3º NEURÔNIO

Gravataiense acompanhou na Flórida os primeiros dias de Trump e conta suas impressões e dos locais

O engenheiro Alexandre Stolte, morador de Gravataí, relata ao Seguinte: impressões de suas férias com a família nos EUA no mês da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos


Em dezembro de 2008 fui pela primeira vez aos EUA visitar Nova Iorque e Washington, às vésperas da posse de Barack Obama, que ocorreu em janeiro de 2009. Desta vez, 17 anos depois, a proposta da viagem foi outra e os destinos foram Miami e Orlando, porém também durante a posse de outro presidente: Donald Trump. Os contrastes foram enormes, muito além do que poderia ter imaginado.

Obama assumia a presidência como o primeiro negro a alcançar o cargo mais alto dos Estados Unidos, um democrata bastante carismático com uma trajetória de congressista. No final de dezembro, já estavam construindo os palanques para a festa da posse e havia uma comoção nas duas cidades, os taxistas se mostravam otimistas com a nova administração e havia um astral sorridente nas pessoas.

As coisas pareceram bem diferentes agora. Talvez os destinos tenham contribuído para a mudança de ambiente político. Embora a Flórida seja um reduto republicano, não havia entusiasmo e não vi um só americano de boné MAGA (Make America Great Again), o lema da campanha vitoriosa de Trump. Pelo contrário, havia um certo nervosismo no ar, ocasionado com os discursos do novo presidente e suas novas medidas antipopulares. A Flórida tem população hispânica muito grande, quase ao ponto de não se fazer necessário falar inglês.

Os serviços em geral são realizados com base em hispânico. Limpeza, manutenções, construção civil, transporte e outros têm imensa maioria de força de trabalho oriundos da América Central, Caribe e América do Sul. Por ser engenheiro, sempre presto a atenção nas obras de construção civil e a língua franca é o espanhol. Os americanos que trabalham no setor aprenderam o idioma por necessidade. Lojas e restaurantes são tocados por hispânicos ou são contratados se dominam o idioma.

Em todos os lugares o clima de incerteza é nítido, afinal se extraditarem os ilegais quem faria todas estas tarefas? Agentes da imigração estão dando batidas em obras, igrejas e locais de grande concentração de hispânicos; na TV,observa-se o desespero de empreiteiros com canteiros vazios, sem peão para trabalhar. Por aqui a atual administração se refere aos imigrantes ilegais como “aliens”, que tem o sentido literal de estrangeiro, forasteiro, porém é usado pelo sentido mais moderno que remete a seres extraterrestres e isto não é acaso.

Não é raro regimes reacionários desumanizarem os estrangeiros, compará-los a insetos, doenças sociais, animais. Afinal, direitos são humanos e aos não humanos ou pouco humanos estes direitos não se aplicam, legitimando a marginalização de populações inteiras. Ótimo recurso para desviar a atenção dos temas importantes e da gestão deles pelos governantes. No caso norte americano é evidente que os hispânicos não “roubam” os empregos de nenhum nativo, mas nem por isto deixam de ser hostilizados.

South Miami com seus prédios em art deco
Estádio do Inter Miami


Usei muito Uber para me deslocar e costumo puxar assunto com os locais sobre como estão as coisas e o que pensam sobre a política e os temas do momento. Encontramos muitos brasileiros, dominicanos, guatemaltecos, venezuelanos e até jamaicano. Os mexicanos são maioria no campo, trabalhando nas colheitas (onde os produtos estão apodrecendo no pé por falta de mão-de-obra). Alguns já legalizados, alguns eleitores, mas nenhum exerceu a opção eleitoral. O desinteresse é grande no processo eleitoral e não há o hábito de anular ou votar em branco. Sendo opcional, preferem se isentar. Isto torna o processo eleitoral nos EUA uma questão de quanta abstinência irá acontecer.

Quase todos se referiam a Trump como um alucinado. Apenas um salvadorenho justificava as medidas dizendo que tinha muita gente “vivendo do dinheiro do governo” e sem quer trabalhar, apontando especificamente os negros e esquecendo que ele jamais seria um “branco” naquele país. Defendeu as extradições e disse que só os bandidos estavam sendo expulsos, fato que o noticiário todos os dias demostra o contrário. A mídia tem mostrado uma falta total de critério, beirando a aleatoriedade delirante. Mães deportadas, separadas dos filhos e assim por diante.

Aliás, a imprensa se mostra perplexa. Detonaram a tentativa de Trump de não reconhecer os nascidos nos EUA como garante a Constituição. Nem abriam a um debate entre as diferentes posições e entrevistavam apenas os contrários com diferentes argumentos. Economicamente a imprensa se mostra preocupada com o isolamento do país pelo tom belicoso de Trump com múltiplos países (Europa, Canadá, México, Dinamarca, China e etc) em menos de um mês. As alíquotas de importação têm abordagem unânime de que gera inflação doméstica e instabilidade internacional.

“Você errou, desgraçado”, diz a camiseta


Miami é uma grande cidade voltada ao turismo, destino dos aposentados do país todo que buscam sol, além de milionários. Miami Beach tem a maior concentração de carros esportivos que já vi na minha vida, Porche, Lamborguini, Maseratti, Ferrari, Tesla, além dos modelos de luxo nacionais. A temperatura amena no inverno (agora) contrasta com a onda de frio no extremo norte da Flórida (a mais de 1.200km distante), o clima é caribenho, as águas claríssimas, lembra bastante alguns lugares do nordeste brasileiro. O porém é o custo de vida em Miami, muito mais cara que Orlando. Gastei muito dinheiro em estacionamentos, pois não tinha onde deixar o carro, e errei em não reservar estadia com estacionamento.

Fui à Orlando de carro evitando os pedágios. Grande parte do percurso em área conurbada, passamos por Boca Ratón, Fort Lauderdale, Palm Springs, Cabo Canaveral e viramos à esquerda para a cidade. Ficamos na área dos hotéis, a lendária International Drive cheia de strip centers, hotéis e restaurantes. Nosso hotel era próximo ao Epic MD, o maior McDonald´s do mundo onde servem hamburguers, pizzas e no andar superior espaço amplo com jogos eletrônicos.

Orlando é uma cidade grande, pouco verticalizada e muito espalhada, onde tudo é longe e voltado ao automóvel em grandes avenidas e com muitos espaços vazios. Os famosos outlets são shoppings térreos com lojas de marcas famosas: Nike, Adidas, North Face, Victoria Secret, com preços bons em alguns produtos em relação ao Brasil. Os Walmakets e Best Buys são imensas lojas de departamentos com preços bem mais em conta.

Tesla Cybertruck, conforme Stolte “o carro mais feio do mundo”


Em Orlando ficam os principais parques: Disney e Universal. São dois da Universal e um terceiro em fase final de construção. Na Disney, o complexo é mais antigo e robusto com vários parques. A Disney oferece quatro parques principais, mas com vários outros específicos para os mais aficionados. São enormes, se caminha muito e mesmo nos dias de semana bastante cheios. Achei os parques da Disney mais infantis, mais voltados às crianças. A Universal é mais focada nos sucessos do cinema, teve mais atrações para meu gosto, andei numa montanha russa que quase me matou de infarto…, mesmo não sendo fã de Herry Potter, fiquei embasbacado com a cidade temática idêntica ao filme, além da seção Star Wars, onde não deixei de tirar foto com os Startroopers, Darth Vader e com Mandalorian Din Djarin. As crianças são a desculpa perfeita para se divertir nos parques de Orlando, mas de fato são elas que mais aproveitam. Os marmanjos se divertem junto e se glorificam com o entusiasmo dos pequenos.

Uma das coisas que mais me impactou nesta viagem aos EUA foi a alimentação de péssima qualidade e a quantidade de super obesos, consequentemente. A comida em geral é processada e muito condimentada sabor Doritos, baseada em lanches saturados de gordura e refrigerantes em copos gigantescos, e o resultado não poderia ser diferente. Em geral, os refrigerantes pagando 20% mais tornam-se livres, o copo médio é maior que os copos grandes daqui e há uma miríade de variações nas marcas tradicionais. Muito popular é o Dr. Pepper, que tem um sabor horroroso de chiclete com pimenta. Os supermercados e parques têm carrinhos elétricos muito utilizados pelos hiper obesos, caso contrário não teriam acesso a estes locais pelas distâncias a serem percorridas. É comum famílias inteiras de casal com dois e/o três filhos todos muito obesos, numa proporção muito maior do que vemos aqui e claramente devido a alimentação calórica. Uma triste realidade de difícil equacionamento dentro daquela sociedade.

Dentro dos parques os preços são exorbitantes, um copo de chopp sai pela bagatela de R$80! Um botton do Mikey sai por R$60, as tradicionais orelhinhas R$20. A alternativa para um assalariado brasileiro é ver tudo e comprar nas lojinhas fora dos parques. Levei sanduíches e água na mochila, tipo farofeiro mesmo. Num almoço na Disney vi uma família de oito judeus comendo comida de verdade, perguntei onde compraram e me disseram rindo que tinham trazido de casa… me senti reconfortado com meu singelo sanduba. São muitas atrações e eventos com os personagens nos parques, filas para tirar fotos, muitas atrações com simuladores e pequenas montanhas russas temáticas que tem na saída uma loja com muitos produtos da atração.

O maior McDonalds do mundo


Os voos levam cerca de sete horas de Brasília a Miami e oito de Orlando de volta. Peguei um Boeing 737-800 com 189 passageiros esmagados em acentos que reclinam 15% e impossibilitando um grandalhão como eu de dormir. Na ida todo santo ajuda, mas a volta durante a noite, foi uma verdadeira tortura e um brutal jet-leg. Os aeroportos lá são desinteressantes, aquele minimalismo eficiente, nada especial, mas absurdamente funcional. Aeroportos são pontos de atenção, apenas um meio de te levar onde há bens e serviços a venda. Alugar carro e hospedagem são coisas realmente simples. É rápido e eficiente. Os hotéis não aceitam dinheiro, os apartamentos tem fechadura com código e você entra e sai e jamais verá alguém. O café da manhã tem panquecas com caramelo, ovos, suco de maçã ou laranja, café, torradas e só. Nada de queijo, presunto ou bolos, apenas o básico.

Individualmente aproveitei e gostei mais de Nova Iorque e Washington do que Miami e Orlando, mas como pai, a segunda opção teve muito mais retorno. A cultura ocidental é formada com os personagens dos desenhos e filmes que estão nestes parques e isto comove os jovens. O que mais quer um pai do que a felicidade dos filhos?

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