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Vitória de mão cheia do futebol feminino

Daiane Rodrigues marcou três gols na goleada colorada | fotos EDUARDO TORRES

Havia em torno de 200 pessoas nas arquibancadas no Vieirão. Público que, para o desavisado, pode parecer pequeno em um Gre-Nal, mas, em uma quarta-feira às 15h e diante da verdadeira peregrinação do futebol feminino para decolar no Rio Grande do Sul, foi bem positivo. Em campo, as coloradas atropelaram as gremistas. Goleada por 5 a 1, com três gols de Daiane Rodrigues, um de Daiane Moretti e outro de Shasha. Gabizinha fez o gol de honra tricolor. 

Mas o que aconteceu na tarde de quarta foi um pouco mais do que só mais um jogo pelo Brasileirão Série A2 de Futebol Feminino. Foi o reencontro do futebol feminino com uma das regiões mais férteis em grandes jogadoras gaúchas. É de Gravataí o Garrincha, time de futsal campeão estadual, e é de Cachoeirinha o Onze Unidos, também campeão estadual, mas no futebol de campo feminino. Foi também uma pequena aula de civlidade no ambiente troglodita do clássico. A maior parte do público, já habituada à luta das meninas para ter o mesmo lugar ao sol que é reservado aos homens no futebol, ensaiava cânticos, gritava, apoiava o seu time e, surpresa, até aplaudia eventualmente as rivais.

 

 

Em um dos cantos do alambrado, porém, de bandeira do Grêmio amarrada, o grupinho de três "novatos" não entendeu o que acontecia ali. Primeiro puxaram um tradicional grito racista. Foram ignorados. Depois, mais um. Nada de coro. E como aquele guri teimoso em busca de atenção, apelaram para as ofensas às atletas dentro de campo. Aí tev jogadora chamada de trombadinha e mais alguns atributos machistas. Seguiram isolados, ou melhor. Ganharam um beijo do médico do Internacional na saída para o intervalo. E sossegaram.

Àquela altura, a partida já estava 3 a 0 para o Inter, que desde os primeiros movimentos mostrou a superioridade técnica que se vê na tabela da competição. Foram pouco mais de 20 minutos de muito boa organização defensiva Grêmio contra um envolvente ataque das adversárias. Aos 22, porém, comeou o bombardeio. Foram duas chances claras de gol até que, aos 29, Daiane Moretti chutou forte da entrada da área, a goleira Suka fez milagre. No rebote, a veterana Karina tentou e outra vez a goleira gremista salvou, mas a bola encontrou a cabeça de Daiane Rodrigues, que só teve o trabalho de empurrar para o gol.

Dez minutos depois, Karina atropelou a defesa gremista e cruzou para Daiane Moretti fazer o 2 a 0. Logo depois, foi a vez de Moretti servir Daiane Rodrigues, que entrou com tranquilidade na área para fazer o 3 a 0.

No segundo tempo, o Grêmio, que é dono da casa no Vieirão, foi para o tudo ou nada. A derrota representava a eliminação na primeira fase da segunda divisão nacional. E aí, sofreram o reves. No contra-ataque, primeiro Daiane Rodrigues fez 4 a 0 aos 13 minutos. Aos 16, Shasha, marcou o quinto. A partid ase arrastou até os minutos finais sem grandes riscos ao controle colorado. Em uma rara jogada de combinação do ataque, Gabizinha descontou aos 42 minutos.

E aí, outra vez um troglodita deu sinal de vida do lado de fora do campo. 

— Vocês não jogam nada. Tem que tirar vocês da folha de pagamento do Grêmio! — esbravejou o homem que entregou dois quilos de alimento não-perecível para assistir à partida.

 

Neste momento, todas as jogadoras reservas do Grêmio deixaram de olhar para o campo, viraram-se para a arquibancada. Algumas até esboçaram responder. Desistiram. A ajuda de custo média às jogadoras do clube não passa dos R$ 600. Os maiores salários do país não passam dos R$ 5 mil. 

As meninas do Grêmio saíram do campo eliminadas da competição, ainda faltando duas rodadas para o fim da primeira fase. Somaram dois pontos em cinco jogos e ainda não venceram. As do Inter, por outro lado, chegaram a 13 pontos, em uma campanha até agora invicta, de quatro vitórias e um empate. Lideram o grupo e estão a um empate de garantir um lugar nas semifinais. Chegam ao acesso as equipes campeã e vice da A2.

E após o apito final, não houve empurra-empurra, dedo na cara e outros impropérios típicos de atletas milionários. Todas as meninas, sem exceção, cumprimentaram-se. A maior parte já defendeu as mesmas camisas nas andanças entre clubes que abrem e fecham portas ao futebol feminino. Aquele grupo ignorado no começo do jogo, porém, cresceu um pouco. Ofendeu algumas das jogadoras que caminhavam para o vestiário. Não, elas não responderam. A maioria acostumou-se, infelizmente, a ouvir os piores xingamentos por se aventurarem a jogar entre homens — e em um ambiente que transpira machismo. Pareciam estar ali, vestindo as camisetas dos dois maiores clubes do Estado, para dar uma demonstração de civilidade. Que tenha servido de aprendizado aos trogloditas.

 

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