coluna da Vanessa

Um menino encantador – Parte 2

Mesmo num tapetão com muitos brinquedos, Murilo se divertia roendo caixas de papelão

“Quanto privilégio ter um filho com essa alma tão pura e abençoada, esse
ser de grande luz, que encanta e ilumina a todos por onde passa.”

(Vanessa Lúcio)

 

O Murilo já havia passado de 1 ano e seis meses, não fazia três meses que
ele havia aprendido a caminhar. Ainda caminhava meio desengonçado, mas não era nas pontas dos pés. Com quase um ano, ele falou ‘’sapeca’’, o nome da minha cachorrinha. Pronunciou apenas algumas vezes e depois ficou por um longo período sem pronunciar qualquer tipo de palavra.

O doutor prescreveu que o Murilo deveria ser matriculado em uma escola de educação infantil com certa urgência, pois o contato com as demais crianças seria imprescindível para o seu desenvolvimento e interação social. A adaptação na escola municipal de educação infantil não foi nada fácil. No início eram apenas 40 minutos e, mesmo com essa permanência de tão pouco tempo, o Murilo chorava insistentemente.

Mais de um mês se passou nessa tentativa de criar uma rotina e de tentar fazer com que ele se desprendesse um pouco de mim e se sentisse um pouco mais seguro com as professoras, mas quase não obtivemos resultados positivos. Eu já estava cansando e com muita vontade de desistir, mas quando eu olhava para aquele rostinho tão assustado sentia toda sua fragilidade e logo entendia que aquele primeiro
passo seria muito importante para que ele conhecesse o mundo lá fora, saísse de dentro de casa e pudesse compartilhar experiências com os seus novos amigos, isso lhe traria uma maior independência e autonomia.

Dando sequência às consultas, o doutor me relatava a possibilidade de o Murilo não fazer parte do espectro do autismo, mas talvez de alguma outra patologia. O que, para mim, não era um alívio, pois eu continuava com medo e assustada. Depois de muitas consultas, chegou o dia do diagnóstico. Saí de casa com certa leveza e esperança,
voltei pesada e de luto. Chorei por uma semana sem aparar e pensei: Vou ficar até
quando aqui sentada e chorando? E, mesmo chorando, acho que será melhor eu levantar e lutar, pois, se continuar assim, nada será resolvido.

Procurei a instituição que atendida crianças TEA na nossa cidade. Fomos muito bem recebidos e, com quase dois anos, o Murilo começou a estimulação precoce. As terapeutas sempre foram muito atenciosas conosco, comecei a ter um norte. A partir
deste momento, percebi que o autismo é um transtorno delicado de conviver, mas com muito amor, carinho, paciência e dedicação tudo ficaria bem.

Aos três anos, ele começou a pronunciar as palavrinhas, e é claro que a primeira palavra foi “mamãe”. O Murilo é muito corajoso, percebo que ele sempre enfrenta os seus medos e anseios. Quando algum som ou até mesmo algum contato não desejado interfere em sua vida ou quebra a sua segurança e desestrutura o seu comportamento, muitas vezes, ele mesmo enfrenta isso, arruma alguma alternativa de se adaptar à situação.

Todos os dias, ele nos surpreende com algo novo. Ama a natureza.

De frente para o mar, ele abre os braços, fecha os olhinhos e suspira como se estivesse abraçando aquela imensidão de águas. É um grande amante de uma noite estrelada, olha para o céu e fala “esteia’’, suspira e continua até que todos percebam a existência dessas ”esteias”. Admira a chuva cair, fazendo com que a mamãe perceba todos esses
movimentos da natureza que acabam passando despercebidos com a correria do dia a dia.

Aos poucos eu aprendo e percebo como ele recebe bem os estímulos. Ele ama bala de gomas e, através delas, aprendeu as cores. Comecei a testá-lo perguntando qual era a cor de certo objeto ou roupas, de algum muro ou casa por onde passávamos, e foi dando certo.

Assim, ele começou a mostrar que entendia muito bem os meus comandos e que compreendia o que é casa, porta, janela, muro entre outros, e que as cores não fazem parte apenas das balinhas de goma. O Murilo ama festinhas de aniversário dos amiguinhos, mas não interage, apenas observa as crianças brincar, isso me corta o coração. Às vezes surge alguma criança mais velha que tem vontade de estar com ele e acaba fazendo esse meio de campo, daí ele se sente bem à vontade e brinca, mas não solta a mão deste novo amiguinho.

O Murilo é um menino encantador, sensível, amável, carinhoso, alegre, divertido, inteligente, autêntico e muito engraçado.

É uma ótima companhia.

É dono de uma incrível expressão corporal e facial. Eu o comparo com o meu “Charlie Chaplin”.

 

 

 

 

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