RAFAEL MARTINELLI

72h após desistir de candidatura para apoiar Zaffa, Capaverde assume como secretário em Gravataí; O convite de honra de Bolsonaro, o atentado a Trump e o Pequeno Príncipe

Zaffa com Capaverde, no gabinete, nesta manhã / Fotos LUIS FELIPE TEIXEIRA / Alô Gravataí

Não saiu de graça o apoio do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro: 72h após retirar a candidatura a prefeito e anunciar adesão à reeleição de Luiz Zaffalon (PSDB), José Capaverde (PL) tomou posse como secretário de Governança, Comunicação e Cultura (!) e o partido indicará cargos na Prefeitura de Gravataí. Capa tem 27 anos, cursou Direito na Ulbra e é presidente municipal do partido e também da juventude estadual. O atual secretário, Giulliano Pacheco, passa a ser adjunto.

Acertei na previsão, há duas semanas, em PL faz da candidatura de Capaverde a prefeito uma fake news; O bolsonarismo ‘pra negócio’ em Gravataí.

A cerimônia aconteceu na manhã desta segunda-feira, no gabinete do prefeito, com a presença do vice-prefeito Dr. Levi Melo (Podemos) e do padrinho da aliança, o deputado federal mais votado do Rio Grande do Sul, Luciano Zucco (PL), que ganhou Gravataí como moeda de troca de Giovani Cherini, a quem Capa é ligado, para aliviar a pressão para substituição do presidente estadual, que, com os dias contados, fica pendurado no cargo ao menos até a eleição, quando deve perder o lugar para Marcelo Moraes.

Os discursos foram comedidos. Não se falou diretamente na aliança pela reeleição, cujos detalhes já reportei sexta, após o encontro entre Zaffa e Capaverde, em PL anuncia apoio à reeleição do prefeito e vai participar do governo em Gravataí; É a ‘bolsonarização’ de Zaffa? Ele responde.

Conforme um dos presentes, havia temor de desrespeitar a legislação eleitoral, que, “durante todo ano da eleição”, considera crime “ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União (…), ressalvada a realização de convenção partidária” (cf. art. 73, I, da Lei nº 9.504, de 1997), sob pena de multa entre R$ 5.320,50 a R$ 106.410,00, além de risco de “cassação do registro do candidato ou do diploma do eleito que tenha sido beneficiado, agente público ou não (cf. § 5º do art. 73 da Lei nº 9.504, de 1997)”.

Em resumo, a convergência apontada para a participação no governo e a homologação da aliança nas convenções partidárias entre julho e agosto é zaffa “ser de direita”, ter no município “a primeira escola-cívico militar rural do Brasil” e o prefeito em 2022 ter subido no palanque do bolsonarismo em primeiro e segundo turno; leia em TBT no palanque do bolsonarismo-raiz não é por acaso: a ‘bolsonarização’ de Zaffa.

Zucco convidou Zaffa como “convidado de honra” em visita de Bolsonaro ao RS, que organiza para os próximos dias.

Fato é que, na estréia institucional de Zaffa ao lado de representantes do partido de Bolsonaro, discurso extremista não houve. Nem o atentado contra Trump entrou na pauta.

Talvez também por Zaffa já ter dito a Zucco, que o convidou para se filiar ao PL após as eleições e é candidato a governador (leia em Parceiro de pescaria de Bolsonaro, Zucco apoia Zaffa e sonha com o prefeito de Gravataí no PL), que está fechado com Eduardo Leite (PSDB).

Sexta, Zaffa disse ao Seguinte:, ao responder se restava ‘bolsonarizando’: “Respeito, mas não sou de nenhum extremo. Ando pelo caminho do meio. Meu governo é assim, converso com todos. O Levi é mais adepto ao bolsonarismo. A gente vai mesclando”.

Inevitável é, porém, a associação de Zaffa ao bolsonarismo, seja isso bom ou ruim para sua campanha e biografia.

Um exemplo?

Não há como dissociá-lo completamente da diatribe dita pelo vereador bolsonarista-raiz, Evandro Coruja (PP), o ‘cara’ de Zucco em Gravataí, quando o sangue na orelha de Trump talvez nem estivesse coagulado.

Em vídeo que você assiste clicando aqui, o policial federal permite que a política substitua sua técnica profissional ao, antes de qualquer investigação, sentenciar que o atentado, “uma história parecida com a que aconteceu aqui com nosso capitão Jair Messias Bolsonaro”, é uma “perseguição à direita”.

– Nos acusam de sermos extremistas, mas a gente sabe quem são os verdadeiros extremistas – conclui, em sua teoria da conspiração.

Thomas Mathew Crooks, o incel de 20 anos que atirou em Trump, é um redneck, um caipira estadunidenses, branco, anti-imigração, filiado ao Partido Republicano da Pensilvânia e com tara por armas. Empunhava um fuzil AR-15, comprado legalmente por seu pai, talvez em um Walmart, e vestia a camiseta do canal armamentista Demolition Ranch, que além dele tem 11 milhões de seguidores no Youtube.

Enfim, o perfil clássico de um extremista de direita. Um filhote do algoritmo.

Correto está, porém, o vereador bolsonarista ao colocar na mesma frase o inelegível e o extremismo. Ou não é um extremista aquele que enalteceu a ditadura e a tortura, homenageando o general criminoso Brilhante Ustra, ídolos dos torturadores que aterrorizavam com ratos a irmã ou mãe de alguém? Ou que reclamou não termos vivido uma guerra civil com 30 mil mortes, afinal 434 vítimas reconhecidas foram “pouco”? Ou que já falou em fuzilamento de FHC? Ou que pregou em campanha “fuzilar a petralhada”?

Não ligo diretamente ao ex-deprimente da república, porque não há investigações conclusas que apresentem provas, mas também ilustro o extremismo com a tentativa de explodir o aeroporto de Brasília em pleno feriado de Natal, para bagunçar a posse de Lula, as conversas sobre assassinar um ministro do STF com um tiro na cabeça, ou então a invasão e depredação dos Três Poderes, no 8 de janeiro que teve inclusive em gravataiense preso em flagrante; leia em STF mantém tornozeleira eletrônica e pena de gravataiense flagrado em atos golpistas do 8 de janeiro está próxima da definição; ‘Pobre-coitado’ também é sujeito à lei.

Ao fim, a democracia resta alvejada – e isso independe de investigações demonstrarem que o terrorista doméstico faz parte de uma conspiração, ou é um Adélio inimputável da vida. Bolsonaro e Trump são vítimas de um mundo que ajudaram a criar. O que isso tem a ver com Zaffa? É um mundo o qual o prefeito, em sua campanha pela reeleição, arrisca adentrar. Está lá, não em O Príncipe, de Maquiavel, e sim no ‘livro das misses’, O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.

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