Gravataí e Cachoeirinha terão papel estratégico no traçado da primeira ferrovia de passageiros do Brasil concedida integralmente à iniciativa privada. O anúncio foi feito pelo governador Eduardo Leite no Palácio Piratini, nesta quinta-feira. O projeto, que ligará Porto Alegre a Gramado em apenas uma hora de viagem, prevê um trajeto que passará por 19 cidades.
A iniciativa, liderada pela empresa SulTrens Transportes Ferroviários Ltda, prevê investimento total de R$ 4,5 bilhões. O montante ainda precisa ser captado pela companhia junto ao setor privado. A autorização concedida pelo Estado permite à empresa explorar o serviço por 99 anos, com início das operações previsto para daqui a sete anos.
– Ganhamos todos. Pelos mapas iniciais passa por Gravataí na altura da Costa do Ipiranga, quase na divisa com Cachoeirinha – comemora o prefeito Luiz Zaffalon.
Segundo o administrador da SulTrens, Renato Grillo Ely, trata-se de um projeto viável e estruturado para ser implantado com receitas operacionais, sem aporte de recursos públicos.
– Nosso objetivo é oferecer uma experiência de mobilidade confiável, segura e moderna, que represente também um marco no turismo do Estado – disse, projetando um trajeto “confortável, seguro e ambientalmente mais limpo”, com trens híbridos movidos a eletricidade e diesel, reduzindo significativamente a emissão de CO₂.
A escolha do traçado incluiu critérios como inserção urbana, perfil topográfico, impacto ambiental, e viabilidade operacional. Gravataí e Cachoeirinha figuram entre os 19 municípios que terão a ferrovia cruzando seu território, integrando-se a um sistema de transporte que pretende ser o mais moderno do país.
A passagem do trem também significa geração de empregos, aumento da arrecadação tributária local e valorização imobiliária. A expectativa é de que a obra gere cerca de 22,7 mil empregos diretos e indiretos durante sua execução e posterior operação.
Estrutura será elevada sobre a Freeway
Com duas vias férreas (ida e volta), o trem conectará a região metropolitana de Porto Alegre à Serra Gaúcha, cruzando municípios como Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo e, claro, Gravataí e Cachoeirinha, até chegar a Gramado e Canela.
Ao todo, serão 27 cruzamentos rodoferroviários, nove túneis e 15 pontes e viadutos — incluindo uma estrutura elevada sobre a Freeway (BR-290).
As estações principais estarão localizadas a cerca de 700 metros do Aeroporto Internacional Salgado Filho, na Capital, e na Avenida das Hortênsias, entre Gramado e Canela.
Também estão previstas estações intermediárias, inclusive em áreas residenciais, com plataformas menores e acesso exclusivo a condomínios específicos.
Viabilidade e desafio financeiro
Embora o projeto já conte com autorização oficial e amplo suporte técnico e jurídico por parte do Estado — envolvendo pareceres da Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e da Secretaria de Logística e Transportes (Selt) — o grande desafio agora está na captação dos recursos.
O modelo proposto pela SulTrens aposta no potencial de demanda turística da região. Segundo dados da Secretaria de Turismo do RS, 35% dos visitantes que vão à Serra são do próprio Estado, enquanto São Paulo, Santa Catarina e Paraná respondem juntos por outros 35%. Mais da metade (52,5%) utiliza transporte rodoviário coletivo ou privado, o que indica uma demanda significativa a ser conquistada pelo novo serviço ferroviário.
– O trem para Gramado é muito mais que infraestrutura: é turismo, desenvolvimento, qualidade de vida e inovação. É fruto de um novo ambiente de negócios que o RS vive, com estabilidade fiscal e segurança jurídica que atraem o investimento privado – disse o governador.

Estação passado-futuro
A proposta também resgata o passado ferroviário do Estado. No século XX, já existia uma linha de trem ligando Porto Alegre à Serra, com operação encerrada em 1963. Em seu auge, a malha ferroviária gaúcha conectava a capital a destinos como Santa Maria, Uruguaiana e Canela.
A SulTrens promete ainda desenvolver novas pesquisas para confirmar a demanda e a disposição dos turistas a pagar tarifas compatíveis com o nível de serviço — que inclui trens modernos com capacidade para até 300 passageiros, velocidade de até 120 km/h, ar-condicionado, conforto interno e estrutura bidirecional.
Com o projeto autorizado, a captação dos R$ 4,5 bilhões será o próximo e mais desafiador passo. A SulTrens terá de buscar parceiros financeiros e investidores dispostos a apostar nesse novo capítulo da mobilidade gaúcha — um capítulo que começa com trilhos passando por Gravataí e Cachoeirinha.
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