Glorinha era o ponto de embarque para todo o Brasil de um esquema de tráfico de drogas sintéticas desarticulado na última semana, e revelado na manhã desta segunda-feira (15) pelo Denarc. Conforme a investigação, que durou dez meses, a mãe do principal líder da quadrilha, atualmente foragido, é moradora da cidade e, se aproveitando disso, ele usava a agência dos Correios local para fazer o envio de drogas como ecstasy e LSD sem levantar suspeitas.
O traficante chegou a ser abordado no Aeroporto Salgado Filho na semana passada, para o cumprimento de prisão preventiva, mas foi liberado em virtude da lei eleitoral e, desde então, não foi mais encontrado pela polícia. Ao todo, 15 pessoas foram presas.
Durante toda a apuração policial, foram apreendidos 4.960 comprimidos de ecstasy, 709 pontos de LSD, 150 vidros de lança perfume e 211g de MDMA — o princípio ativo do ecstasy. Foi também apreendida uma quantidade de cloreto de etila, usado para produzir e atestar a qualidade da droga.
: Encomendas eram feitas pelas redes sociais | DIVULGAÇÃO
As remessas, sempre enviadas pelos Correios, chegaram, segundo a polícia, a dez estados e o Distrito Federal. A estimativa, só com a droga apreendida, é de que o grupo lucraria pelo menos R$ 500 mil neste período.
— As drogas sintéticas vinham da Europa para o Centro-Oeste do Brasil e, só depois, para o Rio Grande do Sul. A partir daqui, para vários estados brasileiros — aponta o diretor de investigações do Denarc, delegado Mario Souza.
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Segundo o delegado Thiago Lacerda, que comandou a investigação, as redes de contatos dos traficantes eram reforçadas por facebook e WhatsApp. No seu perfil nas redes sociais, o criminoso que tinha origem em Glorinha chegava a ter no final do seu nome a palavra “bala”, indicando que fornecia as drogas.
— Eles conseguiram criar, com essa rede, um esquema de alcance nacional.
As investigações começaram em 2017 e foram intensificadas em abril deste ano, quando juntaram-se aos policiais os agentes da Coordenadoria de Segurança dos Correios.
— Como o volume de encomendas é muito grande, dificilmente se consegue faze um pente-fino sobre tudo o que é enviado pelos Correios. Os traficantes se aproveitavam disso, usavam endereços de remetente falsos e o rastreamento ficava mais difícil — explica Lacerda.
A partir de abril, com a infiltração de policiais nas redes de negociação das drogas, ficou mais fácil detectar quando eram feitas as remessas. Os investigadores colheram imagens de circuito interno de vídeo-monitoramento das agências de onde partiam as drogas — além de Glorinha, os criminosos se utilizaram de São Leopoldo e Porto Alegre. Além disso, integrantes da quadrilha também entregavam drogas para clientes na Região Metropolitana. Ação que também foi flagrada pelos agentes.
: Drogas eram tabeladas nas mensagens aos compradores | DIVULGAÇÃO
Pelos contatos nas redes sociais, eram repassadas tabelas de preços para cada droga, além da taxa de frete, que ficava a cargo do comprador por depósito bancário. No final da investigação, a polícia cumpriu quatro mandados de prisão e 28 de busca e apreensão no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Brasília, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraíba e Amazonas.
— A investigação foi sensível e abrangente para identificar o esquema que chegou a boa parte do Brasil. As drogas sintéticas envolvem um contexto de pessoas com grau de instrução diferenciado e boa condição econômica, por isso, também exigem uma forma de investigação especializada, mas com o mesmo rigor do tráfico mais evidente, visto nas ruas — aponta Mario Souza.
Todos os envolvidos responderão por tráfico de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Em Glorinha, desde semana passada, não há notícias do principal envolvido na quadrilha.