Anoitecia na beira do rio. Cantando, o público deixou o templo com mais uma Taça. Pequena, é verdade. Obrigatória, para ser mais preciso. Porém, só há uma Taça e dois grandes, e nos últimos seis anos, foi para o mesmo clube. Foi mais que um Gauchão. Foi um Hexa. Foi o conjunto raro de seis conquistas consecutivas em meio a um período claudicante de dois anos sem estádio, diga-se de passagem. E mais marcante ainda por quem a levantou. O primeiro dessa série de seis conquistas, em 2011, foi o último campeonato disputado no Olímpico. Bolívar ergueu. Após isso, de 2012 a 2015, coube ao argentino mais gaudério da história, D’Alessandro, erguê-la. 2016 reservou um momento mágico a um menino da beira do rio. Poderia ser o início de uma era de conquistas sob sua batuta, mas por essas coisas do futebol, foi uma despedida. Alisson passou mais de dez anos no Inter. Idealizou aquele momento em cada treino exaustivo dessa profissão distinta que é goleiro. E este dia chegou justamente quando ele precisava partir.
Recostou sob uma das traves de tantos milagres em tão pouco tempo e passou um filme na sua cabeça. Ali, como torcedor, menino da base, viu Fernandão, Índio, Iarley, D’Alessandro, Tinga, Clemer. Chegara a sua vez. Possivelmente nunca imaginou poder ser capitão do clube que ama, goleiro da Seleção Brasileira com 23 anos, e, no dia do apogeu, ser também um adeus. Ou talvez um até logo. Ali chorou. Partilhou do momento com seu irmão mais velho Muriel, generoso, fiel, parceiro. Nunca reclamou da condição de reserva do irmão mais novo. Era como se fossem dois irmãos colorados contemplando o apagar das luzes de um estádio com alma. O Beira-Rio é assim. Horas depois de apagar as luzes, parece que ainda podemos sentir o eco dos cânticos e a presença de torcedores física e espiritualmente. Não foi apenas uma despedida do Inter, foi uma despedida da sua casa.
O futebol tem esse componente passional que se difere das demais atividades profissionais. E, como profissional exemplar que é, Alisson aceitou uma proposta de crescimento e valorização, e teve que partir. À Roma, chega apenas um excelente goleiro. Do Inter, parte mais que isso. Um goleiro torcedor. Um colorado de coração. Capaz de comemorar os gols como se em casa estivesse, acompanhando pelo rádio. O futebol, tão frio e cruel com os torcedores que dedicam sua vida aos clubes, respira com essa cena. Saudamos a passionalidade nesse meio. Saudamos Alisson.