perfil Dilamar Soares

Um cara que sabe

Na escola Polivalente fazendo uma das coisas que mais gosta: dar palestras a crianças e jovens

Em mais um dos perfis dos vereadores eleitos o SEGUINTE: apresenta Dilamar Soares. Ele é um articulador e observador privilegiado da nossa política.

 

 

O relógio marca 3h da madrugada e o abajur permanece aceso num cômodo da casa na rua Navegantes, no bairro Vila Natal. Navegando por arquivos de sites e portais com dados públicos está Dilamar Soares. No dia seguinte, as informações arquivadas no celular, ou na ponta da língua, podem ser usadas pelo vereador na tribuna da Câmara.

– Tenho sempre comigo a obrigação de saber o que estou votando. Falo muito com o coração, mas não falo sobre o que não sei. Sou leitor voraz, daqueles que não dormem sem ler. Digo que lendo eu ganho, não perco noites de sono – resume.

O ‘Dila’, como é chamado pelos amigos, tem em casa uma parceira de pesquisa e altos papos: a esposa Alexandra, que é pedagoga e acadêmica de Direito.

– Sempre gostamos muito de estudar – diz o historiador, formado pela Ulbra.

– Sei que as coisas não acontecem por acontecer. Há sempre por trás delas histórias de vida e circunstâncias.

 

On e off

 

Informação é o que não falta para Dilamar. Em uma rápida conversa é possível ouvir dele uma ampla leitura sobre a conjuntura política local. E ouvir histórias – algumas publicáveis, outras impublicáveis – que suportam os movimentos de personagens do ontem e do hoje, ou que de ilustres desconhecidos podem se tornar lideranças no amanhã.

É comum vê-lo ao celular conversando com gente do meio político, recebendo, ou visitando vereadores em seus gabinetes.

– Tive embates duros no mandato, em alguns até subi demais o tom, mas não desço ao lamaçal da política. Não procuro mocinhos e bandidos, até porque esse é um comportamento hipócrita, já que muita gente que foi governo hoje é oposição, e muita gente que hoje é oposição já foi governo. Avalio que todos têm seus erros e acertos.

– A lição de casa eu faço: domino as finanças públicas até o último centavo. Isso me dá autoridade para exercer o papel do vereador e fiscalizar, além de me dar subsídios para apontar soluções – argumenta.

 

: Nas intervenções na tribuna, Dilamar passa longe do senso de auto-preservação tão comum à política

 

No caminho do meio

 

Essa opção por um ‘caminho do meio’ levou Dilamar a entregar os cargos no governo (do qual chegou a ser líder na Câmara) e se afastar do partido pelo qual foi eleito, o PMDB do prefeito Marco Alba.

A relação com Marco sempre oscilou de uma convivência muito próxima ao total afastamento. No início dos anos 90, um Dilamar solteiro e um Marco recém separado dividiram um apartamento em Cachoeirinha. A relação de carinho se estendia inclusive aos filhos de Marco, que iam visitar o pai. Os dois se afastaram em um episódio onde Dilamar cobrou mais apoio na primeira eleição ao Conselho Tutelar, e reataram em uma mesa da pizzaria Pandollo, entre lágrimas, quando Dilamar retornou ao PMDB para concorrer a vereador.

Hoje estão a uma boa – mas nunca intransponível – distância.

 

O nº 1

 

Dilamar se dedica à construção do PSD em Gravataí e no Rio Grande do Sul, na condição de ungido pelo vice-governador José Cairoli e pelo deputado federal Danrlei de Deus para ser o articulador do projeto número 1 do partido no Estado em 2016: ganhar a Prefeitura de Gravataí.

Em menos de um ano, além de trazer para a sigla um candidato a prefeito respeitado no meio político, o médico e ex-vereador Levi Melo, Dilamar tirou do PT dois jovens vereadores: Alemão da Kipão e Dimas Costa.

 

: Com o médico Levi Melo, de quem 'herdou' cadeira na Câmara, e agora constrói candidatura a prefeito

 

Quebrando a banca

 

Alemão chegou ao PSD como pré-candidato a vice de Levi, inclusive com anúncio de que, em caso de vitória, seu gabinete será na Morada do Vale. Já a filiação de Dimas (que por ter um perfil mais à esquerda simboliza um equilíbrio de forças e torna mais real o discurso de pluralidade do PSD e da candidatura Levi) é um caso a parte na política de Gravataí.

– Se alguém tivesse apostado na união do Dila e do Dimas, quebrava a banca! – resume um jornalista amigo dos dois.

É que eles são irmãos, o mais velho e o mais novo de uma família de mais quatro irmãs, mas há quase uma década estavam em lados políticos opostos, que dividiram a família, desde que Dilamar saiu do PT e o pai, João Manoel, ficou no partido e começou a apostar numa candidatura de Dimas.

– A mesma política que separou, uniu. Pelo menos agora posso votar na legenda que estarei ajudando os dois – diverte-se um amigo, que tanto Dila como Dimas acreditam ser seu eleitor.

A relação entre os dois, que andava fria como água da Cascatinha, dá sinais de melhora. Eles já começaram a trocar as primeiras palavras depois de anos, para alegria da dona Margarida, a mãe que anda só sorrisos e agora sonha em ver os dois dividindo um aipinzinho frito enquanto esperam ela servir o almoço.

– Penso no time, não em mim. E política se faz com coração, mas também com muita cabeça – resume Dilamar, ciente de que a cada candidato a vereador trazido para o partido, coloca risco à sua própria reeleição.

– Quero ser eleito, mas o projeto de montar o PSD e chegar à Prefeitura está acima de tudo. E como é gratificante ouvir pessoas dizerem que virão com a gente porque confiam em mim.

– Posso ser louco, mas não sou vigarista – orgulha-se.

Mesmo com o fechamento da janela, e a impossibilidade da troca de partidos, Dilamar ainda segue em conversas para atrair apoios para Levi.

– A política de Gravataí sempre foi como aquele slogan que tinha a BandNews: em 20 minutos tudo pode mudar! – diverte-se.

 

: Em foto que parecia impossível, com o irmão Dimas (o 2º da esquerda p/ direita) no mesmo palanque

 

Numa linha reta

 

O temperamento sanguíneo e as trocas de partido são uma característica da vida pública de Dilamar. Começou no PMDB, passou pelo PT e o PDT e retornou ao partido de origem, que agora deixa para apostar no PSD.

Quem conhece mais intimamente o vereador, de certa forma entende seus movimentos.

– O cara tem que andar numa linha reta – é um de seus bordões.

Só que essa “linha reta”, por vezes, é atropelada pelas curvas da política.

– O Dilamar julga os outros pela moralidade dele. Se não fecha com o que ele pensa, é problema – resume um político experiente da aldeia.

Um exemplo foram os votos – e o discurso forte – contra as viagens de vereadores, mesmo criando desconforto entre os então colegas da base de governo.

Basta ouvir a opinião do próprio Dilamar sobre personagens da política local para testemunhar esse jeito de ser: com uma memória privilegiada, excitada por reportagens antigas que guarda no celular e em pastas de diferentes cores, ele é capaz de elogiar e criticar publicamente, na tribuna ou numa mesa de bar, momentos vividos pelos políticos de diferentes matrizes.

– Está mais do que na hora dos políticos não pensarem apenas no dia de hoje, no que dá voto, seja no discurso ou na prática. Não soma nada a cada eleição somente trocar os papéis de governo e oposição e não se pensar no amanhã, no futuro da cidade – discursa.

 

O heroísmo da lavadeira

 

– Não sou governo, nem oposição. Sou “de posição”. Precisamos estar além da esquerda e da direita. A maioria dos historiadores é marxista. Eu não. Gosto da Nova História Cultural – conclui Dilamar.

Esse é um movimento que prioriza a construção histórica, a partir das manifestações das massas anônimas, por aquilo que é considerado popular. Algo bem ilustrado em “Os Excluídos da História”, de Michelle Perrot, onde a Revolução Francesa não é contada pelo heroísmo de Robespierre, mas no espelho da vida de pessoas como, por exemplo, uma singela lavadeira.

 

 

Um pouco da história – e das histórias – do Dilamar:

 

Natural de Mostardas, Rio Grande do Sul, Dilamar veio para Gravataí prestes a completar 9 anos, primogênito do casal Margarida e João Manoel, que teria ainda Denize, Daniela, Deize, Daiane e Dimas – também eleito vereador em 2012, só que pelo PT.

Um irmão, Daniel, faleceu ainda bebê, de uma doença rara no cérebro.

A família se instalou às margens da ERS-118, em um pequeno rancho de madeira, cheio de frestas e com aquelas patentes nos fundos. O pai era fiscal da Sogil e a mãe fazia faxinas. As dificuldades financeiras e o grande número de bocas para alimentar fizeram os filhos começarem a trabalhar cedo.

Ainda criança, Dilamar fez muito bico vendendo melancia, picolé e capinando pátios. Aos 15 anos, arrumou o primeiro emprego de carteira assinada: empacotador do Dosul, da parada 71. Também trabalhou de office boy na Vitrosul e em funções administrativas na Sociedade Esportiva Cachoeirinha e na Guaíba Service, além de seis meses como cobrador da Sogil e professor estagiário na Anita Garibaldi e na Cincinato Jardim do Vale.

 

 

Atrás do gol

 

No ‘amor’, sem receber nada, também teve sua experiência como radialista. À convite do corretor Julinho Vieira, participava de programas esportivos e coberturas de jogos pela Rádio Vale do Gravataí, hoje Metrópole. A narração era de Irani Teixeira (hoje vereador em Cachoeirinha) e os comentários de Marco Alba (hoje prefeito de Gravataí).

– Eu, colorado, fiz a final da Copa do Brasil de 94, entre Grêmio e Ceará, no estádio Olímpico. Estava atrás do gol em que o Nildo marcou e o Grêmio saiu campeão – lembra.

– Também transmitimos um show do Raça Negra, no auge, no Asa Branca, com o Marco Alba comentando!

 

: Em 1995, na equipe de esportes da Rádio Vale do Gravataí, com Nelson Beretta e Eli Constante

 

Barra pesada

 

Dilamar teve as primeiras experiências no meio político quando recém saía da adolescência. Foi assistente da bancada do PMDB na Câmara, pelas mãos do vereador Valtoir Oliveira. Depois, trabalhou também na Febem, nos governos de Antônio Britto (PMDB) e Germano Rigotto (PMDB), foi chefe de gabinete do prefeito Darci Lima da Rosa (PTB) na Prefeitura de Glorinha e um dos coordenadores da Comunicação da Prefeitura de Gravataí no governo transitório de Acimar da Silva (PMDB), após o impeachment da prefeita Rita Sanco (PT).

Mas foi a barra pesada emocional, que testemunhou ao trabalhar na Febem, que despertou em Dilamar a vontade de tentar ajudar a mudar a vida de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Ele foi eleito conselheiro tutelar por duas vezes, exercendo seis anos de mandato.

 

: Em 1998, na equipe diretiva do Centro da Juventude da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase)

 

Com Levi e Décio

 

A atuação destemida – com cobertura da mídia local, estadual e até nacional, como em denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes que tiveram grande repercussão em jornais, sites, rádios e TVs – rendeu popularidade ao trabalho de Dilamar.

Dali à eleição de vereador, com 2.066 votos, foi questão de menos de um ano, numa campanha em que teve o apoio do médico Levi Melo – hoje candidato a prefeito pelo seu PSD, e que na época não quis concorrer à reeleição para vereador – e, principalmente, de um dos empresários mais queridos de Gravataí, Décio Becker, ‘dono’ do Cerâmica Atlético Clube e também ex-vice-prefeito de Sérgio Stasinski.

– Minha gratidão pelo seu Décio é eterna – resume.

 

: Na campanha de 2012, com sua indefectível gravata rosa e seus 'padrinhos' Décio Becker e Levi Melo

 

A primeira eleição

 

Formado em História pela Ulbra, hoje Dilamar cursa Orientação Educacional no Iergs.

– Nunca rodei na vida – orgulha-se.

Em Mostardas, os primeiros bancos escolares que sentou – sem luz ou banheiro – eram daqueles divididos por alunos de diferentes idades, às margens da Lagoa dos Patos, na São Luiz Rei – uma “brizoleta”, como eram chamadas as pequenas escolas multiseriais no interior gaúcho.

Já em Gravataí estudou na antiga Rui Ramos, na Cincinato Jardim do Vale, no Polivalente e no Gensa. Foi no Poli que teve seu despertar para cursar História, fã do professor Kiko Brambilla, e também onde foi ‘eleito’ pela primeira vez.

– A política estava muito viva entre nós, era 85, período de reabertura após os governos militares, todo aquele clima das Diretas Já. A eleição de diretores acontecia a partir da formação de um colégio eleitoral, dividido entre representantes de professores, pais e alunos. Fui eleito como o segundo mais votado para representar os alunos – recorda.

 

: Na cerimônia de diplomação como vereador, o sonho realizado de ocupar um cargo legislativo

 

OS PRINCIPAIS PROJETOS APRESENTADOS PELO DILAMAR:

“Tive destaque como conselheiro tutelar, mas desde o início do mandato disse que seria um vereador para toda a cidade, que não atuaria apenas na área da criança e do adolescente. Apresentei 41 projetos para diferentes áreas, como o que prevê multa para lixo no chão; outro para acabar com os fios caídos, e ainda para a retirada de sucatas das ruas. Mas o que mais me orgulha foi ter trazido o português José Pacheco, da Escola da Ponte e seu projeto de autonomia dos alunos, para falar a mais de 300 professores de Gravataí”.

 

UM ARREPENDIMENTO NA VIDA PÚBLICA:

“Ter, por vezes, travado embates políticos muito fortes. E ter defendido demais o governo Marco Alba (PMDB)”.

 

O DILAMAR PELO DILAMAR, EM UMA PALAVRA:

“Estudioso”.

 

OS PLANOS DO DILAMAR:

“Ser reeleito, ver nosso projeto chegar à Prefeitura e construir o PSD no Estado. É a primeira vez em que estou num partido onde tenho como participar de verdade”.

 

O QUE DIZ PARA O ELEITOR QUE NÃO ACREDITA MAIS NOS POLÍTICOS:

“A política mexe com a vida das pessoas. Votando, ou não votando, no dia 1º de janeiro de 2017, assumirá um prefeito e 21 vereadores. Então participe. Se informe. Há bons e maus exemplos em todos os setores. Hoje, com os avanços da comunicação, é fácil saber quem é quem. Escolha bem”.

 

UM POLÍTICO ADMIRADO PELO DILAMAR:

“Difícil responder… Nada se constrói sozinho. Por vezes é o assessor, ou um eleitor, quem está por trás de uma grande ideia de um político. Prefiro não citar ninguém”.

 

O(A) CANDIDATO(A) A PREFEITO(A) DO DILAMAR:

“Levi Melo”.

 

 

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