Jean Harlow chamava-se na verdade Harlean Harlow Carpenter, e nasceu em 03 de março de 1911, na cidade do Kansas, Missouri. Seu pai era dentista e sua mãe Jean Poe Carpenter era herdeira de uma família muito rica.
: A pequena Jean Harlow
Apelidada de bebê ("baby"), ela sempre foi muito ligada a mãe, que era extremamente protetora. Sua genitora sempre sonhara em ser atriz e em 1923 deixou o marido e partiu com a filha para Hollywood para tentar realizar seu sonho. Mas ouviu dos produtores que aos 34 anos já estava muito velha para começar a carreira no cinema. Jean Poe então projetou seus sonhos na filha, colocando a menina em uma escola de Hollywood para garotas, onde começou a ter aulas para tornar-se atriz. Mas em 1925 o avô da futura estrela ordenou que elas voltassem ao Kansas, senão iria deserdá-las.
Semanas depois de retornarem, seu avô enviou a jovem para um acampamento de férias, onde ela contraiu escarlatina, o que afetaria a sua saúde para sempre.
: Harlow e a mãe
Aos 16 anos Harlean fugiu de casa para se casar com um empresário chamado Charles McGrew. Dois meses depois de casados, McGrew recebeu uma enorme herança e sua esposa tornou-se uma rica socialite de Beverly Hills. Eles se separaram em 1929, e ela ficou com boa parte do dinheiro do ex-marido. Neste mesmo ano ela deu carona para amiga Rosalie Roy até um estúdio, onde ela gravaria uma participação em um filme. Harlean ficou esperando Rosalie, para levá-la para casa. Um executivo a viu e a convidou para fazer um teste de elenco, mas ela recusou.
Quando soube que a filha recusará o convite para trabalhar no cinema Jean Poe ficou brava e pressionou-a para fazer o teste. Rosalie Roy também apostou que a amiga não teria coragem de fazê-lo, e para agradar a mãe e não perder a aposta ela acabou indo. Após recusar muitos convites, ela cedeu a pressão da mãe, e aceitou fazer figuração no filme A Caminho da Honra (Honor Bound, 1928), pelo qual ela nem foi paga.
Em sua estréia no cinema adotou o nome da mãe como nome artístico, para agradá-la com seu nome escrito nos créditos dos filmes.
: Rosalie Roy
Rebatizada de Jean Harlow, seguiu atuando em pequenos papéis sem muita importância. Em 1928 assinou contrato com Hal Hoach para atuar em suas comédias, ganhando U$ 100,00 dólares por semana.
: Jean Harlow e a dupla O Gordo e o Magro no filme Alegria em Dobro (Double Whoopee, 1929)
Em 1929 ela chamou a atenção do ator James Hall, que estava atuando em Anjos do Inferno (Hells Angels, 1930) do produtor Howard Hughes. Hughes havia feito o filme ainda mudo, mas estava refilmando a obra para transformá-lo em um filme falado. A atriz original Greta Nissen era norueguesa e ele procurava outra atriz para protagonizar sua super produção, devido ao forte sotaque de Greta.
: James Hall, Jean Harlow e Ben Lyon em Anjos do Inferno
Hughes fez de Harlow uma estrela internacional, mas não teve interesse em manter-la para novos projetos, e vendeu seu contrato para a MGM, onde sua carreira deslanchou. Harlow foi a primeira loira platinada dos cinemas. Para obter a cor de seu cabelo utilizava uma mistura nada saudável de água oxigenada, amônia e sabão em pó. A descoloração contínua fez ela perder muito cabelo, tendo que recorrer a perucas em diversos filmes.
Sua aparição em Loura e Sedutora (Platinum Blonde, 1931) a consolidou como sex symbol da América. No ano seguinte atuou em Terra de Paixão (Red Dust, 1932), o primeiro dos seis filmes que faria com Clark Gable. Em 1932 ela casou-se com o produtor Paul Bern, assistente de Irving Thalberg. A loira não era só um dos maiores símbolos sexuais da época, mas tinha um apetite sexual compatível com sua fama. Mas Bern era impotente, o que tornou a relação dos dois muito conturbada. Ele a agredia constantemente, e ela o traía para se vingar se satisfazer. Dizem seus biógrafos que a atriz saía a noite disfarçada com uma peruca negra em busca de parceiros sexuais casuais, e que um deles teria dito para ela tentar a sorte em Hollywood, fazendo imitações da atriz Jean Harlow, com quem ele a achava parecida.
: Harlow e Paul Bern
Após poucas semanas de casados, a situação chegou ao extremo quando um dia ela filmava no estúdio e Bern trancou-se em seu escritório no mesmo prédio, e se matou com um revólver calibre 38, encharcado com o perfume favorito da esposa. Ele também deixou um bilhete, onde dizia:
"Querida,
infelizmente essa é a única maneira de
superar o terrível erro que fiz, e acabei
com minha humilhação abjeta. Eu te amo!
Paulo
Você entendeu ontem à noite que era
apenas uma comédia"
Harlow gravava justamente Terra de Paixões quando seu marido cometeu suicídio. Louis B. Mayer, o chefão da MGM, deixou a atriz Tallulah Bankhead preparada para substituir Jean caso ela abandonasse as filmagens se fosse incapaz de continuar. Mas ela terminou o filme, e toda a publicidade do caso fez dele um enorme sucesso.
: Clark Gable e Jean Harlow, uma das duplas de maior sucesso do cinema
Apesar do escândalo, a atriz voltaria a se casar no ano seguinte, com o diretor Harold Rosson, mas se divorciaram apenas oito meses depois. Após o divórcio, começou a namorar o ator William Powell, no ano de 1937.
Nesta mesma época começou a filmar Saratoga (Idem, 1937) com Clark Gable, seu galã habitual. Durante as filmagens, começou a sofrer constantemente de fadiga, e a produção foi interrompida por duas semanas para que Jean Harlow descansasse, após sofrer um colapso nos sets de filmagem. A produção já havia tido seu começo atrasado devido a uma internação da atriz por uma infecção após arrancar alguns dentes (para afinar a "maçã" do rosto).
Jean Harlow reclamava de náuseas, fadiga, dor no estômago e sudorese. Ficou vários dias de cama, acreditando sofrer de gripe. Sua mãe se recusava a chamar um médico ou dar-lhe medicamentos, pois sua religião não permitia, e a própria Jean concordava com isto. Mas a situação se agravou tanto, que no dia 06 de junho Louis B. Mayer e William Powell internaram a atriz a força. Mas já era tarde demais, ela entrou em coma e faleceu no dia seguinte de insuficiência renal, com apenas 26 anos.
Seu atestado de óbito diz que sua morte foi devido a uma aguda infecção respiratória, uremia e nefrite aguda. Ela sofria de problemas renais desde os tempos que teve escarlatina (mal tratada) e ainda tinha problemas alimentares, devido severos regimes que fazia constantemente para manter o peso. Após sua morte Gable disse que sentia-se contracenando com um fantasma pálido quando fez as últimas cenas com a atriz.
Para não perder o material filmado, o filme estava quase pronto, e nem a publicidade gerada com sua morte, a MGM contratou a atriz Mary Dees para filmar as cenas restantes, substituindo Harlow no filme. Saratoga foi o maior sucesso de bilheteria da carreira da trágica atriz.
Jean Harlow foi o grande ídolo da atriz Marylin Monroe, que se inspirou nela para fazer sua imagem e carreira. Curiosamente Clark Gable foi o último galã a atuar com ambas as estrelas, antes de suas mortes precoces.
Veja o trailer de Saratoga
LEIA TAMBÉM
Esses Populares Tão Desconhecidos (III) – Mary Dees, a substituta de Jean Harlow
Atrizes que interpretaram Jean Harlow no cinema
Diego Nunes é gaúcho, formado em Rádio e TV pela Universidade Metodista de São Paulo, é pesquisador da memória cultural e artística, e sua paixão é o cinema. Além disso, atua como diretor cultural da Pró-TV, Museu da TV Brasileira, e no departamento de arquivo da Rede Record de Televisão.
Acompanhe-o pelo Memória Cinematográfica.