“Lanceiros bravamente se defenderam enquanto foi possível. Infantes pelearam de mãos nuas. Eram homens, escravizados, em geral, de imperiais, atraídos pelos farroupilhas com a vaga promessa de liberdade. O processo de negociação que permitisse ao Império anistiar os farrapos esbarrava num obstáculo: a devolução dos negros aos seus donos. Alguns líderes farroupilhas temiam uma rebelião se esses homens traídos permanecessem no Rio Grande. Outros simplesmente se envergonhavam com a situação. Era preciso se livrar desses incômodos aliados. Porongos resolveria o problema ceifando vidas.”
Assim o jornalista Juremir Machado da Silva resumiu o Massacre de Porongos em texto para a revista National Geographic. O dia 14 de novembro de 1844 é uma mancha de sangue na história do Rio Grande do Sul. Era madrugada quando o batalhão de lanceiros e infantes negros que lutavam na tão famosa Guerra dos Farrapos, foi surpreendido pelas tropas imperiais em uma armadilha preparada pelos líderes da “Revolução”:o barão de Caxias, comandante das tropas imperiais, e Davi Canabarro, último chefe militar dos chamados “farroupilhas”. Mais de cem negros perderam a vida no episódio, também conhecido como “Traição de Porongos”, por ter acontecido às margens do Arroio Porongos, localizado onde hoje é a cidade de Pinheiro Machado. Os sobreviventes seguiram escravizados.
A memória do massacre por muitos anos ficou à sombra das supostas glórias da Revolução Farroupilha, que deram origem ao feriado de 20 de setembro, hoje conhecido como Dia do Gaúcho. Mas as verdades não ficam debaixo do tapete por muito tempo, e a história dos Lanceiros Negros vem sendo cada vez mais lembrada. Inclusive com a divulgação de trechos da carta com as orientações e a assinatura de Duque de Caxias, quando ainda era barão, que comprova a emboscada:
“Regule suas marchas de maneira que, no dia 14 às 2 horas da madrugada, possa atacar o comando a mando de Canabarro, que estará neste dia no cerro de Porongos. (…) No conflito, poupe o sangue brasileiro quanto puder, particularmente da gente branca da província ou índios.”
Assim diz o documento, preservado (em cópia do original) no Arquivo Histórico do RS. Uma carta que não deixa dúvidas de que os guerreiros pretos foram entregues à morte.
Por isso, o dia 20 de setembro deve ser um dia para celebrar a coragem e resistência dos Lanceiros Negros. O Clube Social Negro Seis de Maio vai marcar esse dia com a 1ª edição do Fervido Lanceiros Negros – História e Cultura alimentar.
O fervido, também conhecido como ensopado ou sopão, é um prato comum na culinária afro-gaúcha, tradicionalmente feito com carne, batatas e outros vegetais, reforçando a conexão entre a história e a cultura alimentar.
“Para a comunidade negra gaúcha, este evento representa um momento de afirmação de identidade e pertencimento. A escolha do fervido, uma comida simples, mas nutritiva e tradicional, simboliza a resistência e a sobrevivência da cultura negra, mesmo em condições adversas”, explica a direção do Clube.
Além desse almoço tão simbólico, o evento também terá a presença do DJ Gordex, embalando a tarde com uma seleção musical que viaja pelos sons do Brasil e pela Black Music, resgatando a energia e a ancestralidade da música afro-diaspórica.
Vamos prestigiar o Fervido Lanceiros Negros e o Clube Seis de Maio? E refletir sobre essa data central da cultura gaúcha com um olhar mais crítico?
Os ingressos, no valor de apenas R$ 20, podem ser adquiridos pelo Whatsapp, com Carmem Lúcia 51 8425.7772) ou Sílvia Maciel (51 99381.0671). É só entrar em contato, fazer o pix para a chave clubeseisdemaio@gmail.com, e depois enviar o comprovante. E no dia 20, desfrutar de um feriado com sabor e som de ancestralidade.
SERVIÇO
O que: Fervido Lanceiros Negros – História e Cultura alimentar
Quando: 20 de setembro de 2024
Horário: 12h30min
Valor: R$ 20 (Vinte reais)
Atração musical: Dj Gordex – Som Brasil e Black Music
Local: Clube Social Negro Seis de Maio
Endereço: Rua Castilho Inácio Barcelos, 124, bairro Oriçó, Gravataí/RS
Reservas e informações: Carmem Lúcia (51 8425.7772) / Sílvia Maciel (51 99381.0671)