as historinhas

Traumas de infância, o sabão racista e o pai insensível

Meu primeiro trauma de infância foi terem cortado minha trança quando tinha sete anos de idade.

Naquele tempo, não havia xampu, nem condicionador de cabelo. O que se usava, para lavar a cabeça, era sabão de glicerina em barra ou um sabão líquido chamado Aristolino.

Eu tinha uma quantidade enorme de cabelos e chorava muito, todas as manhãs, quando os desembaraçavam, após o banho (em casa de mãe virginiana, a obrigatoriedade de lavar a cabeça diariamente era inegociável).

Um dia, minha mãe perdeu a paciência e mandou passarem a tesoura na minha trança. E não adiantou espernear, porque a decisão estava tomada.

Saí de casa triste à beça e mais ainda fiquei quando entrei na sala de aula, e várias coleguinhas me receberam com um "Ohhh…". Aí, caí no choro, e algumas delas vieram  me consolar, como se eu tivesse perdido alguém da família. E era bem assim que eu me sentia…

 

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Voltando ao sabão Aristolino, que lá em casa era pau pra toda obra, dou uma pesquisada na Internet (Como fazíamos para sobreviver antes do Google, hem?) e descubro que foi inventado, em 1908, por um médico de Paquetá chamado Aristão Gonçalves Neves (daí a origem do seu nome), que também era prático de farmácia.

Por meio dos “reclames” do produto publicados em jornais e revistas, ao longo dos anos, pode-se ter uma ideia da evolução do modo de vida e da publicidade, no Brasil, no período. Sem regulamentação na área, os primeiros anúncios do Aristolino, recomendado para banhos “geraes” ou “parciaes”, chegavam às raias do charlatanismo.

O fabricante garantia a cura de manchas, sardas, espinhas, rugosidades, cravos, vermelhidões, comichões, frieiras, feridas, caspa, perda de cabelo, erisipela, eczema, mau cheiro nos pés e nas axilas, queimaduras… e — Acreditem se puderem! — o embranquecimento da pele.

 

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Ascoltami, Alessandro!

Pois é, eu que sempre abominei ver pessoas falando aos gritos, em locais públicos, pelo celular, agora dei para prestar atenção ao que dizem.

Outro dia, por exemplo, uma fulana que estava sentada no banco ao lado do meu, na “diligência” da Transcal, brigava, em italiano, com o pai de sua filha, para que aumentasse sua pensão em 50 euros. 

Ela falava cada vez mais alto e em tom de novela mexicana: “Ascoltami, Alessandro! Lasciami parlare, Alessandro! Aspetta, Alessandro!”. Mas parece que o tal Alessandro não estava nem aí pra suas lamúrias. 

Lá pelas tantas, creio que ele teve de fazer uma pausa para respirar, e ela desandou a falar de um fôlego só: “Guarda, Alessandro! Sabes quanto está custando um litro de leite no Brasil? E um quilo de pão? E um de carne? Ascoltami, Alessandro! Lasciami parlare, Alessandro! Aspetta, Alessandro!”

Que fdp esse Alessandro!

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