maravilhas do futebol

A foto na parede

O futebol é assim: sempre será necessário recomeçar.

Ferenc Puskas, jogador húngaro

 

O futebol não passa de um esporte – eu nunca encontrei justificativa para me preocupar com obrigação de vencer.

Puskas

 

A Alemanha se especializou em contrariar a lógica do futebol.

Puskas

 

No final das contas, perdemos porque esquecemos que o jogo dura 90 minutos – levamos o que merecemos.

Puskas

 

Enfim, serei apenas um velho que adora futebol

Puskas

 

A seleção de ouro da Hungria foi, em elegância, beleza, romance, intensidade, fogo, fúria e personalidade, o maior time do mundo, “Os homens do Danúbio”, e acima de tudo estava Puskas.

Bob Ferrier, jornalista inglês, em 1960

 

A foto da seleção da Hungria está pendurada no apartamento da Mel e escritório. Mais exatamente a imagem é de 25 de novembro de 1953, quando aquele time fez 6 a 3 na Inglaterra em Wembley (depois de 3×0 sobre a Itália em Roma), a primeira derrota inglesa em seu templo sagrado, em 30 anos. Ofendidos, os goleados pediram revanche, em Budapest. Má ideia: os húngaros capricharam ainda mais e aumentaram o estrago para 7×1.

 

: Massacre histórico em Wembley, 25.11.1953: Hungria, da esquerda – Ferenc Puskas, Gyula Grosics, Gyula Lorant, Jeno Buzanszky, Nandor Hidegkuti, Mihaly Lantos, Joszef Boszik, Joszef Zakarias, Zoltan Czibor, Laszlo Budai, Sandor Kocsis  

 

Aquela maravilhosa equipe húngara era a mesma de um ano antes, campeã olímpica em Helsinque em 1952 – Grosics, Buzanszky, Lorant e Lantos; Zakarias e Boszik; Budai, Hidegkuti, Kocsis, Puskas e Czibor – e a mesma que chegou à Copa do Mundo do ano seguinte, 1954, na Suíça. Em campo, havia uma revolução tática: os húngaros tinham transformado o WM inglês – as duas letras sobrepostas formando nas suas extremidades um 3-2-2-3, ou 3-4-3 – num WW, 3-5-2, ou 3-2-3-2, no momento seguinte transformado em 3-2-5. A Hungria se defendia com eficiência, e atacava rápida e mortalmente, com Boskik organizando o meio e fazendo lançamentos, Budai e Czibor correndo da linha intermediária e atacando pelas pontas, o hábil atacante Hidegkuti recuado na organização e partindo com a bola dominada, Puskas e Kocsis matando na frente.   

Em todos os seus cinco jogos naquele mundial, a Hungria começou voando e com dez minutos já estava vencendo por 2 a 0 – inclusive na final, contra a Alemanha Ocidental, em Berna. A seleção húngara estava 48 jogos e quatro anos invicta, era campeã olímpica, tinha jogadores fantásticos e um ritmo alucinante, havia humilhado a poderosa Inglaterra inclusive em Wembley, e aos dez minutos da final em Berna parecia ser campeã do mundo. Só que jogos de futebol não terminam aos dez minutos, e os alemães fizeram três gols e viraram o resultado e realizaram o milagre de Berna e nessa avalanche sem piscar e sem respirar e sem vírgulas ganharam a Copa e fizeram a bela Hungria chorar.

Mesmo que se esteja quatro anos e 48 jogos sem perder, se tenha humilhado os ingleses em Wembley, se seja campeão olímpico, e se conte com o talentoso Ferenc Puskas “Major Galopante” como capitão, nada está garantido por antecipação, no futebol e na vida. O quadro na parede, do timaço húngaro dos sonhos, não pretende  necessariamente lembrar sempre e apenas injustiças e imperfeições, mas serve muito mais para recordar que, na vida real, uma mínima distração acompanhada de uma triste traição da sorte pode ser fatal. Que o diga o Puskas!

Pois o livro “Puskas, uma lenda do futebol”, comovente depoimento do craque e major aos jornalistas Rogan Taylor, inglês, e Klara Jamrich, húngara, edição brasileira da “Dórea Books and Art” de São Paulo em 1998, conta a sua paixão pelo  futebol desde a infância, fala de amizade e admiração, da formação daquela grande seleção (que tinha o Honved como base), seus segredos (como o pioneiro aquecimento muscular no vestiário, antes dos jogos (exatamente aquilo que já fazia a equipe começar a mil). Mas detalha também os aspectos políticos da sua época, especialmente a invasão soviética à Hungria em 1956 – com possibilidade de prisão e inclusive de pena de morte –, que transformou os jogadores húngaros e suas famílias em fugitivos, saltimbancos ciganos e até contrabandistas, e quase encerrou a carreira de companheiros e do próprio Puskas, que ficou dois anos sem licença da Fifa para jogar, refugiado com a mulher e a filha em Bordighera, na Ligúria, norte da Itália, e só voltou a campo aos 31, gordo, milagrosamente …onde? Apenas no Real Madrid (depois de três meses treinando no Inter de Milão), onde foi campeão europeu e titular da seleção da Espanha, pela qual jogou outra Copa do Mundo, só isso!   

(No livro, é contado o seu confuso e engraçado primeiro diálogo com o dono do Real, Santiago Bernabeu, um falando húngaro e o outro espanhol. “Quem olhar bem vai ver que eu estou em forma de balão”, admitiu Puskas, 1m71 de altura e quase com 90 quilos. “Isso não é problema – ou melhor, não é problema meu, é seu”, respondeu Don Santiago).

Tá bem, a vida realmente nem sempre é justa. Mas em alguns casos – persistindo e emagrecendo – também pode permitir grandes redenções. Procurem o livro do Puskas!

 

Dez vezes sem Gre-Nal

 

Até que ninguém reclamou, mas vamos lá: houve um erro na coluna anterior, onde foi informado que o clássico “Este ano não será realizado no campeonato brasileiro pela terceira vez”. O correto teria sido informar que a primeira divisão não registra Grêmio e Inter juntos em três temporadas, isso sim – 1992, 2005, 2017 –, mas essa é apenas uma parte da história . Acontece que outras sete vezes os dois times não se enfrentaram porque a disputa na primeira divisão era por chaveamento: 1980, 1981, 1982, 1983, 1984, 1986 e 1993. No total de confrontos aí foram 60 – começando pelo Robertão de 1967 –, com 18 empates, 20 vitórias do Inter e 22 do Grêmio, que também fez mais gols, 57 a 54. Aí, leitor: desculpe a falha! 

 

Pára o mundo, e tira os tubos

 

1.

Quando chegou, o técnico Guto disse que em novembro o Inter estará na primeira divisão. Pode ser, mas sem o Guto!

2.

Parece que o Inter se sente tão grande que fica constrangido em jogar na segunda. Constrangedor mesmo vai ser se ficar!

3.

Guto pediu uma semana para treinar. Ficou provado: quanto mais treina, time ruim fica pior!

 

Agenda histórica do futebol gaúcho na semana

 

2.7.2017, domingo

1950 – Segundo jogo de Copa do Mundo em Porto Alegre, Suíça 2×1 México, no Estádio dos Eucaliptos

1969 – Garrincha joga 70 minutos pelo Novo Hamburgo em amistoso no Beira-Rio contra o Inter, que ganha por 3×1

1972 – Copa Independência do Brasil no Beira-Rio: Tcheco-Eslováquia 0x0 Escócia

1997 – Inter campeão gaúcho, 1×0 contra o Grêmio no Beira-Rio, gol de Fabiano

 

3.7.2017, segunda-feira

2003 – Inter bicampeão gaúcho, 1×0 contra o 15 de Novembro de Campo Bom no Beira-Rio

2012 – por causa de reforma, jogos no Beira-Rio passam a ter público só na parte superior, com 25 mil lugares

 

4.7.2017, terça-feira

1912 –Inter oficializa pagamento de ajuda de custa para passagens de trem e estadias de jogadores: 15 mil réis por dia a residentes em Novo Hamburgo e São Leopoldo, 10 mil Canoas; fundação do Americano, de Porto Alegre, campeão gaúcho de 1928

1976 – Centroavante Dario estreia no Inter com segundo gol em 3×0 sobre Esportivo, e a renda do jogo já paga a sua contratação 

 

5.7.2017, quarta-feira

1912 – Inter realiza a sua primeira excursão ao interior gaúcho viajando a Pelotas pelo vapor “Itautuba”, com a duração de 19 horas

 

6.7.2017, quinta-feira

1972 – Copa Independência do Brasil no Beira-Rio: Argentina 1×0 Uruguai

2011 – Cerâmica de Gravataí empata em 0x0 com Avenida em Santa Cruz e se classifica para a primeira divisão gaúcha

 

7.7.2017, sexta-feira

1931 – Fundação do Internacional de São Borja

1957 – Técnico gaúcho Sylvio Pirillo lança Pelé, 16 anos, na seleção brasileira, contra Argentina, no Maracanã

1963 – Lançamento da pedra fundamental do Beira-Rio, com missa do bispo de Porto Alegre, Dom Edmundo Kuntz

 

8.7.2017, sábado

1983 – “Batalha de La Plata”, Grêmio 3×3 Estudiantes, na Argentina, pela Copa Libertadores

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