do muro”. Como o governo não é mais o melhor cabo eleitoral da oposição, o que era, em 2016, ao menos nas palavras de Daniel Bordignon, seria pouco inteligente para Anabel e os ‘Bordignons’ abrir guerra com os governistas. É que Dimas poderia aparecer como o ‘bom moço’ da eleição, mais ou menos como fez Eduardo Leite, na eleição para o governo estadual. Tratei disso no artigo Marco Alba, Bordignon, Stalin, Churchill e o ’mal maior’.
Rosane provocou Dimas e os aliados a reagir de outra forma: como se estivessem em uma live de Bolsonaro, ou em uma DR em espisódios de ‘A Fazenda’ ou do ‘Big Brother Brasil’.
Uma estratégia arriscada, mas necessária.
Necessária porque os dois grupos disputam um campo político e parecem saber que um precisa ‘morrer’ para o outro ‘ir para o céu’. Poucos que analisam a política de Gravataí não concordarão que o candidato do governo, se não for o vencedor da eleição, será o segundo colocado.
Se não pela subjetividade da melhora na avaliação do governo, a quantidade de obras entregues ou por vir, simbolismos como as novas pontes do Parque dos Anjos, ou mesmo o poderio financeiro que sempre tem o grupo político que está no governo, estatísticas eleitorais dos últimos 20 anos mostram isso.
Assim, parece estratégico o grupo de Anabel tentar apontar Dimas como uma aventura, como um menino maluquinho despreparado para governar a quarta economia gaúcha e cercado por, nas palavras de Rosane, “más companhias”.
Mas é um movimento arriscado. Dimas tem hoje como apoiadores da candidatura a prefeito os principais gerenciadores de páginas, grupos e comunidades no Facebook que, num cálculo rápido, somam mais participantes do que a população de Gravataí – fakes incluídos.
E se arrastar Dimas para uma postura agressiva como a de Bolsonaro mais o ajudar do que prejudicar?
A popularidade do ‘mito’ está em queda livre, como mostrou pesquisa Datafolha desta semana, mas cada vez mais seus apoiadores mostram o comportamento de seita. Transmutando para Gravataí, talvez Dimas ganhe mais eleitoralmente com fanáticos o defendendo nas redes sociais e ruas do que posando de estadista. Observe os comentários em defesa e tire um tempo para correr as timelines de apoiadores do vereador para comprovar o que estou falando.
Ah, mas Dimas não é um outsider, ele é ‘da política’! Ok, mas e Bolsonaro, que foi eleito com três vezes mais tempo como político? A ‘nova política’ parece mostrar que o ‘ser’ já sofreu um golpe do ‘parecer ser’. Ou há outro candidato em Gravataí que represente melhor o ‘contra tudo e contra todos’? Mesmo que, mais uma vez, a realidade supere a ficção na política da aldeia, e o antiestablishment seja um ex-petista numa cidade ‘bolsonarista’.
Afeito ao palanque e com uma intuição apurada para as ‘leis’ do Grande Tribunal das Redes Sociais, Dimas demonstra ficar mais à vontade no confronto e apresentando-se como “do povo”.
Não foi, por exemplo, ao Chef na Cozinha, evento do Sindilojas que reuniu o empresariado e as famílias mais tradicionais da cidade. Não quer dizer que, caso eleito, não estreará como convidado para o Almoçando com a Acigra. Da mesma forma que Bordignon, quando eleito em 96, tirou a camiseta da Internacional Socialista e começou a andar de terno, e Marco, no segundo governo, tirou a gravata e saiu para as ruas de camisa arremangada.
Os políticos são sensíveis aos humores do eleitorado. Não se trata de vigarice, mas de representação da, e frente, a comunidade, da melhor forma de chegar a uma média, a uma síntese da cidade.
Ao fim, Dimas pode ser destruído por ataques até a eleição, mas também arrisca ser transformado no representante do mau humor de muitos eleitores com a política. É claro, se esse mau humor for latente em 2020. Afinal, como tenho coragem para dizer, sem torcida ou secação: Bordignon, o 'Grande Eleitor' de Anabel, teve seu legado e o governo Marco é bom.