RAFAEL MARTINELLI

Zaffa aceita demissão de secretário de confiança após escândalo por denúncia de assédio sexual feita por ex-assessora da Prefeitura de Gravataí

O prefeito Luiz Zaffalon acaba de aceitar o pedido de demissão de secretário envolvido em escândalo de suposto assédio sexual a então assessora da Prefeitura de Gravataí.

O caso foi divulgado na noite desta segunda-feira pelo Jornal de Gravataí, na reportagem “Secretário de confiança de Zaffalon é alvo de denúncia por assédio sexual: servidora revela mensagens de whatsapp com propostas e fotos íntimas do secretário, só de cueca”.

– O secretário pediu demissão para se defender. Afinal é um problema particular, de relacionamento entre colegas de trabalho, que segundo li ocorreu há um ano atrás. Ainda na quinta-feira passada, ele me comunicou que recebeu diagnóstico de aneurisma na aorta e já tinha programado sua saída para cirurgia. Coisas tristes da vida e que irão se resolver em outras esferas – disse Zaffa para o Seguinte:, após reunião com o secretário.

A denunciante, em notificação extrajudicial de 1º de agosto de 2023, “exige a reparação a título de danos materiais e morais no total de R$125.223,80 (cento e vinte e cinco mil e duzentos e vinte e três reais e oitenta centavos)”.

Conforme seus advogados, nem o secretário, nem a ex-CC darão entrevista.

Sigamos a reportagem e, abaixo, analiso.

“Um dos principais secretários do governo Luiz Zaffalon é alvo de denúncia da prática do crime de assédio sexual, conforme ocorrência policial número 69705/2023/400010 contra uma funcionária da Prefeitura. De acordo com as denúncias, a funcionária alvo dos assédios, que desempenhou funções em cargos de comissão nas principais secretarias da administração, relata que o secretário “passou a assediá-la sexualmente, através de falas inoportunas, assim como pelo envio reiterado e incessante de mensagens e fotos de cunho sexual por meio do aplicativo whatsApp”.

Funcionária da Prefeitura de Gravataí de 2017 a 2020, ano em que foi demitida, a servidora foi recontratada em fevereiro de 2021, já no governo Zaffalon, e nomeada para cargo em comissão. Em 4 de novembro de 2021, foi indicada para compor um grupo de trabalho subordinado ao secretário denunciado. Conforme a funcionária, foi nesse período que o secretário teria começado com os assédios.

No dia 27 de novembro, um sábado, por whats, o secretário deu início a uma sequência de mensagens, a partir das 6h22: “Bom dia, lindinha”, com emojis (figurinhas) de corações e beijos. Uma hora depois, às 7h25, a funcionária responde: “Bom dia”. Às 7h26, ele diz: “Hoje sem caminhadas. Bom para namorar”. Ela comenta então que nesse fim de semana está com a filha. O secretário persiste: “Mas a vantagem (é) que as crianças têm sono pesado”. Mais adiante, ele volta à carga: “Um desperdício”. A funcionária questiona: “Por quê?” Secretário: “Porque tu és linda. É um desperdício no momento”. Minutos depois, ele retoma as investidas: “E a filhota ainda está dormindo?” Em janeiro de 2022, também por whats, deitado, o secretário envia foto das pernas, dizendo: “Muito calor”.

As abordagens foram se tornando cada vez mais ousadas. Em 5 de fevereiro de 2022, deitado em uma cama, o secretário mandou outra foto, desta vez só de cueca. Em uma dessas mensagens em que convida a servidora para almoçar, faz um pedido: “Tu só não pode vir com aquelas blusas, daí mata o velho”. Ela desconversa: “Mas tu faz exercício. O coração aguenta”. Secretário: “Mas tem outros que não aguenta(m). Agora mesmo já se movimentou. Vou tomar um banho”.

MEDO – Como recém havia iniciado suas atividades no setor, a funcionária alega que ficou com receio de tomar qualquer medida de cunho administrativo ou criminal contra o secretário, com medo de perder o emprego. Em razão desses acontecimentos, como consequência das investidas, ela afirma que se viu obrigada a fazer tratamento psiquiátrico – há laudos médicos e receituários na documentação que compõem a denúncia.

Após as reiteradas investidas do secretário, em março de 2022, a servidora afirma ter procurado o prefeito Luiz Zaffalon para relatar o assédio de que vinha sendo vítima. Nessa ocasião, ela pediu para, pelo menos, ser transferida, para ficar fora do alcance do secretário. Procurado pela reportagem, o prefeito afirmou nesta segunda-feira, 7, que desconhecia o assunto e que o secretário em questão “sempre se deu bem com a equipe, inclusive com ela”. Zaffalon lembrou que a servidora havia sido demitida no final da gestão anterior e que foi recontratada por ele: “Sempre foi excelente profissional e eu a trouxe de volta”.

Ao retornar de férias, em abril de 2022, a funcionária teria recebido a proposta para ser transferida para uma outra secretaria. Ela aceitou, mas a nomeação saiu somente em junho. A alegação dada pela administração para a troca de função teria sido em razão de suposta “extinção do cargo comissionado”. Ocorre que o referido cargo não foi extinto, dando a entender de que a servidora fora remanejada de setor em função das denúncias feitas ao prefeito. Desde então, por orientação médica, ela enfrentou diversos afastamentos do trabalho, até que em fevereiro de 2023 pediu exoneração, mencionando “a péssima experiência ao trabalhar com o secretário… pois uma pessoa como ele não está apta a trabalhar com seres humanos”.

O advogado do secretário se manifestou por nota, ao Seguinte:

“Caro Rafael Martinelli, o secretário foi surpreendido na semana passada por essa notificação. Como secretário, ele lembra dessa troca de secretaria da servidora, por necessidade de serviço, na época. A acusação de assédio, no entanto, não tem nenhuma procedência. O que existe até o momento é apenas uma narrativa unilateral e em certa medida descontextualizada dos acontecimentos. Estou conversando com o advogado da denunciante para entender quais as suas pretensões com essa notificação, mas o secretário assegura que esses fatos não ocorreram”.

Sigo eu.

A demissão se impunha.

Mesmo sem conhecer o inteiro teor das conversas e o contexto em que aconteceram, reputo as mensagens e imagens reveladas – e que certamente serão periciadas caso um eventual processo não seja arquivado a partir de um acerto financeiro entre as partes – não são condizentes com uma relação entre um secretário e uma assessora; mesmo que seja o prefeito o responsável por toda e qualquer nomeação na Prefeitura.

Ao fim, inegável é o escândalo político.

E Zaffa perde seu ‘número 1’, a primeira indicação de sua cota ao assumir como prefeito em 1º de janeiro de 2021.

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