RAFAEL MARTINELLI

Vereadora propõe anular sessão que cassou Rita Sanco, prefeita mais votada da História de Gravataí; O golpeachment

Rita Sanco, prefeita de Gravataí entre 1º de janeiro de 2009 e 15 de outubro de 2011

A atual legislatura da Câmara de Vereadores pode fazer uma reparação histórica: anular a sessão que, em 2011, cassou Rita Sanco (PT), prefeita mais votada em todos os tempos em Gravataí e que cumpriu uma inelegibilidade de oito anos mesmo sem restar condenada judicialmente em nenhuma das 11 denúncias. A proposta de anulação foi feita na tribuna pela vereadora Vitalina Gonçalves (PT). Explico o contexto.

A parlamentar se manifestou após os vereadores Alex Peixe (PSDB) e Claudio Ávila (União Brasil) rememorarem 2011, na última sessão. O primeiro é líder do governo. O segundo, foi autor do pedido de impedimento. O debate surgiu a partir de uma tresloucada fofoca de que políticos já contariam votos para um impeachment do prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) com menos de dois meses de mandato.

Nem escrevi sobre a história, por considerar uma fantasia irresponsável com a cidade, por não ter fundamentos políticos ou jurídicos, e natimorta, como os dias subseqüentes provaram, além de ser eu autor da expressão golpeachment – que repito há 13 anos, para descrever a sacanagem política, feita por meios legais, que afastou uma prefeita sem crime de responsabilidade.  

– A experiência de 2011 nunca mais vai acontecer em Gravataí. Foi um retrocesso histórico, algo que nunca deveria acontecer numa democracia, seja municipal, estadual ou federal – disse Peixe, cujo pai Carlinhos Medeiros (PT) foi um dos quatro que votou contra o impeachment, aprovado por outros 10 vereadores da época.

O berço político de Peixe foi aquele período de vendeta política, que Rita descreveu em livro que titulou Golpe da Injustiça.

– 2011 nunca mais vai acontecer, no que depender de mim. Me arrependi no dia seguinte – disse Ávila, que considera o processo legal, o que à época foi confirmado por 32 decisões de tribunais que buscaram cancelar a sessão de 36h, mas “desarrazoado e desproporcional”.

– Rita sempre foi uma pessoa honesta, honrada – diz, apesar de ainda ter restrições a apoiar uma anulação da sessão.

O impeachment culminou na assunção do presidente da Câmara, o falecido Nadir Rocha (MDB), ao cargo de prefeito interino, até a eleição do também já falecido Acimar da Silva (MDB) à Prefeitura de forma indireta, pelos mesmos 10 a 4.

Em 2012, Marco Alba (MDB), que estava na Disney durante a votação, e recebia notícias por um Nextel, foi eleito prefeito nas urnas.

– É momento de protagonizarmos uma ação legislativa para anular a sessão – propôs Vitalina, logo após as falas na tribuna.

Salvo melhor juízo, a Câmara tem meios regimentais para anular a sessão. Por um simples requerimento apresentado por parlamentar e aprovado por maioria simples, ou 11 votos entre os 21 vereadores.

Ao fim, reputo seria um momento histórico para a Câmara de Vereadores. Quem viveu aquele momento sabe que, para além de interesses políticos alheios ao interesse público, nada justificava um impeachment. A maioria dos gravataienses nem sabia, até ver na TV. Ainda não era tempo de redes sociais.

Se me permitem os parlamentares, sugeriria a votação num 15 de outubro, Dia do Professor, data em que, com requintes de crueldade, proposital ou por uma coincidência intrusiva, a professora foi cassada e praticamente banida da vida pública.

A anulação não devolveria ao cargo Rita, ou o vice Cristiano Kingeski, mas apagaria uma página amaldiçoada da história política de Gravataí.

Entendedores entenderão.


Aos 10 anos do golpeachment, entrevistei Rita em 10 anos do golpeachment: a politicagem e o dinheiro me cassaram, diz Rita, a ’Dilma de Gravataí’. Assista na SEGUINTE TV

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