Hoje, tirei a manhã para começar a ler o livro Como conversar com um facista – Reflexão sobre o cotidiano autoritário brasileiro, da Márcia Tiburi, que peguei emprestado na estante da Carlinha. É a cara dela este livro. E a minha também, pois pouca coisa me incomoda mais do que o autoritarismo.
Depois, almoçamos “burritos” recheados com carne vegetal, preparados pela Nanda, e lá fomos as duas para a rua, pois ela tinha de dar várias voltas.
Em nossa primeira parada, deixamos o carro em um estacionamento rotativo, onde pagamos US$ 0,40 por uma hora a um cuidador uniformizado, que registrou o número da placa e o horário em uma maquininha portátil e nos entregou o comprovante. Aliás, há um cuidador desses em cada esquina, nas vias comerciais, o que gera trabalho para um montão de gente.
Entramos, então, em uma agência do Banco del Pichinha (que, como as demais agências bancárias do Equador, não tem portas giratórias), onde fiquei impressionada com o tamanho das filas, por não distribuírem senhas, não haver cadeiras à disposição do público, nem painel para chamar a próxima pessoa a ser atendida. A coisa ainda funciona na base do gogó, como era décadas atrás no Brasil.
Daí fomos à MegaKywi – uma loja de ferragens gigantesca, onde a Nanda comprou tintas, e eu me senti como um pinto no lixo, como me ocorre cada vez que entro em qualquer estabelecimento do ramo, por mais simples que seja.
Finalmente, seguimos para o MegaMaxi, o maior supermercado da poderosa Corporação Favorita, onde entrei e saí sem grandes emoções, pois hipermercados nunca fizeram a minha cabeça. Eu gosto é de comprar em feira livre, em mercadinhos de bairro, na padaria da esquina e, aqui no Equador, nos mercados públicos.
Na volta, pegamos um engarrafamento terrível, o que é comum por aqui, pois, como a gasolina é subsidiada e muito barata, há um carro para cada cinco habitantes do Município.
Na verdade, quem vem a Quito e circula só pela Zona Norte, fica com a ideia equivocada de que se trata de uma cidade moderna e pujante. Mas se, no Centro Histórico, a coisa já começa a mudar, com milhares de indígenas vendendo frutas, verduras e outros produtos nas calçadas, no Sul é que se vê de fato a outra face de Quito.
Por lá, há 421 bairros, em sua maioria habitados por famílias das classes média baixa e baixa, e provenientes de outras províncias.
Assim como no Brasil, a desigualdade social é gritante no Equador. E este é um tema recorrente nesta casa, na qual circulam muitas pessoas envolvidas com ONGs e outras iniciativas voltadas à melhoria da qualidade de vida dos menos favorecidos.
Hoje, no café da manhã, a Estivaliz, uma amiga espanhola das gurias, que está passando uma temporada em sua casa, enquanto trabalha para uma ONG, serviu-nos um chocolate produzido na Amazônia equatoriana por indígenas da comunidade shuar.
O Chocolate Popular Jempe é fruto de oficinas que vêm sendo ministradas por voluntários determinados a libertar esses indígenas do jugo dos compradores de sementes de cacau, que não lhes permitem beneficiar a fruta e tampouco utilizá-la na alimentação de suas famílias.
Enquanto voltávamos para casa, a Nanda apontou algumas pessoas que caminhavam em uma calçada e comentou: “Isto eu chamo de qualidade de vida, mãe! Olha como essa gente anda relaxada pelas ruas! Nós já não conseguíamos fazer isto no Brasil!”.
De fato, o agravamento da crise na área da segurança foi um dos motivos que fez minhas filhas se mudarem para cá, e não posso lhes tirar a razão. É bom demais andar pelas ruas quitenhas sem medo de nossos semelhantes”.
Na volta, as gurias prepararam hamburguesas de carne vegetal e uma caçarola de legumes, e comemos na frente da lareira com o Bruno e sua namorada Laura, depois de desistir de ir à feira de comidas típicas do bairro em função da chuva e do frio.
Amanhã tem mais.
E o álbum de fotos:
: Loja MegaKywi, de material de construção, tem de tudo
: Setor de ferramentas na MegaKywi
: Nanda, fazendo compras no MegaMaxi
: Frios e carnes na MegaMaxi