DAS URNAS #8 | Guerra 'declarada' entre prefeito Miki e deputado Stédile, que teve como consequência a perda de cadeiras na assembleia e na câmara federal, segue arrancando penas no ninho das 'pombas'. Ex-presidente da câmara – e cunhado do prefeito – apoia Leite, e não Sartori
A eleição onde pombas graúdas foram depenadas pelas urnas – o partido não recuperou a vaga na assembléia legislativa que era de Miki Breier e perdeu a que tinha na câmara federal com José Stédile – segue provocando dissidências no PSB de Cachoeirinha. Presidente da câmara ano passado, o vereador Marco Barbosa é hoje linha de frente da campanha de Eduardo Leite (PSDB) na região.
Há pouco, postou vídeo no facebook convidando para caminhada com o candidato a governador às 9h desta sexta, com saída da parada 49.
Cunhado do prefeito Miki Breier, que foi um dos principais articuladores para a manutenção da aliança com o MDB pela reeleição de José Ivo Sartori, o policial civil não perdoa os quatro anos de parcelamentos de salários e evoca a proximidade com o colega Ranolfo Vieira Jr. (PTB), vice do tucano e que foi seu delegado regional quando estava lotado em Novo Hamburgo, para renegar a coligação oficial do PSB gaúcho:
– Já não votei no Sartori no primeiro turno, onde procurei focar no apoio às candidaturas do partido em Cachoeirinha. Agora estou na coordenação da campanha de Leite. O governo Sartori foi uma mesmice, não apresentou nada novo e repetiu outros que apenas culpavam os antecessores. Leite é um jovem que saiu de Pelotas com a aprovação de nove a cada dez pessoas.
Marco Barbosa, cotado até a última hora para concorrer a deputado estadual e sempre nas listas pela sucessão à prefeitura, não teme uma expulsão, como aconteceu com dois secretários municipais e cinco CCs de Viamão no primeiro turno por apoiarem Geraldinho Filho e Milton Magalhães, ambos do PSDB e ‘candidatos oficiais’ do governo do município vizinho para assembléia legislativa e câmara federal.
– Não sou só eu. Eu apoio Leite, enquanto outros do partido aderiram ao SartoNaro – compara, sobre o apoio de companheiros a Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno, mesmo que a direção nacional tenha decidido apoio a Fernando Haddad (PT).
Mas o vôo solo de Marco Barbosa é apenas mais uma conseqüência do ‘cada um por si’ vivido pelo PSB de Cachoeirinha. No primeiro turno, enquanto Juliano Paz, o candidato do prefeito a deputado estadual, tinha em sua colinha o número de Sartori e Ciro Gomes (PDT), os santinhos de Vicente Pires, também candidato a assembléia, e de José Stédile, candidato a federal e presidente licenciado do partido no Rio Grande do Sul, apareciam com espaços em branco.
Como bem observou o jornalista André Boeira, a guerra entre Miki e Stédile foi ‘declarada’, literalmente, na prestação de contas ao TSE. Se Stédile – deputado federal e, beneficiado pela nova legislação eleitoral, com a chave do cofre do fundo partidário – doou R$ 156,4 mil para Vicente, não repassou um real a Paz, a quem Miki doou R$ 12 mil.
Alimentado possivelmente da falta de unidade do partido para reunir o governo em torno de candidaturas ‘oficiais’, o ‘fogo amigo’ de candidaturas de partidos que integram o secretariado chamuscou tanto Paz – com Deoclécio Melo (Solidariedade), o candidato a deputado estadual mais votado da cidade – quanto Stédile, com Nerisson Oliveira (PRB), que fez seis mil votos a federal, enquanto faltaram apenas 700 votos para a reeleição.
Se Marco Barbosa não tem mais as indicações para cargos no governo Sartori, não faz mais diferença. A fidelidade partidária no PSB cabe hoje na célebre frase de Millôr:
– O cara só é sinceramente ateu quando está bem de saúde.
LEIA TAMBÉM
OPINIÃO | Na eleição do ’contra o que está aí’, perderam os políticos tradicionais