pesquisa

30 mil de Gravataí e Cachoeirinha acreditam que a Terra é plana

Teoria sustenta que a Terra é plana e o Sol e a Lua estão dentro da nossa atmosfera

Quase 30 mil moradores de Gravataí e Cachoeirinha acreditam que a Terra é plana, se aplicarmos nas duas cidades a pesquisa Datafolha que mostra que 7% dos brasileiros, ou 11 milhões de pessoas, são ‘terraplanistas’.

São 19.706 em Gravataí, que em 2019 tem população estimada pelo IBGE em 281.519; e outras 9.120 dos 130.293 moradores de Cachoeirinha.

Fiz postagem em meu perfil profissional no Facebook pedindo contato de adeptos da teoria para ouvir os argumentos e produzir reportagem, mas não consegui nenhum depoimento. Apenas deboches. Nos comentários, que você lê clicando aqui, apenas uma leitora admitiu suspeita de que o ‘globo’ não é esférico.

– Sempre acreditei que a terra e plana nunca consegui entender o globo – postou.

A possível terraplanista não retornou os contatos do Seguinte: para entrevista. E nem consegui apurar ainda, e para isso apelo novamente à ajuda dos leitores, se conhecem alguém que participará em 10 de novembro da convenção nacional que será realizada em 10 de novembro em São Paulo, a primeira deste tipo no Brasil.

Conforme reportagem do Estadão, a idéia dos terraplanistas é sair da bolha digital, onde seguidores da teoria são contados por milhares.

“Batizada de Flat Con, o evento será uma jornada de conferências, sem cientistas, mas cheia de youtubers dispostos a convencer as pessoas de que o planeta é mais plano do que um disco de vinil. Os ingressos do primeiro lote, por R$ 80, já estão esgotados. O segundo lote ainda está à venda por R$ 110 cada. Até agora, 300 pessoas se inscreveram, o que obrigou os organizadores da convenção a mudar o local para um maior. Eles vão se reunir no Auditório Paraíso, localizado no Colégio Maria Imaculada, católico, no centro da capital paulista, das 8h às 19h”, relata o jornalista Carlos M. Sánchez.

O Estadão cita o entusiasmo do filósofo Olavo de Carvalho, guru do presidente Jair Bolsonaro, que mostra certa simpatia pelo movimento. Em um tuíte, de maio deste ano, ele disse que não estudou o assunto da terra plana, apenas assistiu a vídeos, e "não consegui encontrar, até agora, nada que os refute".

A reportagem explica que a pesquisa do Datafolha entrevistou 2.086 pessoas em 103 cidades no início de julho.

E o pior é que não é solução definitiva recomendar um ‘estudem, crianças!’. Um detalhe assustaria Fernão de Magalhães, que há 500 anos iniciou sua expedição para dar a primeira volta ao mundo: entre a população mais escolarizada, o número de terraplanistas sobe para 10%.

Mais: a teoria obscurantista e conspiratória não é ‘coisa de brasileiro’. O resultado é similar nos Estados Unidos, onde uma pesquisa da consultoria YouGov mostrou que 2% das pessoas estão convencidas de que a Terra é plana e outros 5% têm dúvidas de que seja redonda.

O Estadão colheu o depoimento de Jean Ricardo Gonçalves, de 44 anos, que se converteu ao terraplanismo em 2015. O jornalista brasileiro é promotor de eventos e organizador da Flat Con. Ele tem um canal no YouTube desde março deste ano que soma 8,2 mil inscritos e uma página no Facebook com cerca de 20 mil seguidores.

Gonçalves afirma que existem "mais de 200 provas" a favor de suas teses.

– A Terra é plana e estacionária. O Sol e a Lua estão dentro da nossa atmosfera – disse.

Segundo ele, por cima estão os outros planetas — estes, sim, esféricos, disse, mas sem terra firma para pisar —, as estrelas e o que chama de "águas externas, que a ciência fala que é o espaço, mas na realidade é água".

– Tanto é que os astronautas treinam em piscinas – acrescentou ele.

Conforme a reportagem, um dos conferencistas do evento é o empresário Gilberto Assef, de 40 anos, que garante que a Terra "não é uma bola molhada giratória" porque, segundo ele, "o horizonte sempre é plano".

– Não existe nenhuma foto do globo terrestre, todas são produzidas em computador.

A 'teoria' de muitos Napoleões de hospício é derrubada pela ciência, como alerta o Estadão. Roberto Dias da Costa é professor há 32 anos no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo e acredita que esse fervor terraplanista "é uma moda" sustentada por argumentos "infantis".

– Tenho a impressão de que é um tema não para ser estudado por astrônomos e sim por psicólogos e sociólogos, no sentido de que as pessoas gostam de pertencer a grupos, comunidades, irmandades que dominam segredos ocultos – diz o especialista.

Os alunos de Costa perguntam com frequência qual é a melhor resposta para acabar com esse debate sem sentido e ele sempre conta "o argumento grego, vigente há 2.500 anos" que se baseia na sombra que a Terra projeta na Lua durante um eclipse lunar.

– Se a Terra não fosse redonda, a sombra projetada na Lua teria outra forma, seria uma linha, uma barra, mas não; a sombra é sempre redonda e, portanto, a Terra é redonda – afirma.

Porém, há mais.

– As pessoas dizem: 'o muro do fim da Terra está na Antártida'. Houve expedições que foram até a Antártida e não tiveram nenhum problema, nem encontraram nenhum muro.

O professor segue:

– Qualquer pessoa que vá em um avião comercial a uma altura de até 11 mil metros acima do nível do mar verá a curvatura da Terra.

Para ele, o melhor antídoto contra essas ideias é "ter contato com a ciência" porque, para ele, é "libertadora".

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade