Um acordo envolvendo o trio que tem a caneta na mão há 16 anos, sete meses e quatro dias conduzirá Josué da Silva Francisco, o Josão, à presidência do PSB de Cachoeirinha.
O diretório e a executiva serão divididos igualmente entre as forças ligadas, de um lado, ao prefeito Miki Breier, e de outro, aos ex-prefeitos Vicente Pires e José Stédile.
O Seguinte: teve acesso à lista dos 30 dirigentes e 10 suplentes, que será homologada por aclamação na eleição deste domingo, entre às 9h e às 16h, na Câmara de Vereadores. A reprodução está ao fim da matéria, onde buscamos identificar as ligações de cada um, a partir de consultas a fontes do partido.
E os vereadores?
No grupo de Miki estão o presidente da Câmara, e seu cunhado, Marco Barbosa, além dos vereadores Joaquim Fortunato e Juçara Caçapava.
No grupo de Stédile e Vicente, o vereador Ibarú Rodrigues.
A vereadora Jack Ritter está independente, desde que se rebelou contra o pacote apresentado pelo governo cortando vantagens do funcionalismo, votou contra e, com a ordem de Miki e o silêncio de Stédile e Vicente, perdeu os quatro cargos que tinha na Prefeitura.
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Na lábia do gringo
O ‘gringo’ é apontado como o grande articulador do acórdão, mesmo atravessando um dos raros momentos de trajetória política em que não é uma unanimidade entre os seus, principalmente depois de chegar à Prefeitura em 2000 e urna após urna, eleger e reeleger duas ‘criaturas’ suas.
A chapa única evita um Game of Thrones semelhante à eleição do partido em Gravataí, onde só faltou veneno no vinho. E tenta demonstrar, pelo menos externamente, uma unidade na crise e, principalmente, o apoio do maior partido da cidade a um governo que começou com uma greve de 60 dias de ‘boas vindas’.
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– É uma posição madura de todos. O governo está em construção, enfrenta dificuldades financeiras que nos acompanham desde a metade de meu último ano de mandato, em 2016. O governo precisa do partido e o partido precisa do governo – traduz, em seu característico pragmatismo, o atual presidente Vicente Pires.
Que, mesmo ficando de vilão das contas públicas a partir de críticas indiretas do próprio Miki e de pessoas ligadas a ele, mais não fala.
– Está tudo bem. Vamos sair dessa. Meu silêncio só ajuda – despista, mantendo também o mistério sobre sua participação nas eleições do ano que vem.
Vicente e Miki, que nunca voaram juntos no ninho das pombas do PSB, não se bicam mais ainda depois de dois votos supostamente ligados ao atual prefeito terem sido decisivos, no diretório estadual, para o ex não ser secretário de estado de José Ivo Sartori.
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Cadeiradas de bastidor
Uma fonte do partido, que pede para ficar no anonimato, já alertava desde a segunda-feira (em que Josão era o candidato de Miki e João Tardeti o candidato de Stédile e Vicente) que o gringo faria de tudo para evitar um afastamento ainda maior do prefeito – e consequentemente do governo.
A relação dos dois não está boa desde a greve. Stédile não teria sido consultado sobre o ‘pacotaço’ que surpreendeu o funcionalismo – boa parte eleitores fiéis seus e do partido. Já Miki teria visto no comportamento distante de Stédile uma tentativa de se descolar do governo durante a crise.
O auge dos recados levados a um e outro se deu entre o cheiro de gás de pimenta na ‘manhã das cadeiradas’, como ficou conhecido o dia do confronto entre Brigada Militar e servidores que protestavam na Câmara contra o ‘pacotaço’, que ganhou redes nacionais de TV com as imagens de brigadiano batendo em manifestante com uma cadeira de praia.
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– O Stédile pensou não só na sobrevivência dele, mas de todos que criou, como o Vicente, ou importou, como o Miki de Gravataí, hoje engolidos pelos problemas do governo. O gringo precisa do governo e dos aliados, a grande maioria com cargos na Prefeitura, seja para tentar a reeleição à Câmara Federal, ou no desespero para concorrer à Assembleia Legislativa e não ficar sem mandato – desvela a fonte, filiada ao partido e de larga experiência no circuito Prefeitura-Câmara.
– Não há tempo para o Stédile sair e estruturar outro partido para concorrer. Ele não vai jogar fora tudo que construiu. Mas essa união de fachada cai depois de outubro de 2018, quando a disputa pela Prefeitura em 2020 tornar-se a pauta principal.
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Opinião
Isso que acontece no PSB não é nada novo nas disputas de poder que se criam dentro de partidos encastelados por anos no poder. Alguns não sobrevivem ao choque de reis, postos e depostos, insuflados por príncipes que se acotovelam nas filas de véspera de eleição.
– Estamos unidos – será o discurso de domingo, com Miki, Vicente e Stédile no meio, de braços levantados, posando para foto.
Mas as tensões no PSB de Cachoeirinha lembram muito o início de um processo que consumiu o PT de Gravataí, da ascensão à Prefeitura, em 97, passando pelos todo-poderosos anos 2000, até a queda ano passado, sem ter nenhum vereador eleito.
De perto, já que foi vice-prefeito no governo de estreia e vereador mais votado em 2000; ou de longe, já que mora há mais de uma década em Cachoeirinha, Miki viu o fogo em Gravataí, no rastro da impopularidade de Sérgio Stasinski, da inabilidade política da golpichada Rita Sanco e do pedido de música no Fantástico em impugnações de Daniel Bordignon, um Lula de difícil trato.
Se lá na frente essas histórias serão ‘cuspidas e escarradas’, ou ‘esculpidas em Carrara’, o tempo dirá. Hoje, em mármore ou não, os artistas políticos do PSB conseguiram habilmente inscrever uma chapa única, que acalma a todos.
Na elegância.
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O DIRETÓRIO
Reproduzimos a lista como tivemos acesso, na mesma ordem alfabética ordenada pelo partido. Ao lado, entre parênteses, colocamos as supostas ligações de cada um, conforme apuramos com fontes socialistas. Em caso de erro, corrigiremos.
Titulares
Airton de Souza Espíndola (Stédile/Vicente)
Clarisse Inês Endres (Stédile/Vicente)
Claudemir Fontella (Stédile/Vicente)
Cyro Calloey Filho (Miki)
Delomar Aury (Miki)
Denoir José da Silva (Miki)
Fabrício da Rocha Preto (Miki)
Gelson Braga (Miki)
Gilson Stuart (Miki)
Gisele Mross Vargas (Stédile/Vicente)
Ibaru Rodrigues Barbosa (Stédile/Vicente)
Jacqueline Camargo (independente)
João Tardeti (Stédile/Vicente)
João Glene Vargas (Stédile/Vicente)
José Barbosa Gonçalves (Stédile/Vicente)
Josué da Silva Francisco (Miki)
Juçara Maria da Silva (Miki)
Letícia da Silva Gomes (Stédile/Vicente)
Luiz Vicente Pires (Stédile/Vicente)
Marcos Antônio Marcelino Goulart (Stédile/Vicente)
Maria Gette Maciel (Stédile/Vicente)
Maria Loreny Bittencourt da Silva (Stédile/Vicente)
Paulo Ricardo Lucas (Miki)
Rosa Maria Lippert Cardoso dos Santos (Miki)
Sabrina Aparecida Dornelles (independente/Jack Ritter)
Stephanie Gonsalves da Silva (Stédile/Vicente)
Tatiana Ramos Boazao (Miki)
Tiago de Souza Barbosa (Miki)
Vanessa Giombelli (Miki)
Volmir Miki Breier (Miki)
Suplentes
Paulo Cesar da Silva Agliardi (Miki)
Flavio Cabral Silveira (Stédile/Vicente)
Pedro Nogueira Vargas (Miki)
Erika Letícia Plocharski da Silva (Miki )
Adriana Alves Stédile (Stédile/Vicente)
Neri Galvão de Matos (Stédile/Vicente)
Ildo Junior da Silva Dias (Miki)
Jorge Antônio da Silva (Stédile/Vicente)
Solange da Silva Hoffmann (Stédile/Vicente)
Edmilson do Nascimento (Miki)