“Tá faltando um segundo para completar dois minutos”. A manifestação do prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) ontem no seminário de prestação de contas do deputado estadual Dimas Costa (PSD) permite a interpretação de que a parceria no governo de Gravataí e na interlocução com o governador Eduardo Leite (PSD) deve se confirmar em apoio eleitoral, em 2026.
“O Dimas não vai mais ser suplente. Vai conquistar o mandato. Com a ajuda dos teus companheiros e, quem sabe, com a ajuda do prefeito de Gravataí, se no teu partido estiver. O mundo dá voltas e, numa dessas voltas, nós podemos ser parceiros de partido. Tá faltando um segundo para completar dois minutos”, disse Zaffa, admitindo publicamente a possibilidade de seguir o governador na filiação ao partido do deputado (assista ao vídeo abaixo).
Dimas: do Zaffa, do Leite
Deputado suplente com 27.956 votos, o ‘embaixador’ de Leite em Gravataí assumiu mandato em outubro –– a convite do governador, que chamou para o secretariado estadual Gaúcho da Geral (PSD), e em articulação com o prefeito –– após em 2024 desistir de concorrer à Prefeitura para apoiar a reeleição conquistada com 51,3% dos votos.
– A partir do mandato do Dimas muita coisa mudou. Gravataí precisava de um representante na Assembleia Legislativa que realmente se preocupasse com o desenvolvimento da cidade, que estivesse lá no governador, lutando por recursos, obras e entregas. O sentimento, como prefeito e em nome dos meus secretários, é de agradecimento pelo trabalho – disse o prefeito, nem tanto nas entrelinhas criticando a deputada estadual Patrícia Alba (MDB), esposa do ex-prefeito Marco Alba (MDB), adversário derrotado na eleição do ano passado.
– Em pouco tempo fizemos muito – foi a mensagem de Dimas, no balanço para seus apoiadores da região metropolitana, evento que reuniu no CTG Aldeia dos Anjos lideranças de 15 municípios, incluindo três prefeitos, um deles o presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana da Grande Porto Alegre (Granpal), André Brito, 17 vereadores e sete conselheiros tutelares.
– Como diz o Zaffa, líder do nosso grupo, a hora é de governar, legislar e articular resultados para a população. Eleição, campanha, é no ano que vem – disse o deputado, em apresentação no telão citando ações como o Tudo Fácil, o posto de coleta de Sangue, a instalação de ar-condicionado nas escolas estaduais, investimentos no Hospital Dom João Becker, o compromisso de construção de uma UPA na região da Caveira, a escola modelo no Breno Garcia, e a busca por soluções para problemas estruturantes na mobilidade, como a entrada da Castello Branco, a elevada da ERS-118 e o acesso da rodovia à Av. Brasil, e resiliência climática na região, como o cinturão de diques projetado pelos governos municipal, estadual e federal.
– Eu farei em Gravataí o que determinar Zaffa, meu líder, assim como meu governador Eduardo Leite – disse Dimas.

O animal político e seu peso
Impossível, porém, não tratar o concorrido e organizadíssimo evento sob o prisma eleitoral, do ‘Animal político’, como o próprio Zaffa já descreveu Dimas; que ao falar da importância do pai, João Manoel, da mãe, Margarida, e da família em sua trajetória da periferia aos palácios, chegou a citar o irmão Dilamar Soares (Podemos), “um grande vereador” –– faço a referência, porque quem conhece a política da aldeia sabe das históricas e ‘caim-abelianas’ divergências entre os dois.
Fato é que, sob a justificativa da prestação de contas do mandato, Dimas antecipou o peso político que deve ter em sua campanha para reeleição em 26.
Além das quase duas dezenas de municípios apenas da região metropolitana – de Cachoeirinha, por exemplo, estava a presidente da Câmara Jussara Caçapava (Avante); o chefe da Casa Civil de Leite, Artur Lemos, além de mensagem da França, enviou seu principal assessor, Evandro Kondach –, a representação de Gravataí demonstra a adesão da base do governo Zaffa.
Entre os vereadores apoiadores, a esposa Anna Beatriz (PSD), Alex Peixe (PSDB), Bino Lunardi (PSDB), Marcia Becker (PSDB) e Mario Peres (PL), ex-vereadores como Jô da Farmácia (União Brasil), além de sete dos 10 conselheiros tutelares: a irmã, Deize Costa, o cunhado, Paulão Aguiar, mais Rafaela Nauane, Liége Regina da Silva, Patrícia Tupy, Elis Fernandes, Patrícia Rosa e o suplente Jeison Pereira.
Também estavam presentes os secretários Davi Severgnini (Fazenda); Laone Pinedo (Infraestrutura); Patrick Silva (Cultura), Leandro Sapão Ferreira (Assistência Social); Evandro Soares (Governança e Comunicação) e Fabio Pereira (Instituto de Saúde dos Servidores de Gravataí).


Do spoiler ao fim do filme
E, se o prefeito ainda manteve certo suspense, mesmo que com cara da spoiler, sobre o apoio em 26, a fala de Davi, número 1 de Zaffa, contou o fim do filme.
O secretário da Fazenda já há 10 anos lembrou a aproximação entre Dimas e Zaffa, “um projeto para Gravataí” –– parceria da qual foi o principal articulador na eleição de 24. O hoje deputado desistiu de candidatura a prefeito, com 17% nas pesquisas, como referiu, para apoiar a reeleição, que veio com mais de 51% dos votos válidos.
Identificando em Dimas um amigo, “leal, que firma e cumpre palavra”, Davi, que foi o coordenador político da reeleição e exerce o mesmo papel na organização do governo, disse que a lealdade terá retribuição.
– Goza da nossa reciprocidade. E ano que vem ainda mais. Recebe de nós, de mim, do grupo do secretariado que está aqui, e com certeza do prefeito Zaffalon, a nossa lealdade. Temos uma parceria que foi vitoriosa em 24 e vai ser vitoriosa em 26. Para isso nós vamos sim apoiá-lo – disse (o vídeo está acima e abaixo).
Tirem as crianças da sala
Por que a análise política sobre os movimentos de Zaffa –– e Davi, para muitos do meio político o ‘Zaffa do Zaffa’, um dos cotados para ser o sucessor em 28 –– ofusca, neste artigo, a notícia formal da prestação de contas de Dimas?
Porque o apoio do prefeito, do principal secretário e de parte do centro do governo de uma cidade como Gravataí, quarta economia do RS e com uma reeleição que aconteceu com votação de primeiro turno, empresta prestígio, atrai apoiadores políticos, sociais e empresariais, e, ao menos no imaginário de quem acompanha eleições, é fidúcia para um bom desempenho eleitoral.
Para se ter uma idéia, Zaffa, que comeu o carreteiro na mesa 1, circulava pelo evento como um popstar político, com prefeitos e vereadores de outras cidades pedindo selfie, para compartilhar a boa avaliação do governo em suas redes sociais.
Ao fim, no jargão da política, o evento de Dimas foi um ‘tirem as crianças da sala’. Não é pouca coisa o que demonstrou o ‘animal político’. Sabe Dimas que enfrenta em 26 adversários de peso e/ou potencial.
Não só na oposição, como Marco Alba, mas dentro do governo, como o vice-prefeito Dr. Levi Melo (Podemos), que se apresenta como candidato a deputado em 26 e a prefeito em 28.
Inegável é que, para quem olha de longe, o natural seria Zaffa apoiar Levi. Não é, porém, o que se desenha. Ao menos a um segundo para dois minutos.