Esta terça-feira, 11 de março, marca 5 anos da decretação da pandemia da covid-19. Aproveito para lembrar ao prefeito Luiz Zaffalon da sugestão que dei em 2023, e alunos do Dom Feliciano da fabulosa Irmã Jane também o fizeram ano passado, de Gravataí construir um memorial para as mais de mil vidas perdidas. Como o segredo de aborrecer é dizer tudo (Voltaire), neste artigo trato também sobre as responsabilidades pela tragédia não ter sido mitigada: 1 a cada 4 mortes no Brasil poderiam ter sido evitadas.
Do primeiro caso local da pandemia, em 20 de março de 2020, até hoje, Gravataí registrou, conforme dados obtidos pelo Seguinte: com a Secretaria Municipal da Saúde, 43.108 infecções. Da primeira vida perdida, em 26 de abril de 2020, são 1.124 óbitos.
Em maio de 2021, mês mais virulento, registramos média de 6 mortes a cada 24 horas.
O Rio Grande do Sul soma 3.162.130 de infecções e 43.207 óbitos. No Brasil os números oficiais de hoje são de 39.210.405 de casos e 715.295 mortes em cinco anos. No mundo, 704.753.890 infecções e 7.010.681 vidas perdidas.
Nos cinco anos, foram aplicadas pela Secretaria da Saúde de Gravataí 685.670 doses de vacinas, frente a uma população de mais de 275 mil habitantes.
Agora vamos às responsabilidades.
Excluo o ex-prefeito Marco Alba e o atual Luiz Zaffalon, que enfrentaram a pandemia, assim como Miki Breier, em Cachoeirinha. Da mesma forma o governador Eduardo Leite.
Eventual culpa tem os dois primeiros, e o governador, indiretamente, por terem sido, no segundo turno de 2018, eleitores de Jair Bolsonaro.
Inegável é, porém, que suas políticas municipais e estaduais de saúde nunca foram negacionistas.
Vacinaram-se e permitiram vacinar. Usaram máscaras em público. Preservaram suas comunidades ao regulamentar atividades econômicas com decretos que as milícias de fake news jocosamente chamaram de ‘fica em casa’.
Infelizmente, restou o estrago de ter na Presidência da República um irresponsável, um desvairado, que precisou ser tutelado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ou não teríamos vacinas, ‘Orçamento de Guerra’ ou um auxílio emergencial minimamente suficiente – Paulo Guedes queria dar três parcelas de R$ 200 para desempregados e informais e mandar para casa, por 15 dias e sem salários, aqueles que tinham contrato de trabalho.
Possivelmente teríamos país afora experiências factualmente homicidas, como a ‘imunidade de rebanho’ e a cloroquina que ajudou a sufocar Manaus.
O dano foi tamanho que mesmo que as vacinas tenham evitado pelo menos 20 milhões de mortes – e ajudado a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar em 5 de maio de 2023 o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional –, saímos da pandemia com vacinas (qualquer tipo delas) mais desacreditadas que antes da covid; campanhas contra a Polio, por exemplo, beiram o fracasso e o índice de confiança na ciência atingiu o menor percentual já registrado em uma série histórica de 10 anos: 68,9% conforme pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia, divulgada em dezembro de 23.
É a herança da covidiotia.
Aplicando em Gravataí fórmula constante no relatório final da investigação feita na CPI da Covid, no Congresso Nacional, poderíamos ter evitado pelo menos 500 das 1.124 vidas perdidas, tivesse o governo federal atuado sem negacionismo, e sim em articulação com estados e municípios na compra, divulgação e aplicação de vacinas, além das comprovadamente necessárias restrições sanitárias.
Ao fim, não sou eu, são os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, que culpam por parte das mortes na pandemia aquele que, ao vivo, retirou máscara de criança, imitou gente sufocando e disse que não seria vacinado – seja verdade, ou apenas um apito de cachorro a seus símiles.
Nem uma vida será suficiente para apagar da minha memória imagens da UTI lotada, de gente embaixo de cobertores no chão do hospital de campanha, de sacos pretos que isolavam vítimas enterradas sem velório, ou do que talvez já fosse um memorial triste e macabro: o container instalado ao lado do Hospital Dom João Becker para armazenar corpos.