Márcia Becker (MDB) registrou ocorrência policial e representou criminalmente contra Fernando Deadpool (sem partido) pelo suposto atropelamento de um cão sem a devida prestação de socorro em Gravataí.
Dos Grandes Lances dos Piores Momentos, os dois vereadores integram a base do governo Luiz Zaffalon (sem partido) e a Comissão de Bem-Estar Animal da Câmara.
No B.O., ao qual o Seguinte: teve acesso, registrado na Delegacia On Line RS, a ‘vereadora da causa animal’ relata:
“(…)
Na noite do dia 24, por volta das 20h, recebi pedido de ajuda para uma cadela que foi atropelada na Av. Jorge Amado pelo Sr. Fernando, veículo Brasília placa IDM6B38, que não prestou socorro ao cão, deixando na avenida, à noite, na chuva e frio, sem poder caminhar. Foi resgatada por mime tem fratura de pelve, além de escoriações. Gostaria de representar por maus tratos e omissão de socorro à vítima de atropelamento.
(…)”.
Pelo que apurei posteriormente, com base em entrevistas, áudios e prints, uma pessoa que ouviu o barulho saiu para a rua e, ao ver o animal atropelado, recolheu e, alegando não ter condições de buscar atendimento veterinário, pediu ajuda para a vereadora Cintia Rockemback, de Porto Alegre. A parlamentar orientou procurar Marcia Becker, que resgatou o animal e levou para atendimento.
Ao Seguinte:, Deadpool confirmou o atropelamento, que teria acontecido logo após sair de reunião no gabinete do prefeito.
– Meu carro tem 44 anos. Andava a 50 km/h. Era uma noite chuvosa. Não vi o cachorro atravessando. Como socorrista voluntário, sei que a premissa básica é só fazer um resgate quando a cena está controlada e segura. Ou você se coloca em risco, assim como a outros motoristas – explicou, seguindo o relato:
– Liguei o pisca alerta, encostei num posto de gasolina e liguei para a Guarda Municipal. Fizeram pouco caso. Ouvi até risadas ao fundo. Disseram que se estivesse vivo eu deveria resgatar e, morto, tirar da pista – diz, informando que já pediu cópia do áudio da ligação telefônica para Ouvidoria da Guarda Municipal.
– Não omiti socorro. Liguei para o comandante (Henrique) Gaus relatando o caso. Ele disse que a postura do guarda não foi correta e garantiu que mandaria viatura lá. Depois me informou que o animal tinha sido resgatado pela vereadora Marcia – prosseguiu, dizendo que buscou contato com a assessoria da parlamentar oferecendo ajuda no tratamento, “ou até adotar”, mas teve como resposta que “o prazo expirou para prestar socorro” quando deixou o animal ferido na pista.
– Fiquei muito triste com tudo isso. Não sou um FDP que atropela um animal e vai embora – desabafa Deadpool.
Agora sigo eu, também ativista da causa animal e, por isso, alerto aos envolvidos, e ao leitor, que minha análise possivelmente reste contaminada.
Reputo errou Deadpool.
Vamos a um exercício de lógica: se o vereador tivesse atropelado uma criança de 3 anos, deixaria o corpinho na pista até estacionar em um posto para pedir socorro?
Animais são como crianças pequenas. Para mim, ao menos.
Fato é que o político optou pela segurança que professa técnica e restou um bichinho ferido, sob risco de ser atropelado por outros carros; e o próprio vereador reporta o movimento na avenida naquele horário.
Não quero cobrar aqui que por se travestir de super-herói do cinema nosso Deadpool tenha que ser um herói da vida real. Possivelmente ganhe a causa no judiciário, por sua explicação técnica de socorrista – um enquadramento possível resta no Decreto 4.645 e na lei 9605:
“(…)
Art 3º – Consideram-se maus tratos:
V – abandonar animal doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem como deixar de ministrar-lhe tudo o que humanitariamente se lhe possa prover, inclusive assistência veterinária;
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
(…)”
Mas, absolvido ou condenado, e aí talvez reste o contágio inevitável de minha análise como ativista, entendo indefensável moralmente deixar na pista um ser vivo atropelado, sob risco de morte.
Também confirma o que, neste artigo, chamei ‘Dos Grandes Lances dos Piores Momentos’, Deadpool ser integrante da Comissão dos Animais da Câmara e ter pedido ajuda para a Guarda Municipal, a Prefeitura, o Poder Público.
Deveria saber que não há um ‘SUS dos Animais’. Não há, inclusive, legislação que responsabilize um governo, um prefeito, por um atropelamento cometido por outrem.
Gravataí é avançada como poucos municípios neste tipo de socorro de atropelados e posterior tratamento, pelo investimento na Unidade de Saúde Animal – que vem desde o governo Marco Alba (MDB) e segue com Zaffa –, mas principalmente graças a Márcia Becker, que faz atendimentos pessoais e custeia de seu bolso, praticamente 24h.
Vereador, em nenhum momento questiono a “tristeza” que relatas pelo episódio, ou a busca posterior por se envolver no caso. Mas entendo que o senhor deveria ter resgatado o animal e só depois buscado ajuda dos órgãos públicos.
Vou além na crítica: não deverias nem ter buscado ajuda pública, já que recebe um salário de R$ 10 mil mensais e poderia pagar pelo atendimento veterinário e tratamento, deixando o serviço municipal para quem não tem condições financeiras.
Ao fim, sua popularidade lhe exige sacrifícios, vereador Fernando Pacheco, o Deadpool. Não seria mais bonito do que mostrar nas redes sociais que anda numa Brasília amarela, o senhor limpar o sangue moral que restou de um bichinho abandonado na pista após ser atropelado?
É minha análise. Contaminada, admito, até me provarem em contrário. Que aprendamos todos com esse episódio lamentável.
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