política

Vereador de Gravataí coloca Enéas na parede; O Bolsonaro com QI

Vereador Fernando Pacheco, o Deadpool, foi eleito para o primeiro mandato com 2.162 votos

O vereador estreante Fernando Pacheco, o Deadpool, é da turma do ‘nem-nem’, que descrevo em  Onde estarão políticos de Gravataí após fracasso do ’nem-nem’ deste domingo? O ’ex e o futuro presidiário’. Apesar de ainda estar no DEM de Onyx Lorenzoni, não simpatiza com Bolsonaro ou Lula.

– Buena: entre incompetência crônica e outras patologias presidenciais, aí meu ídolo – enviou-me mensagem pelo WhatsApp, junto a foto de Enéas Carneiro na parede de seu gabinete na Câmara, em uma montagem sobre quadro de Lula presidente.

Avalio que ao enquadrar Enéas como Jesus Cristo, está mais próximo do lado extremo direito da ferradura ideológica, se o cativou o conteúdo, e não só a forma do folclórico político.

Testemunhei a ascensão e morte do acreano. Tinha 14 anos na eleição presidencial de 89, quando irrompia em segundos na TV com o “meu nome é Enéas”. Quando faleceu, em 2007, tinha raspado a famosa barba. Bolsonaro foi no velório e também disse ser admirador do médico cardiologista.

– Um homem do futuro – disse o então deputado federal e animador do Super Pop da Luciana Gimenez, viajando na loucura do nióbio substituir o agronegócio brasileiro.

Como conta a BBC, o filho Eduardo Bolsonaro propôs lei para que Enéas fosse incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, lista de personagens que, segundo página do Senado, “protagonizaram momentos marcantes da história do Brasil”. Entre os 41 aprovados pelo Congresso estão Tiradentes, Zumbi dos Palmares, Dom Pedro I, Santos Dumont, Chico Mendes, Getúlio Vargas e Heitor Villa-Lobos.

“Seu valoroso nacionalismo e sua oposição ao comunismo o qualificam como herói da pátria”, justificam pai e filho no Projeto de Lei 7.699.

Não há parâmetro com a inteligência e cultura do deprimente da república. Mas Enéas tinha um discurso tão autoritário quanto. Injusto culpa-lo por chocar o ovo da serpente do bolsonarismo, mas seu um milhão, quinhentos e setenta e três mil, cento e doze, que em São Paulo o elegeram como o deputado federal mais votado da história, já antecipavam o voto ‘contra tudo que está aí’.

Na política, PT e PSDB, por exemplo, eram iguais para Enéas, assim como os zaps da seita que hoje desgoverna o país.

Ícone do conservadorismo e defensor dos “valores da família tradicional brasileira”, talvez não curtisse muito o projeto de seu fã vereador Deadpool, que tratei em artigos como Aprovada Frente LGBTQIA+; Câmara de Gravataí teve seu dia de Stonewall Inn, e trevas.

Já disse Enéas que homossexuais eram “um desvio” e pertenciam a um “grupo que, se se generalizasse, representaria a extinção da espécie”.

Crítico de George Soros como o ‘mito’ e Olavo de Carvalho, defensor do armamento da população e do aumento do contingente do Exército, onde começou a carreira, “denunciava” interesses internacionais por trás da demarcação na Amazônia e visitou reservas junto de Bolsonaro.

– A terra dada aos índios é suficiente para eles andarem por ali durante 600 anos e sequer chegarem a conhecer toda a região. Tudo isso está altamente programado por um monstruoso poder alienígena (estrangeiro), que tem interesse nas riquíssimas jazidas que estão no subsolo brasileiro – disse, na volta.

Já Bolsonaro cometeu das suas:

– Grande parte dos índios são brasileiros como nós: ele quer ter energia elétrica, televisão, namorar uma loirinha, ter internet.

Como também conta a BBC, o historiador e pesquisador da PUC do Rio Grande do Sul Odilon Caldeira Neto, e autor da tese de doutorado Meu nome é Enéas!, observa que os dois políticos se aproximam pelo discurso nacionalista e pela “tentativa de criar uma forma autoritária e conservadora de estruturar a nação brasileira”.

Ele aponta, alerta a reportagem, que Enéas discordava de Bolsonaro em relação à ditadura militar. Em entrevista ao programa Roda Viva, em 1994, o médico criticou o regime por asfixiar a imprensa e por "esquecer uma coisa fundamental: a formação do cidadão, o investimento no homem". No manifesto de fundação do Prona, de 1989, o partido diz que a ditadura “não foi um período de felicidade para o povo brasileiro”.

– Já Bolsonaro tenta se colocar como um herdeiro do regime militar – compara o historiador, que faz outra diferenciação, usando a crítica de Enéas à baixa escolaridade de Lula:

– Enéas acreditava que só poderia ser uma liderança porque tinha uma formação intelectual e sempre fazia questão de mostrar seu vasto currículo e conhecimento, uma distância muito grande do que promove Bolsonaro, que faz um discurso em defesa da não-intelectualidade.

É o historiador, ouvido pelo jornalista João Fellet, que diz que após lançar o Prona, Enéas conquistou o apoio de centros de estudos integralistas, movimento nacionalista inspirado no fascismo italiano e que teve como destaque o político e escritor paulista Plínio Salgado (1895-1975) – apesar de, quando entrevistado, dizer que seu único vínculo com o integralismo era a postura nacionalista, não o fascismo.

Quando recebi a mensagem do Deadpool, alertei-o para o fascismo enesiano.

– Quero ver me provar isso. A inteligência dispare sobre qualquer outro – respondeu o vereador.

Ao fim, aí está o artigo.

Era o político, conforme o jornalista Fábio Peixoto contou em “O perigo real de Enéas”, publicado pela Super Interessante, defendido pelos Carecas do ABC, uma gangue da periferia de São Paulo.

Além de provocador, nada a ver com o que conheço de Fernando Pacheco, ao menos até agora.

Reputo foi Enéas – em seu discurso, já que não teve possibilidade da prática de governar – não muito mais do que um Bolsonaro com doutorado e QI elevado.

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