No hospital, parentes e amigos estão tristes ao ver o paciente sofrendo, semiconsciente, com os olhos fechados. Ao sentir a presença de alguém abre os olhos, pois apesar de estar semiconsciente ele ainda tem o sentido da audição, mesmo que o da visão ele não os tenha mais, e estes olhos, apesar de mortos, derramam uma lágrima derradeira, pressentindo o fim.
Os entes queridos falam palavras carinhosas. A mulher amada demonstra em um só momento tudo aquilo que não havia demonstrado em todos aqueles últimos anos, quando a rotina e a monotonia tornou seu casamento uma simples convivência, não o amor. O amor continuou, mas a falta de tempo transformara aquele lar em um espaço para dormirem e descansarem, já que os dois trabalhavam de domingo a domingo para darem um estudo de qualidade para que seus três filhos tivessem um futuro
brilhante.
E, agora, ali, estava ele com uma doença terrível que lhe corroía o cérebro, levando lentamente sua vida e suas esperanças. Esperanças, pois o sonho já havia realizado, que era adquirir um património suficiente para garantir o futuro de seus queridos e amados filhos, se aposentar e recuperar o tempo perdido junto com sua amada e guerreira companheira, que de braços dados havia lutado junto com ele para conseguirem realizar os sonhos e as esperanças dos quais ele não mais participará em breve.
Os entes queridos tem esperança na sua cura mas ele sabe que não voltará para casa e que ali é seu ponto de partida para o mundo da espiritualidade. Os seus entes olham com esperança quando a equipe
médica chega, mas seus olhares logo se entristeceram ao verem o semblante dos médicos ao perguntarem se havia esperança e ouvirem o terrível diagnóstico: “não há mais o que fazer, sentimos muito, mas todo o esforço já foi feito para salvá-lo”.
Ele olhou para todos pela última vez, uma última lágrima rolou pelo seu rosto e ele partiu.
“Ele já sabia”.
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