No artigo O ’Beijo de Judas’; prefeito ainda tem 12 apóstolos?, publicado semana passada pelo Seguinte:, deixei lá o ponto de interrogação. Os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, insistem em cravar uma exclamação: Bombeiro Batista (PSD) votou mais uma vez com a oposição!
Conto o vaudeville.
Paulo Silveira (PSB), um dos líderes da oposição – e brabo com este escriba por ter sido chamado de possível ‘novo poste’ de Daniel Bordignon para disputa da Prefeitura em 2020 em Na mesa com Bordignon, Paulo Silveira e Dilamar; e a ausência – apresentou requerimento criando uma comissão parlamentar para fiscalizar o Hospital Dom João Becker/Santa Casa.
O pedido foi reprovado. Porém, não com, pelo menos até março, tradicionais votos dos ’12 apóstolos’ do prefeito Marco Alba (MDB). Bombeiro pela segunda sessão consecutiva votou junto com Paulo e os outros oposicionistas Alex Peixe (PDT), Carlos Fonseca (PSB), Demétrio Tafras (PDT), Dilamar Soares (PSD), Dimas Costa (PSD), Rosane Bordignon (PDT) e Wagner Padilha (PSB).
O militar já tinha contrariado orientação do líder do governo Alex Tavares (MDB) em requerimento de audiência pública, proposto por Dimas, para tratar de problemas estruturais no loteamento Breno Garcia – o que motivou a ‘teoria da conspiração’ que revelei no artigo citado acima e em Bombeiro, o voto ’Acorda Gravataí’ no Ipag Saúde? Como prefeito pode perder, sobre a possibilidade do vereador também votar contra o projeto de extinção do Ipag Saúde e, quem sabe, incentivar uma rebelião na base governista.
Bombeiro é do PSD, que tem dois oposicionistas, Dilamar e Dimas, mas, como costumo descrever, o partido ‘insípido, inodoro e incolor’ não nunca enquadra seus vereadores pelos votos. Cada um faz o que quer com seus votos na casa do Pai Dimas, presidente como relatei em Dimas fica na Câmara; sem arrego para 2020.
Assim, o militar até pode posar de independente no Grande Tribunal das Redes Sociais, mas falta combinar com os colegas do governo.
É que, como os outros 11, Bombeiro indica cargos na Prefeitura – inclusive uma subprefeitura que cobre a Neópolis, reduto eleitoral onde fez 8 a cada 10 votos em sua eleição em 2016 para o primeiro mandato – e foi contemplado na divisão de obras por região dos vereadores. Está lá, no Plano de Infraestrutura de Gravataí, a previsão do asfaltamento da Estrada Municipal, maior obra do bairro desde sempre.
Ah, lá vai o ‘perseguinte:’, como diz um vereador, fazer intrigas! Não, não foram apenas os votos ‘anti-governo’: Bombeiro foi pessoalmente fiscalizar o hospital e o posto da Cohab A. No País das Coincidências, mais uma tautocronia: alguém ligado às páginas de Facebook manobradas por Odair Goulart, seu ‘Olavo de Carvalho’, já acionou o celular para registrar a noite de fiscalização e caçar-cliques.
No grupo de WhatsApp do ‘G-8’, que reúne vereadores da base, e de onde Bombeiro foi excluído há algum tempo (antes mesmo do constrangimento criado com os colegas, por ele supostamente gravar conversas telefônicas), um parlamentar compartilhou um print da postagem. Sem legenda, por desnecessária.
Publicamente, Simone Lourenci, uma das responsáveis pelo teleagendamento na Secretaria da Saúde, fez um reparo no post onde o vereador relata ter ouvido de pacientes a dificuldade para marcar dentista por telefone, o que os obrigava a madrugar na fila.
– Bombeiro Batista Martins dentista não é pelo teleagendamento é na fila mesmo. Teleagendamento é só clínico geral. As outras consultas pra Gineco, dentista e pediatra é aí mesmo – escreveu, em comentário em um dos grupos de Facebook tipo ‘Dorme Gravataí’ que registravam o atraque do militar à UBS.
Na reunião da base do governo nesta terça, no Hotel Radar, Bombeiro não foi. Sempre que instigado pelos demais governistas, Marco Alba faz que não é com ele. Ainda. Experiente, sabe que às vezes é melhor usar a ‘fórmula 33%’: “33% das coisas podem ser resolvidas, 33% se resolvem sozinhas e outras 33% não tem solução”.
Politicamente, acerta o prefeito em não antecipar uma crise. Mas a explosão parece cada vez mais próxima de acontecer: possivelmente na primeira semana de maio, quando será votado o projeto de extinção do Ipag Saúde e Bombeiro tende a seguir seu ‘guru’, Odair, que é professor municipal e beneficiado pelo plano de saúde que atende a cerca de 10 mil pessoas, entre servidores, ativos, inativos, pensionistas e familiares.
Às vésperas de eleições, com prefeito encerrando mandato e sem sucessor definido, só Marco Alba talvez tenha habilidade para ser o ‘bombeiro’, já que o tecido que une bases de governo nestas circunstâncias costuma ser tão suscetível a incêndios quanto o revestimento de poliuretano da boate Kiss.
Isso se não estão todos soprando as cinzas.