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Bordignon e Dimas como Lula e Ciro em 2020

Na foto de janeiro de 2017, da visita de Daniel Bordignon ao gabinete de Dimas Costa, nasceu o apoio do vereador a Rosane Bordignon na eleição suplementar de 2017 | Foto ARQUIVO

Gravataí é como aquela fakenews do episódio do Simpsons que antecipou a eleição de Donald Trump para presidência dos EUA. Como se a política local fosse uma placa de petri, aconteceu aqui, causou no país. É impeachment, impugnação, denúncias de corrupção envolvendo personagens locais e até fofocas de caso abafado tipo João de Deus. Falta só prisão, o que pode não demorar, ao analisarmos o noticiário político-policial recente. Agora, já imaginou se na eleição de 2020 o jogo de espelhos muda, e a aldeia imita o Brasil?

 

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Explico.

Entre políticos experientes, e fofoqueiros destros, canhotos e isentões, já se projeta uma reaproximação entre Daniel Bordignon (PDT) e Dimas Costa (PSD) na eleição para a prefeitura. Apesar de não existir um Bolsonaro, mimetizariam Lula e Ciro, percebe?

Vamos às opções, em diferentes graus de, para uns, estratégia eleitoral, para outros oportunismo e loucura:

A hipótese mais difícil é Bordignon propor que Dimas seja seu vice. O ex-prefeito, que já pediu música no Fantástico em impugnações em 2008, 2012 e 2016, está com os direitos políticos suspensos até 20 de setembro de 2020. Antes da eleição, mas depois do prazo para registro de candidaturas, em agosto. Se fosse liberado pela justiça eleitoral, Bordignon iria às urnas. Se não, renunciaria no prazo limite de 15 dias antes das eleições, e Dimas assumiria a candidatura a prefeito. Deu certo com Rita Sanco em 2008, eleita prefeita com a maior votação da história de Gravataí.

E foi o que Lula propôs para Ciro. A Gleisi Hoffmann de Bordignon, emissária da mensagem, poderia ser Diego Pereira, chefe de gabinete da vereadora Rosane Bordignon (PDT) e fiel operador de bastidores do ex-prefeito.

Conhecendo Dimas, arrisco prever que não aceitaria, como Ciro não aceitou. Da mesma forma que o temperamental ex-presidenciável se apresenta como o ‘pós-PT’, o vereador de Gravataí, eleito pela primeira vez, em 2012, na nominata petista, se esforça para aparecer como o ‘pós-Bordignon’. E, o principal: mostrou que tem votos, já que longe dos bordignons foi reeleito segundo vereador mais votado, apoiou a esposa Anna Beatriz, na reeleição como conselheira tutelar campeã de votos e foi o candidato a deputado que mais fez votos em Gravataí nas eleições de 2018.

Conhecendo Bordignon, também arrisco prever que ele não jogaria fora a popularidade que resta em uma nova aventura jurídica.

 

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Um parêntesis.

Seria, por exemplo, uma jogada tão arriscada quanto o prefeito Marco Alba (MDB) renunciar seis meses antes para tentar uma candidatura da primeira-dama Patrícia Alba – artifício já barrado em decisões passadas pelo TSE sob a interpretação de que representaria perpetuação familiar no poder.

Também conhecendo Marco Alba, e por ele e Patrícia terem sido artífices das impugnações do adversário, no tradicional ‘GreNal’ da aldeia, não passariam para o outro lado do ‘banco dos réus’.

Enfim, para um, outro, ou qualquer, seria uma aposta na popularidade que beiraria a megalomania, arriscar candidaturas sub judice junto a um eleitorado que se apresenta entre o decepcionado e o enganado pelo pode-concorrer-não-pode-concorrer que levou as três eleições passadas para o tapetão e, com a anulação do pleito de 2016, custou R$ 200 mil com a realização de uma eleição suplementar em 2017.

Outra hipótese de uma aliança seria Bordignon indicar um vice para Dimas, talvez firmando, para o caso de vitória, um acordo de apoio do ex-discípulo – e da estrutura de CCs – para uma candidatura dele ou de Rosane à assembléia legislativa ou à câmara federal, ou as duas coisas, em 2022 (quando o ex-prefeito já estará liberado para concorrer). Ou simplesmente abrir apoio na campanha.

A lógica me parece simples e bastante plausível.

Em 2024, Daniel Bordignon já pode concorrer a prefeito. E ele vai concorrer. Machucado pelas impugnações e a anulação da vitória nas urnas em 2016, o ex-prefeito vislumbra um ‘lava-honra’ numa recondução à prefeitura “com a força do povo”, como tem sido seu slogan eleitoral. Dimas – pela inexperiência e por estrear em uma administração que sairia da oposição para o governo, precisando conhecer o mecanismo e fazer frente às promessas de campanha – certamente é identificado por Bordignon como um adversário mais fácil quatro anos depois.

Afinal, em caso de reeleição do grupo político de Marco Alba – seja com Jones Martins, Luiz Zaffalon, Jean Torman ou outro candidato que o prefeito apostar – o MDB governaria por 13 anos, o que além de um legado de obras feitas, representa ramificações políticas em cada canto da cidade. Sem falar que, com as contas equilibradas por Marco e um orçamento se aproximando do bilhão, o próximo prefeito, noves fora o Ipag, não poderá se esconder atrás da ‘herança maldita’ das dívidas.

Há ainda uma terceira hipótese, essa ainda mais difícil do que a primeira, principalmente porque um não confia peremptoriamente no outro, que seria Dimas se comprometer a, eleito, não concorrer à reeleição e apoiar Bordignon em 2024.

 

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Marco Alba disse em entrevista ao Seguinte: que só vai tratar da sucessão no segundo semestre deste ano. Levi Melo (PRB) está cuidando de sua tradicional clínica médica. Bordignon mantém-se longe do noticiário, mas quando apareceu acenou, também no Seguinte:, a Dr. Levi e Anabel Lorenzi (PSB), além de ter preservado a esposa Rosane, que fez 44 mil votos na eleição suplementar, de disputar vaga na assembléia em 2018 – o que significaria uma inevitável auferição de força com Dimas, para ver quem da oposição tem mais força.

Se apresentando como candidato a prefeito, Dimas já posta em seus perfis de Facebook a hashtag 2020élogoali. Fenômeno nas redes sociais locais, embalou na onda do ‘contra tudo que está aí’, apesar de ter ficado não em cima, mas atrás do muro na polarizada eleição presidencial de 2020 em que o bolsonarismo fez sete em cada dez votos em Gravataí.

 

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Aos apaixonados de diferentes matizes, alerto: é apenas uma análise de cenários possíveis, já que ninguém fala sobre o assunto, ainda. Ao fim, Bordignon e Dimas, que vivem uma relação de altos e baixos, tem até 2020 para responder ao dilema hamletiano: ser ou não ser (Lula e Ciro)? Mas, não concorda que, no ‘nós contra eles’ que caracteriza as eleições em Gravataí, não seria exotismo a união das barbas branca e preta para tentar tomar a prefeitura da influência de Marco Alba? Na eleição suplementar de 2017, Dimas apoiou Rosane Bordignon. Após a eleição de 2018, é ele quem está nas paradas de sucesso. Em política, a comunhão de ódios é quase sempre a base das amizades.

 

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