coluna da Sônia

Diário de viagem – La Mitad del Mundo – 3º dia

Bruno, filho da Sônia, tietando o ex-presidente equatoriano Rafael Correa, a quem encontraram na frente da casa em que moram as filhas Carla e Fernanda

Ontem, decidi descansar um pouco, para me recuperar do tal “soroche” (mal da altura), que me havia atacado no meio da noite, mas, logo depois do café da manhã, começou a haver uma grande movimentação de carros diante da casa em que minhas filhas vivem aqui em Quito.

Elas correram ao jardim e voltaram com a notícia de que Rafael Correa, ex-presidente do País, estava no prédio em frente, onde funciona a Coordenadoria de Meios Comunitários Populares e Educativos do Equador – Corape, para conceder uma entrevista de rádio no âmbito da campanha que vem realizando em favor do NÃO na consulta popular e no referendum que ocorrerão no próximo domingo.

Bruno, meu filho, que é correista declarado, correu a acessar seu site, para que pudéssemos acompanhar a entrevista, e, quando terminou, cruzou a rua correndo para abraçá-lo e tirar uma foto com ele.

As perguntas a que povo deverá responder, amplamente divulgadas em espanhol e em quéchua, e para as quais o governo de Lenín Moreno — que foi vice-presidente de Correa, mas rompeu com ele ao estabelecer alianças com partidos de oposição após eleito —, pede que votem SIM, dividem-se em dois blocos.

As da consulta popular referem-se a alterações na Constituição e as do referendum, a alterações de leis, que, segundo Correa, caberiam à Assembleia Nacional.

E, por outro lado, ele aponta que há perguntas da consulta popular que podem induzir o povo a aprovar todo o pacote, sem maior reflexão, como a seguinte: “Você está de acordo de que se emende a Constituição para que nunca prescrevam os delitos sexuais contra crianças e adolescentes? ” (atualmente, estes crimes prescrevem aos 40 anos).

Desta forma, tendem a ser aprovadas algumas alterações preocupantes, como a de que trata a penúltima das sete perguntas apresentadas aos eleitores: "Você está de acordo de que se revogue a Lei Orgânica para evitar a especulação sobre o valor das terras e a especulação de tributos, conhecida como a Lei da Mais-Valia?”.

Ocorre que, no Equador, não era taxado, até a promulgação desta lei de 2016 — que, naturalmente, afeta interesses das grandes construtoras nacionais, com as quais o presidente Lenin está comprometido até os ossos —, o lucro obtido na venda de terras adquiridas a baixo preço por especuladores.

Como não vivo aqui, apesar de serem visíveis os avanços ocorridos, durante suas gestões, sobretudo nas áreas da infraestrutura e do desenvolvimento socioeconômico, assim como alguns erros graves que cometeu, não tenho uma opinião conclusiva sobre o Rafael Correa. Cá entre nós, incomoda-me o tom colérico de suas intervenções públicas (um político jamais deveria deixar-se dominar pela cólera), mas a forma como as perguntas foram formuladas é, realmente, bastante capciosa.

Também no Brasil tenho visto mecanismos da democracia participativa serem utilizados para que o eleitor tenha a sensação de que sua opinião é importante, quando, na verdade, servem apenas para que sejam referendadas decisões já tomadas pelo gestor público.

A dominação histórica pela ignorância é um fato, tanto aqui, como em nosso país…

A propósito, fiquei sabendo, ontem, que, de acordo com pesquisas realizadas pelo Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe – Cerlalc, os equatorianos leem, em média, apenas meio livro por ano. Está claro que faltam, por aqui, polícias públicas efetivas para o fomento da leitura, que devem incluir, obrigatoriamente, a redução do custo do livro, que ainda é considerado produto de luxo.

Passado o rebuliço que gerou, na rua, a entrevista do Corrêa, que ainda tem um índice de aprovação popular bastante alto, fui com Bruno e Laura, sua namorada, almoçar em uma “mariqueria”, para matar a saudade do ceviche de camarão e, mais tarde, saí com a Carla para o Mercado Santa Clara.

Além de uma variedade incrível de frutas e verduras, o mercado conta com setores específicos para a venda de carne, de alimentos industrializados, de cestas de palha, de flores e folhagens e de pratos típicos.

De lá, fomos direto para a cafeteria do 8 1/2 — um espaço incrível do bairro Floresta, fundado por um grupo de produtores de cinema, cineastas e outros artistas interessados em promover a cultura cinematográfica—, onde encontramos a Nanda e seu sócio Paulinho.

E, à noite, a Frederica, amiga italiana das gurias, coordenou a preparação de uma receita de nhoques de batatas e abóbora, feita a várias mãos, e tivemos um jantar delicioso.

Amanhã tem mais…

 

O álbum de fotos:

 

: Carla, Frederica, Laura e Fernanda preparando nhoques

 

: Jantar com amigas das gurias, ontem á noite. Bruno não aparece porque estava fotografando o grupo.

 

: Nanda e Carla na cafeteria do 8/12

 

: Setor das cestas no Mercado Santa Clara

 

: Mais do setor da cestas no Mercado Santa Clara

 

: Casmari, loja de economia solidária, no entorno do Mercado Santa Clara

 

: Ceviche de camarão. Para conhecer a receita, clique aqui

 

: Floricultura da Bessie, no entorno do Mercado Santa Clara. Bessie, como muitas outras pessoas que nos atendem no comércio, é cubana.

 

: Pitahaya – esta fruta é uma maravilha para fazer o intestino funcionar

 

: Plátanos verdes. Não seriam bananas mesmo?

 

: Toronja (grape fruit)

 

: Uvillas

 

: Granadilla

 

: Cacau

 

: Babacos

 

 

 

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