RAFAEL MARTINELLI

Vereadores Bombeiro, Clebes e Demétrio pedem ao prefeito Zaffa para Cláudio Ávila entrar no governo; ‘De Dias Gomes’, a nova novela da III Guerra Política de Gravataí

Vereadores Bombeiro, Peixe e Ávila recebidos pelo secretário da Fazenda Davi Severgnini para tratar da crise na CAB

Não trato neste artigo de vilões ou mocinhos, mas de uma novela ao estilo ‘de Dias Gomes’, que estreou na política de Gravataí.

Os vereadores Bombeiro Batista (Republicanos), Clebes Mendes (MDB) e Demétrio Tafras (PSDB) defenderam junto ao prefeito Luiz Zaffalon (sem partido) a entrada de Cláudio Ávila (União Brasil) no governo.

O vereador é – se não em votos nas urnas, nas cobranças e críticas em plenário – um dos ‘líderes da oposição’.

Zaffa, crítico desde sempre da postura do oposicionista, silenciou. Combinado ou não, o líder do governo Dilamar Soares (PDT) se manifestou contra.

Na última quinta, Dila comunicou sua contrariedade ao próprio Ávila, informalmente, durante a sessão – onde, possivelmente sabedor do veto, retomou os ataques ao vereador, como nos Grandes Lances dos Piores Momentos que reportei em Acabou o ‘love’ político entre os vereadores Dila e Cláudio Ávila; A sessão das acusações, o #LiraNão! e a III Guerra Política de Gravataí.

Durante a reunião ordinária, Ávila negou que tenha interesse em participar do governo.

– Às vezes não ser convidado é uma deferência, porque sabem que não vai acontecer. Tentar resolver problemas da população não significa querer estar no governo – resumiu, reafirmando o que disse ao Seguinte: em “IMPOSSÍVEL”, garante Cláudio Ávila, sobre apoiar governo em Gravataí; A III Guerra Política, os zaffistas na Câmara e os infiltrados no partido comunista.

Reputo há uma cronologia – de múltiplas verdades – que permite identificar um folhetim que ameaça se estender até a eleição para a Prefeitura em 2024, o Dia D da III Guerra Política de Gravataí: Zaffa x Marco Alba, pós Abílio x Oliveiras e Bordignon x Stasinski.

Sigamos os capítulos. ‘De Dias Gomes’.

Da tribuna, Ávila, principalmente logo após o rompimento com Dila, em junho, apesar de reafirmar apoio à candidatura do advogado Diego Veiga Lima, um outsider que nunca disputou eleição, chamou Zaffa de “genérico” de Marco Alba. E projetou que, num duelo entre criador e criatura, ficaria com “o original”.

Já nas sessões da primeira semana deste mês, Ávila – coerente na incoerência, o que explica com bordão de coach: “só não muda de ideia quem não tem ideia” – sinalizou com a possibilidade da retirada da candidatura do partido, às vésperas da próxima eleição, caso fosse necessário derrotar “o cabeça branca”, Marco Alba, que apontou como “o mal maior”.

Ávila chegou a apresentar uma matemática de votos que somam vereadores – alguns de governo, outros de oposição, excluindo o MDB dos Alba – e poderiam decidir a eleição de 2024.

Cheguei a tuitar.

No fim de semana passado, duas fontes contaram ter visto postagem, logo apagada, na qual Ávila aparecia ao lado de Bombeiro sob a mensagem: “vem por aí novidades”.

Paralelamente, Odair Santos, que fez 587 votos na última eleição, e concorreria pelo União Brasil, com a concordância de Ávila, acertou-se com o Republicanos de Bombeiro – guardem esse movimento, que retomo mais abaixo na análise.

Na quarta-feira, na reunião da base, Bombeiro, Clebes e Demétrio sugeriram Ávila a Zaffa. Dila se manifestou contrário.

Na quinta, o vereador Roger Correa – do PP para onde deve ir Zaffa; leia em Prefeito Zaffa é o troféu que Celso Bernardi quer para encerrar 30 anos no comando do PP gaúcho; Os ‘cultos’ em Gravataí – saiu do grupo de WhatsApp da base do governo. O prefeito o colocou de volta.

Pelo que apurei, o vereador estaria contrariado com indicação para o governo, feita por Bombeiro, de parente seu com quem não tem boas relações.

– Não tem nada acontecendo. Só troquei de telefone – explicou Roger, ao ser questionado pelo Seguinte:.

Fonte traduz que Roger também não quer Ávila no governo e teria identificado a indicação como sendo de Ávila.

Na sessão do mesmo dia, Ávila seguiu no mesmo tom: por tudo aliviando Zaffa e responsabilizando Alba. Dila também foi atacado: “superficial”, “falta profundidade e estudo”, “fala bonito, mas sem conteúdo” & outras.

Não faltaram elogios de Ávila àquele que tinha sido seu alvo por semanas: Mauro Bossle.

O vereador conheceu o secretário da Administração e indicação pessoal de Zaffa, que com o secretário da Fazenda, Davi Severgnini, hoje um dos principais articuladores políticos do governo, o recebeu junto aos vereadores Bombeiro e Alex Peixe (PTB), que integram a comissão da Câmara que acompanha atrasos nos pagamentos aos funcionários pela terceirizada CAB e a transição para a nova empresa, Renovare.

Tuitei e Ávila respondeu. Siga o fio.

Fato é que o prefeito está experimentando seu ‘bem-vindo à política’; que antecipei no dia do rompimento com Marco Alba, seu ‘Grande Eleitor’ de 2020 em Declarada III Guerra Política de Gravataí: Zaffa vai sair do MDB para enfrentar Marco Alba; Bem-vindo à política, prefeito! e Bomba em Gravataí! Nota do MDB é um aceite da guerra entre Zaffa e Marco Alba e III Guerra Política de Gravataí: o que diz Zaffa sobre a nota do MDB e sua desfiliação.

E agindo.

Já teria formado a ‘base do Zaffa’: Dila, Peixe, Demétrio, Roger, Evandro Coruja (PP), Fábio Ávila (Republicanos) e os ex-oposicionistas Bombeiro, Clebes e Fernando Deadpool (sem partido); leia em Vereador mais votado, Bombeiro se filia ao Republicanos com Zaffa, Dr. Levi e presenças-surpresa; Mais ‘Choquei’ da III Guerra Política de Gravataí, Quincas Borba e as batatas, Ex-assessor de Jones é nomeado no governo Zaffa; Do ‘Choquei’ ao Ulysses na III Guerra Política de Gravataí e Vereador Fernando Deadpool ‘está’ no governo do prefeito Zaffa em Gravataí; O ‘Ser Político’.

Ao lado de Marco Alba seguiriam os vereadores do MDB – Alan Vieira, Alison Silva, Áureo Tedesco, Claudecir Lemes e Márcia Becker –, Mario Peres (PSDB), Bino Lunardi (PDT) e Carlos Fonseca (PSB).

Restariam na oposição Ávila, Anna Beatriz da Silva (PSD), Paulo Silveira (PSB) e Thiago De Leon (PDT).

Só que o ‘bem-vindo à política!’ traz pressões. Na física e na política dois corpos distintos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço e ao mesmo tempo dois corpos não ocupam o mesmo espaço. E quando um espaço vaga, corpos políticos querem ocupa-lo.

Há duas semanas, em reunião com presidentes de partido, o prefeito pactuou que seriam mantidos os cargos proporcionais aos votos na eleição de 2020.

Significa que o MDB vai perder espaços – aqueles da cota pessoal de Zaffa, que saiu do partido – e a ‘nova base’, ou quem mais aderir ao governo, vai ganhar cargos.

Conhecendo a aldeia, desconfio dos interesses dos três vereadores ao convidar Ávila; além, é claro, e aí inclua-se todos, apesar de só Ávila verbalizar publicamente, tirar Dila da liderança do governo – leia III Guerra Política: Líder do governo, Dila se atirou na frente da bala por Zaffa; O Borodinó, o Napoleão de Hospício e o incêndio de Gravataí.

Demétrio quer ser presidente da Câmara e já busca votos na Situação A, Situação B, Oposição A e Oposição B. Ávila seria mais um voto.

Clebes – denunciado à comissão de ética do partido, o que poderia levar à sua expulsão e até perda do mandato, por supostamente ter apoiado o oposicionista Dimas Costa (PSD) e não Zaffa em 2020, além de não ter votado para livrar Marco Alba da reprovação de contas na legislatura anterior; leia em A conspiração de Jones, Clebes, Nadir e Paulinho da Farmácia contra Marco Alba; o harakiri e o tiro pela culatra – vai sair do partido e quer o MDB fora do governo.

Sabe bem o vereador que a entrada de Ávila no governo teria potencial de fazer o MDB pedir as contas já, antecipando a saída prevista para o período eleitoral.

Aí chegamos a Bombeiro, que é devedor de Ávila, que o apoiou e lançou a prefeito até brigarem – hoje já reataram.

Uma das cenas dos próximos capítulos, ‘de Dias Gomes’, é que Ávila, caso aceito no governo, poderia em seguida se filiar no Republicanos, pelas mãos de Bombeiro, para quem está cedendo apoiadores; lembram o caso do Odair, que citei acima?

O partido restaria com três vereadores – quatro caso Deadpool também fosse aceito de volta pelos pastores da Igreja Universal do Reino de Deus – e teria força para exigir o vice de Zaffa em 2024; quem? Bombeiro, que além de ser o vereador mais votado, com 2.662 votos em 2022, e recebeu 12.756 votos para deputado federal – 10.958 em Gravataí.

O leitor mais atento à política da aldeia pode estar se perguntando: “Ué, mas Zaffa não está acertado com o vice, Dr. Levi, para repetir a chapa?”. E mais: “Dr. Levi não segue no Republicanos?”.

Acontece que se Ávila entrar por uma porta, Levi poderia sair por outra – tanto foi atacado, política, pessoal e profissionalmente pelo vereador nos últimos anos –, se filiar a outro partido e abrir uma crise na disputa pelo vice.

Não duvidem, caso isso acontecesse, o plot twist ser Ávila articulando para ser ele o vice de Zaffa.

Fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos: em 2016 incitou e depois tirou do caminho quatro vices, um deles Alex Peixe, e foi o companheiro de chapa de Daniel Bordignon – eleição na qual venceram Marco Alba, mas foram impugnados pela suspensão dos direitos políticos do hoje petista; e episódio que deu origem ao pleito suplementar de 2017 e a reeleição de Alba.

Para quem acredita ser “IMPOSSÍVEL”, não dá para esquecer de lembrar que Ávila foi vice de Bordignon depois de cassar a prefeita Rita Sanco (PT) e ser o artífice, se não do fim, nem do começo do fim, ao menos do fim do começo da derrocada do império petista em Gravataí.

– O jus sperniandi vai até 2024 – projeta um político, com eleições nas costas, que acompanha a novela e conhece as personagens.

Reputo que em um dos finais menos improváveis da novela ‘de Dias Gomes’ reste Dila imolado na liderança do governo; da ‘nova base’, um dos únicos que ainda preserva o MDB de Marco Alba como partido que ajudou na eleição do grupo de comanda a Prefeitura desde o golpeachment de 2011 – o que também o torna alvo de fogo amigo, mesmo esteja preservando Zaffa de ser chamado ‘traidor’ caso ‘demitisse’ agora o MDB que o elegeu.

Resta saber se a admiração por Zaffa, e a busca pela manutenção do projeto de poder, o fará revogar o princípio da impenetrabilidade da matéria, Lei de Newton, e permitir que dois corpos ocupem o mesmo espaço: ele e seu hoje algoz.

Ao fim, Ávila no governo seria a sacralização, principalmente por Zaffa e Levi, de ‘O Ser Político’, verbete do Millôr e entidade que transcende esquerda, direita ou nem-nem:

Ser político é engolir sapo e não ter indigestão, respirar o ar do executivo e não sentir a execução, é acreditar no diálogo em que o poder fala e ele escuta, é ser ao mesmo tempo um ímã e um calidoscópio de boatos, é aprender a sofrer humilhações todos os dias, em pequenas doses, até ficar completamente imune à ofensa global, é esvaziar a tragédia atual com uma demagogia repetida de tragédia antiga, é ver o que não existe e olhar, sem ver, a miséria existente, é não ter religião e por isso mesmo cortejar a todas, é, no meio da mais degradante desonra, encontrar sempre uma saída honrosa, é nunca pisar nos amigos sem pedir desculpas, é correr logo pra bilheteria quando alguém grita que o circo pega fogo, é rir do sem-graça encontrando no antiespírito o supremo deleite desde que seu portador seja bem alto, é flexionar a espinha, a vocação e a alma em longas prostrações ante o poder como preparação do dia de exercê-lo, é recompor com estoicismo indignidades passadas projetando pra história uma biografia no mínimo improvável, é almoçar quatro vezes e jantar umas seis pra resolver definitivamente o problema da nossa subnutrição endêmica, é tentar nobremente a redistribuição dos bens sociais, começando, é natural, por acumulá-los, pois não se pode distribuir o pão disperso, e é ser probo seguindo autocritério. E assim, por conhecer profundamente a causa pública e a natureza humana, estar sempre pronto a usufruir diariamente do gozo de pequenas provações e a sofrer na própria pele insuportáveis vantagens.

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