Conversa vai, conversa vem e de repente sinto dois toques no ombro. Eu me viro e, antes de um cumprimento, a pergunta: Afinal, tu realmente vê tantas diferenças entre o tal Mundo do Trabalho e a Vida Real? Assim que recebi a mensagem, ali, ao vivo, fui açoitado, em um milionésimo de segundo, por um milhão de pensamentos. O cérebro é prodigioso em rodopios de ideias, principalmente quando é tomado por uma satisfação vaidosa, provocada em mim, neste caso, por saber que a coluna desperta este tipo de interesse em quem a lê. E esticando a conversa aqui, lanço outra pergunta: Ora, não é evidente que há diferenças? Tanto quanto semelhanças! Todos nos portamos e agimos de forma distinta em muitos ambientes e quando inseridos em determinados grupos sociais. Aliás, o entendimento total de quem realmente somos e do que buscamos, geralmente, resulta incompleto, mesmo lá no fim da caminhada pela vida. Somos múltiplos e uma eterna construção.
Filosofias a parte, ter clareza dessa incompletude já ajuda a reduzir o estresse de ter que acertar sempre e podemos creditar isso à mentalidade trazida pela cultura da Internet e ao comportamento das gerações digitais. Mas é importante ver que não apenas cores diferentes pintam o quadro do cotidiano. Há muitos tons assemelhados e sobrepostos. Afinal, as narrativas distintas entre o Mundo do Trabalho e a Vida Real tem o mesmíssimo personagem, que se desdobra entre um e outro universo, sem cinismo, mas se adaptando ao que aprende, vê e vive, em cada lugar. Somos nós, no melhor que podemos fazer todos os dias.
Agora, pesam sim muitas diferenças. Conheço um cara que daria a unha do dedo mindinho para trabalhar todo dia de bombacha e alpargata. O problema é que, no Mundo do Trabalho, atender contas milionárias de um grande banco ainda não combina muito com esse código de vestimenta. Por isso, dá-lhe terno e gravata e deixa o estilo campeiro pra mateada do final de semana.
E assim a gente segue entre dúvidas e vontades, entre a pontualidade de segunda a sexta e a horinha a mais de sono no sábado de manhã. Feliz da vida, nos mundos que temos que viver, enquanto estamos vivendo.
De volta ao mundo daqui
– Já mudou o título para Gravataí?
– Sim, será a primeira vez que poderei escolher os políticos daqui.
– Nossa, isso te anima tanto?
– Na verdade não. Só agora me ouvi dizendo isso em voz alta. Pior que não.