Há poucos dias, passei pela intensa experiência de um parto. Nasceu o Artur, e quando vi aqueles olhinhos brilhando, só conseguia pensar em uma coisa: aqueles olhinhos brilhando. Todo o resto ficou para trás.
Já no quarto, entre fraldas e choros, assisti à notícia sobre o jovem que, num desafio online estúpido de enforcar-se até faltar o fôlego, perdeu a vida.
Não consigo imaginar a mãe daquele jovem sem associar a dor da morte de um filho com a dor do nascimento. Só que a dor da perda é exponencialmente muito mais intensa – inimaginável, portanto -, porque não há olhinhos brilhando para compensar o sofrimento.
Muitas vezes já ouvi frases do tipo “não me importo que jogue, melhor ele estar em casa do que na rua”. Eu me importo. Primeiro, porque dizer isso significa que falimos como sociedade, já que seria melhor ficar recluso do que conviver, do que sair à rua, do que estabelecer laços reais com as pessoas. Segundo, porque fatos como esse do jovem que perdeu a vida comprovam que o ambiente virtual que nossos filhos frequentam precisam de constante vigilância.
Procuro conversar com meu filho Augusto sobre isso. Eu sei os sites que ele frequenta, sei os jogos que joga. Demonstro interesse pelo que faz, para que ele se sinta seguro em me contar, e não necessidade de se esconder. Não se educa com mero controle, mas sobretudo com vigilância e diálogo.
A experiência intensa do parto de um filho é para ser vivida uma vez só com cada um. Nenhum desafio estúpido deveria mudar isso.