oi, filho

As cidades não foram feitas para andar a pé

O Beni, com um sorvetinho, em uma voltinha pela rua

Segundo o Google Maps eu moro a pouco mais de 700 metros do meu trabalho que por sua vez fica cerca de 1 km da creche do Beni. Por tudo isso faço todos meus trajetos diários, pouco mais de 2,5 km, a pé. Uber ou Táxi usamos apenas quando chove, está frio ou quando já é noite.  Beni adora andar canguru, observar os carros passando e as pessoas indo de um lado para o outro. É apaixonado pelos fios dos postes, não tira o olho, e é claro pelos cachorros que encontramos pelo caminho.

O que o Beni não percebe neste trajeto é que a rua não foi feita para os pais buscarem seus filhos na creche e eu não estou falando apenas da nossa cidade. As ruas em geral não foram feitas para que os pais andem a pé com seus filhos. Começamos pelo básico: as calçadas.

Sugiro ao amigo leitor que faça uma vistoria, agora se possível, na calçada de sua casa, condomínio ou trabalho, e pense em quais dificuldades um pai com um carrinho de bebê poderia enfrentar caso precisasse trafegar pela sua calçada. Lajotas soltas, pedras irregulares, postes e lixeiras são algumas das coisas que você pode encontrar. A minha rua por exemplo é um bom exemplo disto: a maior parte das calçadas nem existe e quando existem são mal conservadas. A rua de paralelepípedo irregular agrava o problema, não há como passar com um carrinho de bebê na calçada e nem na rua. O que temos feito é usarmos um pedaço de calçada de cada lado da rua, dependendo do trecho. Atravessamos para lá, atravessamos para cá… Na casa de um vizinho a calçada simplesmente acaba em uma parede de concreto, um  enorme desnível.

Mas isso é pouco perto da falta de educação de alguns motoristas que trafegam pelo centro. Parar o carro em cima da faixa de segurança para esperar “a hora certa” de fazer a conversão parece que é regra por aqui. São três ou dez segundos que fazem falta para quem está a pé. Uma vez bati na janela do motorista e perguntei se eu deveria passar por cima do carro dele ou se ele conhecia uma fórmula mágica para atravessar carros. Abracadabra será que funciona? Os carros param quase na hora quando me vêem com o Beni esperando para atravessar a rua, disto não há o que se queixar, mas quando estou sozinho parece que eu não existo. Parece que o pedestre é um chato intruso querendo atrapalhar a viagem do motorista.

Não é aqui. Não é Porto Alegre. É Brasil. E eu fico pensando aqui: se está ruim para mim, que daqui no máximo um ano vou trazer o Beni pela mão aposentando o carrinho de bebê e o canguru, imagina para um cadeirante, que vai precisar enfrentar as calçadas irregulares e os motoristas sem noção para o resto da vida!

Se não bastasse a insegurança, a falta de estrutura das ruas e calçadas também nos prendem cada vez mais dentro de casa ou nos obrigam a comprar carros, poluir o planeta e entupir as vias de motoristas impacientes, que acham que parar para um pai atravessar a rua com seu filho na faixa de segurança é um favor.

Nosso modelo de transporte é terrível para os pedestres e muito ruim para os motoristas. Um sistema burro, que prioriza o carro e os congestionamentos e torna qualquer trajeto um verdadeiro martírio.

Sorte do Beni que se diverte olhando os fios de energia no alto dos postes enquanto o papai briga com motoristas sem noção aqui embaixo. Tomara que ele possa buscar o filho dele em uma rua feita para os pedestres e não para os carros.

 

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