histórias da lau

Uma criança de Câncer

O Nando e a Lau

Eu nunca havia lido, tampouco acreditado, em astrologia, signos. Pensava ser impossível definir temperamento pela data e hora de nascimento. Para ser sincero, sigo sem ler profundamente sobre o tema, no entanto, de tanto visualizar comentários nas postagens das pequenas histórias que faço da Lauren, do tipo “ela é de câncer??”, “é canceriana?”, comecei a atentar mais para o assunto.

Como sigo sem ser um expert no assunto, vou aqui detalhar pequenos acontecimentos na curta trajetória dessa pequena que, há pouco completou dois anos, e deixo para quem entende, avaliar se a astrologia influencia no nosso temperamento.

 

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Quando tinha sete, oito meses, a Lauren mamava entre uma e duas da manhã. Aquele chorinho era o start para a mamãe correr e pegar ela, e o papai voar até a cozinha para fazer o leitinho quente. Um dia pensamos: e se nos antecipássemos dando a mamadeira sem ela pedir, num horário aproximado que ela mamava? Evitava dois soldados no serviço e poderíamos nos revezar. Fui escalado para a primeira tentativa. 1h50 peguei ela do berço, acomodei na cadeira de balanço e tentei dar o mamá. Ela choramingou e recusou o leite. 1h55 a coloquei de volta ao berço. 1h57 ela chorou pedindo leite. Claramente uma mensagem subliminar como se dissesse ‘eu me governo’.

 

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Há uns meses, ela precisava tomar um remedinho. Já não é mais tão fácil quando ela não tá afim. Ela chama o bico de memé, não me perguntem porquê. Acordou, a arrumei para a escolinha e fui dar o remédio. Não quis. Disse que, se não tomasse, não ia ganhar o memé. Ela assentiu com a cabeça como se concordasse em perder o que mais gostava em detrimento de tomar o remédio. Fiquei com o remédio na mão observando suas reações. Deixei o memé no sofá, ela se escorava olhando fixamente o bico. Eu perguntava: ‘filha, quer o memé?’. Os olhos brilhavam, ela levantava a cabeça, mas logo lembrava da condição para ter o bico de volta e, com dor no coração, respondia: “Lau não quer memé”. Deixei para dar o remédio no carro, ela nunca dispensou o uso do memé nos trajetos. Chegou no carro, a acomodei na cadeirinha, perguntei se estava tudo bem, se queria algo. Com tristeza no olhar tornou a dizer: “Lau não quer o memé”. Tive que dar o remédio na escolinha, contra a vontade.

 

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Esses tempos, estávamos, Lauren e eu, assistindo a Galinha Pintadinha. Vejo no relógio que vai começar o jogo da Seleção, troco o canal, Galvão dando boa noite, transmissão começando. Assim que percebe que tirei do desenho, ela inclina o corpo, tira o bico, a expressão é comovente, os olhos enchem de lágrimas, e, como se o mundo fosse acabar, exclama com voz trêmula, me olhando assustada: "NÃO, PAPAI!". Comovido, volto rapidamente à Galinha Pintadinha. No mesmo instante as lágrimas somem, ela traz o bico de volta à boca, e com ternura me agradece sorrindo calmamente.

Tudo isso em menos de vinte segundos.

 

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Recentemente, ela incorporou ao seu hall de dramaticidades uma chantagem emocional que eu ainda não aprendi a resistir. Quando ela quer MUITO alguma coisa, ao invés de me chamar de pai, agora fala 'paizinho'.

– Pai, dá bala Lau?

– Não, filha, tu já comeu.

– Ah, paizinho, bala Lau, paizinho…

Adivinha? Eu dou. Ainda não sei resistir.

 

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Lauren é uma criança doce. Tem gostado mais de assistir a Peppa porque pode, a todo o momento, indicar o papai e a mamãe. “Pai Peppa, mãe Peppa”. É apegada à família, afável, troca de humor a cada dez segundos. Tem dois anos, mas alguns dias acorda de mau humor, chorosa, pedindo colo. Outros, acorda pulando, sorrindo, toma a iniciativa de levar um puff ao banheiro para escovar os dentes, faz pose para foto.

Se essa oscilação de humor, dramaticidade, doçura, são elementos de astrologia, eu não sei. Quem é de Câncer pode falar.

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