tragédia da chape

Valeu, Filipe! O grito da torcida que ele não ouviu

Centenas de pessoas foram à Arena do Grêmio para se despedir do zagueiro Filipe neste domingo

O hall do portão A da Arena do Grêmio, de muitas alegrias e comemorações, por onde passam os vips que vão aos camarotes, cadeiras gold e associados da elite gremista para assistir às partidas do clube, se transformou em local de tristeza, neste domingo (4/12).

Centenas de pessoas de muitas cidades da Região Metropolitana, especialmente de Gravataí, foram levar o abraço aos familiares e se despedir do zagueiro Filipe José Machado, que nasceu em 13 de março de 1984 e morreu dia 29 passado, aos 32 anos.

Filipe estava no fatídico vôo da empresa LaMia que levava a delegação – atletas, comissão técnica e dirigentes – da Associação Chapecoense para o jogo de ida da final da Copa Sul-Americana deste ano, contra o Atlético Nacional de Medellín.

Pouco antes do aeroporto, uma pane seca (falta de combustível) causou a queda do avião provocando a morte de 71 pessoas. Além da delegação, estavam no vôo jornalistas e convidados. Seis pessoas sobreviveram à queda.

 

Adeus a Filipe

 

O caixão com o corpo de Filipe chegou a Porto Alegre na noite de ontem junto com outras vítimas da tragédia, como os também jogadores Matheus Biteco e Denner. E passou a noite na Arena onde, pela manhã, iniciou o velório público.

Muitos amigos e até familiares usaram camisas da Associação Chapecoense e um grupo mandou imprimir uma série especial. Na frente o nome do “time”: Filipe Machado F.C., com o logo da Chapecoense e o agora famoso #ForçaChape.

Nas costas o nome Filipe e o número 84, uma referência ao ano de nascimento do jogador, que era natural de Gravataí. Outro time que também foi se despedir do amigo foi o “Quinta Futebol Clube”.

— Há mais de 15 anos a gente se reúne sempre nas quintas-feiras para bater uma bolinha, jogar futebol sete — contou um dos integrantes do grupo, o advogado e empresário André Fonseca.

Ele disse que conhecia Filipe desde os 15 anos, aproximadamente, e que as casas das duas famílias ficavam próximas.

— Sempre que ele estava em Gravataí, e tinha tempo, ele ia jogar com a gente. Era um cara muito legal, uma pessoa maravilhosa e que estava sempre alegre, de alto astral e brincalhão — completou André.

 

: Osmar Machado (camisa branca), pai do jogador, recebe abraço do time Filipe F. C.

 

Homenagens

 

Várias coroas de flores foram enviadas em homenagem a Filipe. Entre elas, dos colaboradores da Arena Porto Alegrense, da direção do Grêmio, do atual vice-presidente de futebol do Inter, Fernando Carvalho, e outra da diretoria do Sport Clube Internacional.

O time dos amigos Filipe Machado F.C. entregou à esposa Aline e à mãe Desirée, um texto em homenagem ao zagueiro morto no acidente aéreo. A iniciativa foi do ex-treinador de goleiros do Inter, João Batista Marques.

Os dois conviveram por cerca de três anos quando o gravataiense jogava na base colorada. João Batista, de São Leopoldo, conta que ele e o zagueiro eram muito amigos e que mantinham contato frequente, mesmo que fosse por telefone.

 

: Como no futebol, time de amigos posa para foto com a mãe Desirée e a esposa Aline, as duas ao centro

 

Outro que foi do Vale dos Sinos até a Arena para dar adeus ao amigo foi o empresário do ramo imobiliário Roberto Saraiva. Ambos jogaram juntos no Internacional. Saraiva, como ainda hoje é chamado, revelou o apelido de Filipe: Nariz!

— Não dá para acreditar e nem aceitar que isso está acontecendo. O “Nariz” era um baita amigão, vivia agitando e era o mais ativo no nosso grupo de WhatsApp. Não tinha tempo ruim pra ele, por isso é muito difícil entender o que está se passando — disse, emocionado.

 

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Da Bélgica

 

O ex-lateral direito Marcos Camozzato, ex-KSV Roeselare, da Bélgica, que encerrou a carreira no ano passado, foi mais um que conviveu com Filipe Machado na base do time do Beira-Rio.

— Do Filipe resta a lembrança de um grande amigo e da alegria que ele tinha em tudo que fazia. Levo pra mim a lição de vida que ele nos deixa, a forma de viver que ele tinha e a valorização à família — falou Camozzato.

 

: Lateral Camozzato, ex-Bélgica e aposentado do futebol, conviveu com Filipe na base colorada

 

Mais um integrante da base colorada e que foi à Arena do Grêmio foi o goleiro do Goiás, o viamonense Renan Brito Soares. O atleta, de 31 anos, revelado em 2005 no Inter, aproveitou para conversar com amigos e ex-atletas. Renan não falou com a imprensa.

 

: Goleiro Renan (óculos escuros), do Goiás e ex-Internacional, vestiu a camisa do time de Filipe

Autoridades

 

Vários vereadores de Gravataí estiveram no velório de Filipe. Os mais envolvidos foram os amigos diretos de Filipe e da família, Evandro Soares (DEM) e Alan Vieira (PMDB). Outro que o Seguinte: viu por lá foi o vereador Dimas Costa (PSD).

O amigo da família e prefeito de Gravataí, Marco Alba (PMDB), também esteve na arena gremista e conversou com os pais do jogador, Osmar e Desirée, entre outros parentes e amigos.

— Vim trazer a solidariedade do povo de Gravataí neste momento difícil que eles estão passando — limitou-se a comentar o prefeito.

 

: Marco Alba (centro), amigo da família e prefeito de Gravataí se solidarizou com Osmar (direita) pai de Filipe

 

Mais emoção

 

Por volta das 12h30min começou a movimentação pelo encerramento do velório, quando aconteceram os momentos de maior emoção entre as centenas de pessoas que se aglomeravam no hall da Arena do Grêmio.

A mãe, Desirée, ensaiou um discurso lembrando que Filipe foi um filho e irmão querido, e agradeceu a todos que foram homenageá-lo, se despedir do jogador e confortar os familiares.

— Fica a ausência física dele, agora, mas o Filipe vai continuar na lembrança de todos nós, para sempre — conseguiu dizer, já com voz fraca e embargada.

Outros familiares completaram o raciocínio inicial de Desirée, dizendo que Filipe foi um pai querido, um cunhado querido, e elencaram outros adjetivos elogiosos ao zagueiro, enquanto funcionários da funerária retiravam coroas que estavam sobre o caixão.

— Ele sempre foi o amor da minha vida — limitou-se a dizer a esposa, Aline Penteado Pereira Machado, mãe da Antonella, amparada por familiares.

Do meio do público um anônimo gritou:

— Falo em nome de todos os anônimos que estão aqui, não sou de nenhuma entidade e nem político. Dona Desirée, só quero agradecer, dizer muito obrigado por ter nos dado o Filipe e a alegria de conviver com ele.

Foi muito aplaudido e, depois, uma oração, o Pai Nosso, foi rezada por todos.

 

: Dona Desirée, mãe do jogador, acompanhou o cortejo amparada por duas das três filhas

 

Violino

 

Antes de um grupo de amigos carregar o caixão de Felipe até o carro fúnebre, um violinista executou “Somewhere Over the Rainbow” (Além do Arco-Íris, tradução literal)  e, enquanto o cortejo se deslocava, tocou “Amigos para Sempre”.

 

: Amigos carregaram o caixão com corpo de Filipe até o carro funerário. À direita, a esposa, Aline

 

Quando o caixão foi colocado no carro mortuário que o levaria ao Crematório Metropolitano para uma cerimônia exclusiva à família, antes da cremação, irrompeu no saguão um “valeu, Filipe!”.

E todo mundo gritou.

— Valeu, Filipe!

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