A greve dos ônibus metropolitano, que começaria nesta terça-feira, foi adiada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários Intermunicipais da Região Metropolitana (Sindimetropolitano), após a categoria aceitar acordo firmado junto ao Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio Grande do Sul (Setergs) e ao Governo do Estado, na tarde desta segunda, no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, com participação do Ministério Público do Trabalho.
“Não foi unânime, mas a maioria dos presentes decidiu pela suspensão até sexta, esperando maiores avanços na mediação”, informaram os rodoviários ao desembargador Ricardo Hofmeister de Almeida Martins Costa em comunicado após assembleia ocorrida há pouco.
O estado de greve segue mantido, conforme o presidente do Sindimetropolitano, Mauro da Silva Santos. Uma nova audiência de mediação foi marcada para o dia 12.
A paralisação ameaçava cerca de 3,5 milhões de pessoas que dependem do transporte intermunicipal em Gravataí, Cachoeirinha, Glorinha, Viamão, Canoas, Alvorada e Nova Santa Rita.
Conforme o Seguinte: apurou, o sindicato patronal, representado pelo diretor da Sogil Fabiano Rocha Izabel, prometeu liquidar até o final desta semana os 40% dos salários que ficaram faltando na última sexta, além de garantir 70% do vale-alimentação no dia 10. O saldo restante teria que ser renegociado.
Já o governo Ranolfo Vieira Jr., por meio do secretário de Gestão, Agostinho Neto, se comprometeu a enviar ainda hoje para a Assembleia Legislativa projetos em regime de urgência, um antecipando o passe livre estudantil, o que significaria R$ 18 milhões, outro redistribuindo recurso do governo federal, além de um terceiro, ainda não detalhado, liberando subsídio estadual para as operadoras.
Com um buraco de R$ 10 milhões mensais, o sistema de transporte coletivo da região metropolitana precisa de cerca de R$ 120 milhões em subsídios do governo estadual para congelar as tarifas por 12 meses; e evitar que subam 19.3% – que é o cálculo de reajuste definido pela Metroplan para a revisão tarifária que deveria ter acontecido em 1º de julho, mas só foi apresentada sexta ao Conselho Estadual do Transporte Metropolitano (CETM).
Para efeitos de comparação, a passagem de um Sogil entre Gravataí e Porto Alegre poderia chegar a R$ 12.
– Como escreveste em teu artigo, o alerta está sendo feito há muito tempo. Se não houver subsídio, a conta será toda paga pelo usuário – disse ao Seguinte: Fabiano Rocha Izabel, ao sair da reunião, referindo-se ao artigo Ameaça de greve dos ônibus intermunicipais escancara desleixo do governo estadual com transporte coletivo; Candidatos não vão tratar disso? É o gari quem paga, publicado nesta segunda.
O subsídio de R$ 90 milhões do governo estadual, liberado em dezembro, sustentou o sistema até janeiro deste ano, conforme o executivo.
– A própria justificativa do projeto reconhecia o desequilíbrio do sistema. Abrimos conversas com o governo, que entendia que não poderia repassar a tarifa ao usuário, mas a crise do petróleo com a guerra na Ucrânia criou um descompasso, uma emergência. O diesel está mais caro que gasolina na bomba, algo inédito no Brasil. O insumo que representava 18%, hoje representa 36%. Soma-se a isso o aumento da folha, com o dissídio. A conta estourou. Não há fluxo de caixa – alerta Fabiano, apelando:
– O governo precisa assumir seu papel social e subsidiar esse serviço reconhecido como essencial pela Constituição Federal. Não vejo como o usuário custear um reajuste de 20%. É preciso alguma fonte extra. Ou o sistema vai parar.
O diretor da Sogil usa o exemplo de Gravataí, que entre 2020 e 2022 aporta um subsídio de R$ 8 milhões ao transporte coletivo municipal.
– Houve redução de tarifa, os salários estão em dia e o sistema está se reequilibrando. Não fosse o subsídio, teríamos o mesmo problema nas linhas municipais, porque os insumos e salários são os mesmos. Não se trata de ‘dar dinheiro’ para as empresas. Quem paga a conta da tarifa alta é o usuário e o empregador. O que não acontece hoje em Gravataí – compara.
Ao fim, concluo da mesma forma que o artigo desta manhã: apanho bastante no Grande Tribunal das Redes Sociais por apontar a necessidade da ‘institucionalização’ do subsídio, municipal, estadual e federal. É impopular, mas inevitável – como sempre descrevo; e por isso sempre chamei a crise no transporte coletivo de ‘pauta-bomba da Sogil’, para o leitor de Gravataí entender do que se trata.
Fato é que não apareceu ainda alternativa para manter tarifas pagáveis na crise que vive o transporte coletivo desde a ‘tempestade perfeita’, que começa com a chegada dos aplicativos, explode na tragédia da pandemia e é piorada por combustíveis 65% mais caros em 12 meses.
E quem paga, e precisa do serviço, é o pobre, que não tem a escolha de ir para o trabalho de carro próprio ou uber.
Se em um ônibus tem um juiz aposentado, um estudante e um gari, é este quem paga. E é este mesmo gari que vai precisar do ônibus que pode, um dia, não chegar na parada.
O atual governador e os candidatos ao Palácio Piratini tem obrigação de tratar dessa pauta nas eleições deste ano.
Equilibrar o sistema é a urgência. Mas há de se remodelar todo o transporte coletivo. A começar por licitações por décadas atrasadas.