coluna do martinelli

OPINIÃO | Marco Alba na tv, inferno, utopia e esperança

Marco Alba, nos estúdios da TVE gaúcha | Foto GUSTAVO ROTH | Fundação Piratini

Inferno, expressão do próprio prefeito, Utopia e Esperança. Assisti a esses três ‘capítulos’ na entrevista de Marco Alba entre às 23h e a meia-noite desta quinta, no Frente a Frente, programa da TVE gaúcha.

Sob o enunciado dessa tríade, arrisco informações e análise, para quem não viu, ou viu.

 

O INFERNO

Começando pelo pior. No Minuto Seguinte: postado oito horas antes de a entrevista ir ao ar, antecipei que a segurança seria o assunto inevitável, já que a estatística faz com que se Gravataí fosse um país, no ‘violenciômetro’ chegaria ao fim de 2017 como o terceiro mais sangrento do mundo.

 

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Após os primeiros minutos nos quais o prefeito fez um balanço de seu primeiro governo, e dos seis meses da atual gestão, indo das dificuldades à esperança (que trato no último capítulo), o jornalista da Zero Hora já fez a primeira pergunta sobre violência – chaga que consumiu pelo menos 50 minutos da uma hora de programa.

E foi em meio a uma resposta sobre o tema que Marco usou a expressão inferno, para descrever a ação colaborativa entre sua Guarda Municipal, a Brigada Militar e a Polícia Civil, “em meio ao inferno”, que nada mais é do que a insegurança que pesquisas mostravam há um ano apavorar sete a cada 10 moradores da cidade – índice que hoje deve estar daí ao limite do céu.

Original e diferente em uma geração de políticos – e mesmo seus antepassados e descendentes – que faz carreira raciocinando mais sob o medo da urna, Marco não fugiu da responsabilidade, mesmo que a segurança não seja uma atribuição das prefeituras conforme a Constituição.

Encarando a vida como ela é, fez a pertinente analogia de que é para o prefeito – e não para o comandante da Brigada, o delegado, o governador ou o presidente – que apelam as pessoas que pisam, vão ao supermercado e esgueiram-se pelas ruas de Gravataí.

Ninguém mora nos territórios abstratos do Estado ou da União, ou tem tempo de se identificar nas portas giratórias dos palácios para ser recebido pelo sub-do-sub de coisa nenhuma.

Com a experiência de mais de três décadas de vida pública, Marco sabe, e repetiu por mais de uma vez que “o povo não aguenta mais explicações”.

– Estamos fazendo o que podemos. Nossa Guarda tem um efetivo de 240 agentes, mais que a Brigada. Quero contratar mais 40, mas bateremos no teto (do orçamento e da folha de pagamento). Quem fez a lei pela qual um município como Gravataí deveria ter 800 guardas não conhece a realidade das prefeituras e brincou no Congresso de dar uma resposta rápida ao drama da população – observou, mais ou menos nestas palavras.

Com dados que mostram um crescimento de 45% nos homicídios, “menor que cidades da própria região que aumentaram em mais de 100%”, o prefeito avaliou que a sensação de insegurança cresceu e arregalou os olhos do mundo em Gravataí pela sequencia de crimes violentos – como os jovens que cavaram a própria cova, e o atentado com duas mortes e 33 feridos na Morada do Vale II.

– Há uma disputa de facções que tem atingido inocentes – reconheceu, antes de agradecer a “resposta imediata” do secretário de Segurança Cezar Schirmer e a comemorada presença de forças especiais de segurança na cidade.

Apesar das dificuldades burocráticas, Marco não descartou insistir no deslocamento da Força Nacional para Gravataí – mais um símbolo, do que outra coisa.

Se o inferno voltar.

 

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A UTOPIA

Na análise de causas e consequências da violência que amedronta Gravataí, apareceu uma utopia de Marco, sobre a qual é capaz de por horas discorrer preocupada(e apaixonada)mente.

Quem não ouviu o prefeito falar em “romper o modelo” ou nunca falou com ele, ou nunca participou da solenidade que for nos últimos três, quatro anos.

Caracterizo como utopia por infactível – pelo menos num curto prazo, para não dizer por uma vida, numa sociedade de poderes (e também de cidadão) umbiguistas, que antes de pensar no todo olha primeiro para a depressão cutânea localizada no centro do abdome.

O prefeito é um defensor de uma mudança no pacto federativo, que hoje abocanha mais de 60% das receitas tributárias e devolve migalhas aos municípios – estes com cada vez mais responsabilidades no atendimento das delicadas áreas de saúde, educação e segurança.

– Que se mantenham as responsabilidades com as prefeituras, mas que fique nos municípios o grosso do dinheiro, que é gerado nas próprias cidades – é o resumo de Marco, que cita como exemplo positivo o modelo norte-americano.

E faz um alerta: com a “falência”, palavras suas, dos governos estaduais e federal, as prefeituras serão as próximas a ir para cova.

– Isso independe de governador, presidente ou ideologia. Direita e esquerda já governaram – pondera.

E não pensem que Marco vai se ofender por sua cruzada ser chamada de utópica. Ele sabe o tamanho dos moinhos de vento.

– Aqueles que mais os têm são os que menos querem abrir mão dos privilégios – disse, ao vivo.

Quando também criticou o Congresso Nacional:

– O Congresso precisa fazer uma auto-crítica. Não tem colaborado. Sem reformas, da tributária ou Código Penal, posso voltar aqui em 10 anos e nada terá mudado – foi a real constatação.

Por duas vezes o prefeito pediu ajuda da imprensa para ajudar na formação de um espírito crítico na população.

– As pessoas não podem a cada eleição ficar sujeitas ao “ele não fez, eu vou fazer”. Como, é a pergunta necessária. O dinheiro não está em um cofre, sai do bolso do cidadão.

Enfim, um grande pacto social. A utopia.

 

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A ESPERANÇA

Para encerrar com notícia boa, a projeção de Marco é de que Gravataí experimente mais uma vez um ‘crescimento chinês’, próximo aos 10% registrados entre 1996 e 2012 – também pelo ‘efeito GM’, turbinado pelo ‘show do bilhão’ anunciado em agosto último.

Antes, o prefeito falou da firmeza, e aperto, com que teve que segurar o leme do que parecia um Titanic ao navegar pelas marolinhas de 2013 e 2014 e, principalmente, entre os vagalhões de 2015 e 2016, com a crise nacional e o fim das desonerações do setor automotivo – o que atropelou a GM e a Dana, responsáveis por metade do retorno de ICMS.

– Ainda perderemos R$ 14 milhões em 2018, mas implantamos uma política austera, com orçamentos reais, que olha as colunas da receita e da despesa, que tem dívidas ainda de longo prazo mas controladas, e com isso devolveu o equilíbrio a Gravataí e permitiu a habilitação a um financiamento de R$ 100 milhões (com o CAF).

Gestão que, conforme ele, permite a esperança de um “grande momento”, a partir de 2020, com a aceleração no retorno de impostos da produção e vendas do novo carro da GM, no mercado a partir de 2019, possivelmente elétrico e para o mundo, não só para o Brasil e a América do Sul.

– Não fosse a crise, o orçamento hoje passaria de R$ 1 bilhão. Hoje não passamos de R$ 800 milhões.

É a esperança.

 

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