O vereador Demétrio Tafras (PSDB) ganhou mais uma secretaria municipal para sair da disputa pela Presidência da Câmara de Gravataí e apoiar uma candidatura única do governo, Alex Peixe (PTB). Brasília é aqui? Isso é ruim? Respondo.
Antes, vamos às informações.
Reportei nesta quinta-feira – leia em O candidato único do governo Zaffa para Presidência da Câmara de Gravataí e o fantasma que o assombra – que o prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) tinha baixado para a articulação política para evitar uma crise na base governista e o recibo foi a indicação de Leandro Ferreira para a Governança e Comunicação. Em seu lugar, no Esporte, assume Vanderlei Moreira da Silva.
Os dois são ligados a Demétrio, presidente do partido com a licença pedida por Zaffa logo após se filiar e assumir a presidência.
Candidato a vereador em 2024, Airton Leal (MDB), que ocupava a secretaria, ‘ganhou’ férias, mas não deve voltar ao governo caso decida apoiar o ex-prefeito Marco Alba (MDB) e não a reeleição do prefeito.
Ao Seguinte:, Zaffa disse que precisava dar “uma guinada” na SGCOM, que vai receber também a Cultura, com investimento no prédio da antiga Prefeitura, Casarão dos Bina, o Quiosque reformado, um teatro no Centro Administrativo e outra sala para teatro no antigo cinema da cidade.
Na prática política, a saída de Demétrio da disputa – e o fim de acordo que previa o PSDB na presidência em 2024 – garante a Peixe 12 votos, a maioria mais um.
A novidade deve ser Anna Beatriz da Silva (PSD), vereadora de oposição e esposa de Dimas Costa (PSD), como vice-presidente e indicando um dos cargos administrativos ligados à mesa diretora – mesmo se tratando de diferentes poderes, Executivo e Legislativo, uma negociação que alimenta a ‘fofoca interminável’ de que o grupo do secretário-adjunto do Estado pode restar na base do governo.
Confirmada a articulação para presidência, Peixe teria, além dos votos dele e de Anna, Bino Lunardi (PDT), Bombeiro Batista (Republicanos), Cláudio Ávila (União Brasil), Clebes Mendes (MDB), Demétrio Tafras (PSDB), Evandro Coruja (PP), Fábio Ávila (Republicanos), Fernando Deadpool (Patriotas), Márcia Becker (MDB) e Roger Correa (PP).
Na oposição restariam oito: Alan Vieira (MDB), Alison Silva (MDB), Áureo Tedesco (MDB), Carlos Fonseca (PSB), Claudecir Lemes (MDB), Mario Peres (PSDB), Paulo Silveira (PSB) e Thiago De Leon (PDT).
Dilamar Soares (PDT), que já apresentei como vereador mais próximo de Zaffa, deve se abster. É notório que não vota em Peixe pela candidatura ter apoio de Cláudio Ávila.
Chegamos na ‘Gravataí-Brasília’.
Adversários do prefeito, vereadores em tribuna inclusive, tem tratado jocosamente, como crítica, suposta frase de Zaffa em reunião com políticos, na qual teria dito que a articulação política em Gravataí não era diferente de Brasília.
Reputo errado não está o prefeito. Nem na constatação, nem no que lhe cabe como colaboração. Isso é política, não é um crime.
A política é feita de realizações e ocupação de espaços de poder.
Em Brasília, são liberadas emendas para deputados se associarem a obras em seus redutos eleitorais. Em Gravataí, vereadores tem suas ruas asfaltadas e serviços.
Em Brasília são negociados cargos em troca de votos, ou apoio político, como queiram. Em Gravataí também.
Lá e cá, conforme a necessidade, são liberadas obras e cargos não só para base do governo, como para oposição.
Não conheço lugar onde não aconteça e nem governante que não o faça, mesmo alguns difiram na forma: ou negociando apoios antes, ou negociando durante mandatos.
Entendo Zaffa inscreve-se na segunda categoria.
Após o rompimento com Marco Alba (MDB), neste 2023, precisou reconstruir uma base de apoio na Câmara.
Até às vésperas da deflagração da III Guerra Política de Gravataí, era delegado ao ex-prefeito e seu ‘Grande Eleitor’ de 2020 o comando da articulação política.
Fato é que a eleição de Peixe será uma espécie de coroação para Zaffa, seu ‘bem-vindo à política!’.
Quando iniciou a III Guerra, correu o prefeito, por obvio, para eliminar qualquer possibilidade de um golpeachment, como sofreu Rita Sanco (PT) em 2011 – pelo próprio grupo do qual Zaffa fazia parte – mesmo sem a ex-prefeita, até hoje, ter sido condenada por nada, civil ou criminalmente.
Depois, garantiu aprovação de financiamentos para R$ 200 milhões em obras, um acordo com sindicato dos professores que fez cair a conta do pagamento do piso com repercussão na carreira de R$ 42,5 milhões para R$ 5,3 milhões e, terça, na última sessão do ano, deve amortizar o déficit previdenciário com a cedência do prédio do novo Centro Administrativo, comprado da Ulbra, para o instituto municipal de previdência, o IPG.
Com o comando da Câmara e a ampliação da base, não deve ter dificuldades para, em 2024, aprovar também o novo Plano Diretor.
Inegável terá uma plataforma para submeter ao eleitor na campanha pela reeleição.
Ao fim, respondendo à pergunta: Brasília é aqui? Sim.
O que Lula faz em Brasília, Bolsonaro fez, Leite também no RS, Zaffa faz em Gravataí. Marco Alba é reconhecido como ‘pelé da política’ por sua habilidade. Daniel Bordignon (PT) também teve seus momentos.
O próximo prefeito, seja ele ou não, é obrigado a negociar com os políticos – que não são ETs, são o extrato da sociedade, eleitos por nós – a formação de um novo governo, a partir de compromissos com obras e cargos.
Isso é ruim?
Entendo que não. É uma característica da democracia. Ser ‘antisistema’ e criminalizar a negociação política só é bonito em campanha eleitoral. Na hora de governar se percebe que o ‘sistema’ garante um mínimo de estabilidade.
É o que chamam de Realpolitik.