Defesa da alegria
(Mario Benedetti)
Defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas
Defender a alegria como um princípio
defendê-la da surpresa e dos pesadelos
dos neutros e dos neutrões
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos
Defender a alegria com uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingénuos e dos canalhas
da retórica e das paradas cardíacas
das endemias e das academias
Defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e do fardo
da obrigação de estarmos alegres
Defender a alegria como uma certeza
defendê-la do óxido e da sujeira
da famosa ilusão do tempo
do relento e do oportunismo
dos proxenetas do riso
Defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos sobrenomes e dos lamentos
do azar
e também da alegria.
:
Defender a alegria? Sim.
Porque temos dias atribulados demais, problemas demais, fatos demais, ideias demais. É preciso pausar. É preciso atentar para o dia de descanso. É preciso ser alegre por princípio: alegrar-se é um verbo de primeira conjugação e de conjugação primeira.
No poema que trouxe hoje, o autor uruguaio Mario Benedetti propôs a defesa da alegria. Eu aceito sua ideia.
Aceito porque, dia 28, minha mãe completou 75 anos de vida. Dona Olga é uruguaia, como o autor do poema, e foi uma mulher valente, ao vir para um novo país, com filhos pequenos no colo. Nunca perdeu a alegria, apesar de todas as dificuldades.
Estou alegre por tê-la ao meu lado. Esta é a minha homenagem.
Que possamos ser alegres, hoje, pelo motivo que acharmos melhor. Ou, simplesmente, porque aceitamos defender a alegria, como uma bandeira, como um princípio, como um direito, como um poema.