a coluna da jeane

Uns versos de braço quebrado – 3

Livre da tala, enfim! Mas com a mão igual a um pãozinho italiano de tão inchada. É efeito normal do pós-operatório, mas incomoda. Enquanto estou quietinha o local da cirurgia até não dói, mas quando preciso levantar… Mesmo com três remédios pra dor, é cada puxada!

E ainda tem o antibiótico: o negócio tem um gosto e um cheiro tão ruins que acho q se o coronavírus passar perto vai sair correndo. É daqueles comprimidos que a gente engole rápido e trancando a respiração.

Da cirurgia mesmo não sei nada, depois que botaram remédio na veia e uma máscara azul na cara soltando um arzinho, só acordei na recuperação. Raiva passei na entrada, enquanto esperava para fazer a internação: gente com o nariz para fora da máscara. Falta de noção! E os lesados buscando a emergência para fazer exame de covid, sendo que o Hospital de Campanha foi bem divulgado? Estavam em Nárnia?

E eu precisei ir com acompanhante, no caso minha mãe, que é idosa. A sala de espera do centro cirúrgico estava cheia, como não se preocupar? O jeito é não pensar muito para não pirar. A sala de recuperação lotada, tinha até uma mãe com recém-nascido do meu lado, se recuperando de uma cesariana, o que indica que o andar da maternidade estava lotado também. A emergência do SUS estava fechada por superlotação. Nosso hospital está em colapso, sim.

Do atendimento não posso me queixar, todo o pessoal de enfermagem foi muito atencioso e cuidadoso comigo. E estavam trabalhando de bom humor, mesmo em meio a uma situação que é tensa.

Ainda tenho uns dias pela frente de remédios, alongamentos e compressas geladas. O pós-cirúrgico está sendo mais pesado do que eu imaginava, mas percebo que cada dia está melhor. Só na outra semana terei consulta o médico. Já que o medo da Covid rondou por aqui, vou deixar hoje os poemas que escrevi nesse período de isolamento e pandemia.

 

PANDEMIAS

os sorrisos estão cobertos

mas a alma se vê nos olhos

e o caráter se desnuda

em palavras e atitudes…

tempos contraditórios:

quando mais se usam máscaras

é que mais se vê

a verdadeira face;

para pobreza de espírito

não existe disfarce.

 

 

DO GRANDE AMOR

Tão belo entender,

em tempos agrestes

e um tanto tristes,

que seu grande amor

precisa ser você. 

Só quem se ama bastante

ama de verdade

o semelhante

e o diferente.

Sente?

Amor é plantinha

que cresce cá dentro

antes de botar semente

em outro coração…

Amar a si mesmo

nos torna mais forte

para qualquer viração

para qualquer febre

seja de vírus

ou de paixão.

 

VIRAIS

A flor-de-maio floriu em junho

Fez sol de verão no inverno

Os abraços ficaram na espera

Tudo tão estranho no mundo

Tempos sem grandes planos

além de nos mantermos vivos

e de contar os dias…

Tempos em que sobram suspiros

e para tantos falta o ar.

Tortuosos tempos…

Os sorrisos cobertos

fazem mais falta

do que esperávamos sentir.

O maior sufoco

não é do pano,

mas de não saber

até quando

seremos reféns

de um vilão que 

os olhos não veem.

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