crise do coronavírus

5 profissionais da UPA de Gravataí tem COVID; é o ’novo normal’

Uma das desinfecções feitas pela Prefeitura na UPA Abílio dos Santos | Foto ARQUIVO

Cinco profissionais de saúde da UPA de Gravataí foram afastados após testar positivo para COVID-19. Todos estão assintomáticos e cumprem a quarentena domiciliar. O prefeito confirmou em transmissão ao vivo pelo Facebook e apelou às pessoas que não deixem de procurar os serviços de saúde em caso de necessidade. É o 'novo normal', um ‘contágio de realidade’, como tratei nos artigos Profissionais da UPA são testados para COVID 19; Gravataí tem 50 casosO ’surto’ da COVID 19 na UPA de Gravataí e o ’medo que mata’.

– Desconheço o motivo de alguns tentarem estabelecer o pânico na cidade. Nunca escondemos o contágio em profissionais de saúde nos boletins oficiais. É assim em Gravataí, no Brasil e no mundo – disse Marco Alba, agradecendo “aos trabalhadores que tem a relação mais direta com pacientes suspeitos ou com a conformação do vírus”.

– Muitos já foram afastados e depois voltaram a trabalhar – disse, apresentando dados que mostram que, entre funcionários e pacientes, uma média de 230 pessoas circularam pela UPA da 74 a cada dia da última semana.

Conforme cálculo que trouxe no último artigo, feito sobre boletins epidemiológicos oficiais, quase metade (43%) dos casos de moradores de Gravataí com a COVID-19, recuperados ou não, tem relação com as redes públicas e privada de saúde, no município ou fora dele.

A Prefeitura de Gravataí está testando profissionais de saúde da UPA que tiveram contato com dois colegas da empresa Prohealth, prestadora de serviços, que realizaram exame PCR nos dias 13 e 15 de maio, testaram positivo para a COVID-19 e já estão isolados em quarentena domiciliar.

A aplicação dos testes começou quarta e seguiu quinta e sexta, em três turnos. A SMS não informa o número de profissionais que testados.

– Estamos seguindo os protocolos do Ministério da Saúde de forma rigorosa, como já aconteceu em casos anteriores, e não se identificou surto – explicou o secretário da Saúde, Jean Torman, também alertando que serviços de saúde e transporte coletivo são potenciais transmissores, mas atividades essenciais.

Como tratei nos dois artigos (e insistirei em reproduzir hoje, devido às graves consequências de informações imprecisas neste momento, após o pânico disseminar pelas redes sociais), entre ‘culpados ou inocentes’ há um inimigo invisível, cuja picada não é a única ameaça – o medo dessa cobra silenciosa também mata.

Comecemos pela ‘picada’.

Os profissionais de saúde estão sendo submetidos aos testes rápidos oferecidos pelo Ministério da Saúde e repassados às prefeituras pela Secretaria Estadual da Saúde. É uma testagem cuja eficácia é considerada a partir do 10º dia para quem apresenta sintomas, ou do 15º para pacientes assintomáticos.

Conforme o secretário, o protocolo é o mesmo para todos os serviços de saúde. O Grupo Hospitalar Conceição e o Moinhos de Vento, para usar exemplos de hospitais públicos e privados, já registraram dezenas de profissionais com a COVID-19 e seguiram o mesmo modelo – sem testar os milhares de funcionários, que passam pela mesma porta, digitam o mesmo relógio ponto, usam os mesmos refeitórios e, também, banheiros.

As normas estão publicadas no hotsite oficial do coronavírus, criado pela Prefeitura, no link Fluxo para atendimento de profissionais assintomáticos que tenham contato domiciliar ou de trabalho com caso confirmado ou suspeito.

Gravataí já teve profissionais de saúde com COVID-19 em pelo menos duas unidades da saúde de regiões populosas, o mesmo protocolo foi seguido e, já passado o período de contaminação, ninguém foi infectado conforme registros da Secretaria da Saúde – diferente do que aconteceu na UPA, onde já há cinco contaminados.

Ao que chamo mais uma vez à responsabilidade é que, para além da ‘picada’ do vírus, há também uma mórbida consequência: o ‘medo que mata’. Vamos à ‘ideologia dos números’.

Até o Carnaval, a média de atendimentos diários na UPA e no Pronto Atendimento 24H era de 700 pessoas por dia em cada um dos serviços. Na semana passada, menos de 100 pessoas procuraram o SUS diariamente. Os exames de diagnóstico caíram 80%. Se antes faltavam consultas, hoje sobram. É só chegar e, ou esperar um pouco, ou já ser atendido – isso com uma redução de 50% nas ‘fichas’ para casos não relacionados à COVID-19.

Nesta semana, após a polêmica que começou nas redes sociais sobre o possível ‘surto’, a UPA restava praticamente vazia. Os números apresentados pelo prefeito na live comprovam: 130 funcionários e 100 pacientes/dia.

O risco do pânico é que pessoas que precisam de tratamento deixem de buscar o SUS. Não só com sintomas da COVID-19, mas também por outras doenças graves ou que precisam de diagnóstico, tratamento e acompanhamento periódico.

A Secretaria da Saúde investiga três óbitos recentes. Em dois deles, pacientes não teriam procurado atendimento em crises agudas de apendicite. Em outro, uma criança faleceu por meningite.

Como tratei nos artigos anteriores, é inegável que preocupa a UPA ter, hoje, cinco de seus profissionais de saúde contaminados e afastados – e, possivelmente, ainda terá mais no decorrer da pandemia, já que pessoas com sintomas gripais procuram os postos de saúde, o 24H, o Hospital Dom João Becker, ou a UPA; e a maioria dos profissionais de saúde que trabalham em Gravataí também prestam serviços em outras cidades da região metropolitana, epicentro da COVID-19.

Mas é um alerta tão necessário para a proteção individual quanto as confirmações, em boletins anteriores, das infecções de metalúrgicos, clientes de supers e do comércio local, alguns, muitos ou todos, usuários do transporte coletivo.

Insisto: o que escapa da lógica é ter quase 100 mil pessoas a mais consumindo em comércios reabertos, e criar no imaginário dos usuários a necessidade de um ‘lockdown’ na UPA.

Ao fim, se algum encaminhamento estiver errado em relação aos profissionais da saúde, que a denúncia seja feita. É notícia – e a Prefeitura que se apresse a corrigir – como já tratei em O medo não usa máscara no hospital de Gravataí, quando, antes da decretação da obrigatoriedade em Gravataí, dentro da Santa Casa não era exigido o uso de máscaras por todos profissionais e pacientes.

Fato é que profissionais da saúde são a linha de frente e os mais expostos ao vírus. Tratar com sensacionalismo a infecção na rede de saúde é um perigo, já que a baixa na procura mostra que não precisa ‘fechar o SUS’, o próprio povo está se encarregando de esvaziá-lo.

Tragédia será, ou já é, se gente morrer de véspera, sem procurar os serviços de saúde por medo do coronavírus, e restar em óbito por apendicite.

 

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