a coluna da jeane

Uns versos de braço quebrado – 4

Ilustração SARAH JOHN

Ainda dói e tenho que ficar com o braço na tipoia, mas cada dia me sinto um pouco melhor. O inchaço diminuiu, e já consigo “me ajudar” mais com a mão esquerda. Cada coisa que consigo fazer sozinha é uma vitória! Tenho até que me conter para não me empolgar e mexer demais.

Mas é bom demais, depois de três semanas da fratura, conseguir deixar o braço solto de novo, sem apoiar com a outra mão. Sinal de que a cirurgia deu certo! Ainda tenho algum tempo de recuperação pela frente, o dedão continua com o movimento restrito, mas já dá sinal de vida quando tento erguê-lo! O que já me deixa muito otimista.

Quando fica mais dependente por um tempo, a gente passa a valorizar coisas que parecem banais, como um banho de chuveiro. Foram três semanas na canequinha e mal aguentando ficar em pé, precisando que a mãe ajudasse a me lavar. Agora estou desfrutando a alegria de conseguir deixar o braço ao lado do corpo e entrar no chuveiro, me ensaboar. Parece a melhor coisa do mundo!

Entre dores e alegrias, assim tem sido os dias. E não é assim a vida? Com calma, logo o bracinho estará forte de novo.

Hoje eu deixo um poema-desabafo que escrevi pouco antes do tombo, naquele mesmo dia. E que ganhou uma ilustração linda da querida Sarah John, parceira do coletivo Nós, as Poetas. Muito orgulho de construir com pessoas tão talentosas!

 

CHEGA!

Nascer mulher: que sina!

Tem que furar as orelhas,

que horror acharem que é menino!

Tem que sentar direito,

tem que cobrir o peito,

mesmo sendo criança

já tem que se dar respeito…

Porque sabe como é,

homem não tem jeito.

(E mulher, mesmo menina,

já sabe cuidar da vida.)

 

Quando cresce, só piora…

Não vá sair com as pernas de fora!

Evita o decote

Evita a calça justa

Como se adiantasse…

Você sabe que não estaria segura

nem se estivesse de burca!

 

E nem na hora da festa

o sossego se manifesta…

Melhor não beber mais um copo

Melhor ir mais cedo pra casa

Melhor não confiar na paquera

Dançar é o que nos resta

Mas sem desligar o alerta!

 

É cansativo ser mulher…

Ter vagina, peitos e curvas

nos coloca sob ameaça.

Como amar nosso corpo se ele

todo dia se torna um fardo?

Como encontrar nossa forma feminina

se nos tratam como personificação do pecado?

 

Chega, chega

de viver com tanto peso.

Não é justo

passar pela vida com medo…

Chega!

Me dê sua mão, irmã

Vamos juntar nossas forças

E quem quiser

que nos chame de loucas!

Seremos loucas felizes

construindo espaços de paz.

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