No manual do Como Perder Amigos, a política e o jornalismo andam juntos. É regra a máxima “dê um CC, ganhe um inimigo”, ou “dê a notícia, perca um amigo”. Dilamar Soares, vereador reeleito, era um grande amigo, desde sua brilhante atuação por dois mandatos como conselheiro tutelar. Por vontade dele, virou meu ‘inimigo de infãncia’, como costumo brincar com quem se diverte com essa passagem triste – pelo menos para mim – de nossas vidas.
Pelo que entendi, ele parou de falar comigo e, inclusive, estender a mão, depois que, há dois anos, revelei uma aproximação dele com Daniel Bordignon – obviamente contextualizando, já que como vereador ele tinha dado voto contrário, com discurso gravado até hoje nos anais da Câmara, a um título honorário de cidadão para os ex-prefeito, que é natural de São Jorge, à época distrito de Nova Prata.
Pois veja como são as coisas. Volto a comentar sobre Dilamar, que a cada linha que escrevo detona minha carreira na tribuna, em posts e lives no Facebook, projetando a possibilidade de, em 2020, ele estar junto aos… Bordignons!
Um pouco de contexto.
Mais de 20 anos de jornalismo político desenvolvem certo feeeling, como o policial que, num interrogatório precisa estar atendo às contradições, às mentiras, porque a verdade aparece. Quando Dila – é seu apelido – usou a tribuna na semana passada, tentei ler nas entrelinhas, como é minha função.
Ele disse mais ou menos assim: que completaria 50 anos e estava estudando ainda mais do socialismo ao liberalismo, porque hoje era preciso ter lado e assim o faria, mesmo que perdesse apoiadores.
Na hora, pensei: inteligentíssimo, apesar de às vezes atrapalhado pelo temperamento, ele, maçom e conservador, prepara o terreno para, como está cada vez mais distante do prefeito Marco Alba (MDB), cair para a esquerda, se filiar ao PDT e, arrisca, será o candidato a prefeito de Daniel Bordignon ou o vice de Rosane Bordignon. Professor de história e estudioso, ele já leu o bastante de Karl Marx a Adam Smith. Não serão páginas de 2019 até a janela de troca partidária de 2020 que seduzirão ‘coração e mente’.
Outra: corajoso, Dilamar sempre foi. Então não seria surpresa se ‘esquerdopatizar’ num momento em que Gravataí, pelo menos no resultado das urnas, deu sete a cada dez votos para o bolsonarismo.
Nesta segunda uma fonte que viveu mais anos ao lado, do que longe de Bordignon, confirmou. Numa das tantas conversas na casa dos ‘Bordignons’, no Parque dos Anjos, Dilamar foi convidado para voltar ao PDT (à época de Décio Becker já integrou o partido) com a perspectiva de concorrer a prefeito com o apoio do, pelo menos até eleições passadas, 'Grande Eleitor'.
Explico o porquê considero que atrair Dilamar é uma estratégia do ex-prefeito, que após pedir música no Fantástico em impugnações, só pode concorrer em eleições a partir de 2022.
O irmão de Dilamar, Dimas, é candidato a prefeito. Ex-PT, como Bordignon, o também vereador tem subido no muro e não se radicaliza nem à esquerda, nem a direita, mas avança no eleitorado do ex-prefeito, de quem na época petista muitos identificavam como “filho”, herdeiro político. A obsessão de Bordignon é 2024, quando poderá concorrer à Prefeitura de Gravataí. Segurar o avanço de Dimas é estratégico. Onze entre 10 pessoas que conhecem a política da aldeia sabem que Dilamar, além de ambicioso e preparado para enfrentar uma eleição a prefeito, adoraria furar a bola do irmão mais novo.
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Pela assessora Katterina Zandonai, Dilamar respondeu assim:
– Pode falar para o Martinelli ter a decência de escrever que para o Seguinte: eu me recuso a falar e que meu futuro político ele saberá em 2020.
Pode não acontecer, mas a fonte é quente.
Ao fim, como dizia Millôr, “cético é um sujeito que nega até Mateus – quer ver para não crer”.
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