Sempre que retorno de uma viagem, a trabalho ou passeio, por mais curta ou longa que seja, sinto uma grande satisfação em chegar em casa. Nem me importo com as chatices de desfazer malas ou tirar o pó dos móveis e do piso. O bom é voltar ao lugar ao qual pertenço, o meu cantinho, recheado de encantos, tão meus, tão particulares, com tantas lembranças.
Esse cotidiano, esse pedacinho de lugar para chamar de meu, mesmo que não esteja escrito em papel nenhum, é privilégio. As notícias do mundo, esta semana, mais uma vez nos mostraram gentes sofrendo as consequências de uma infame guerra na Síria. Uma tristeza imensa tomou conta de mim diante de minha impotência, enquanto pretensa cidadã do mundo que nada pode fazer por aquelas mulheres e crianças que não tem mais o seu cantinho, ao qual chamavam de lar.
Nem tão longe precisamos ir para sentir a mesma tristeza ao ver pessoas adotando por moradia, muitas vezes, contra sua vontade, as ruas da Capital. Por aqui não são as armas de fogo as provocadoras do abandono. Há aqueles que a via pública já os institucionalizou. Seus mundos são construídos sob marquises e viadutos. Outros, que a pouco chegaram, empurrados pela miséria e com fio de esperança de conseguir ajuda para sobreviver sonham que o inóspito lar seja temporário. De quem é a responsabilidade? Alguns dirão que é da sociedade como um todo. Se assim é, também eu tenho parcela, pois sou parte da tal sociedade. Ou seria do Estado? Se for, também tenho que pagar essa conta. O que fazer?
A luta diária para garantir a manutenção de nosso lugar ao sol é tanta que, às vezes, pensamos que basta não sermos mais um a provocar espanto ou tristeza. Mas sempre dá para fazer alguma coisa pelo outro, por menor que seja. Um café, um chá, um cumprimento, mas nunca o olhar de desprezo. Pertencemos a mesma espécie: a humana. Talvez ao lembrar disso encontremos soluções.